CAPÍTULO ÚNICO

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Nota: Mais informações podem ser retiradas dos vídeos no meu canal do YouTube. A playlist dos vídeos se chama "AU Xiu Ya! Cale Henituse — TCF & SVSSS".

Cale havia perdido as contas de quanto tempo se passou.

Ano após ano. 

Década após década.

Morte após morte.

A partir do momento em que foi selado nesta espada, ele sabia que era o fim.

O Deus do Desespero era um filho da puta vingativo.

No último momento, quando todos se distraíram com a vitória eminente, o desgraçado o arrastou para o mesmo destino. 

A única misericórdia que Cale recebeu foi não permanecer selado no mesmo local que o bastardo.

Seu corpo e espírito foram atraídos para a única espada no local, dado pelo Deus do Equilíbrio. O corpo da espada era elegante, seu cabo delicadamente talhado e sua lâmina mortalmente afiada. Não pesava muito, leve para o manuseio de um corpo esguio e um estilo de espada refinado.

Sendo selado naquela espada, como foi dito pelo Deus do Equilíbrio, Cale soube que era o fim. No entanto, sua família e amigos não sabiam disso.

Com o decorrer dos anos, com um tempo que nunca para, ele viu cada um de seus companheiros darem seu último suspiro até restarem apenas Choi Han e seu filho.

Ah, Raon...

O pequeno dragão já não era mais tão pequeno. Seu filho já não era mais tão sorridente. Com um rosto jovem, que desmentia sua idade, Raon se isolava do mundo e continuava sua pesquisa. Nunca tendo desistido de ajudar seu humano.

Seu pai.

Raon Miru. O atual Lord Dragão. O último Lord Dragão, viu um dos últimos que restava de sua família finalmente partir. 

Forte Choi Han havia ido embora com um sorriso encorajador e uma preocupação que ficou eternamente marcava em seu rosto. 

Agora Raon estava sozinho. Mas estava tudo bem.

Ele estava bem.

Quem disse que o grande e poderoso Raon Miru estava sozinho?

Ainda havia seu humano com ele. Ele só precisava ajudá-lo. Não descansaria até libertar seu pai.

O dragão negro viajou mais fundo no continente oriental, passando por Jianghu com seu estranho fluxo de energia até o reino recluso, entre as altas montanhas, com sua fauna e flora instigante.

Os humanos ali lembravam Raon de Choi Han, trazendo uma sensação de nostalgia em seu ser. No entanto, não foi por isso que ele estava aqui. 

Aparentemente, alguns homens parecem ter um conhecimento incomum sobre armas espirituais. Essas armas são criadas de modo semelhante ao que aconteceu com Cale, atraindo Raon para pesquisar mais a fundo sobre elas.

As almas utilizados para as armas espirituais são de ancestrais de determinadas famílias que não desejavam partir para a reencarnação, tentando buscar uma última chance para romper o gargalo em seus cultivos e proteger seus sucessores em seus caminhos.

Essas famílias chamavam a si mesmas de Clã, algumas famílias optando por mudar o termo para Seita com o decorrer do tempo que Raon se mantinha por lá. Uma dessas famílias ajudou muito o último Lord Dragão, conseguindo ajudá-lo a pelo menos dar um ponta pé em sua pesquisa.

Ao leste, aninhada sobre uma montanha, a Seita Cang Qiong foi um último lar para o Lord Dragão e seu local de descanso. Também foi o lugar que viu, depois de tantos anos, seu pai pela última vez. 

Foi uma última conversa curta, uma visita rápida, mas Raon ficou grato por ver seu humano novamente. 

Graças a brecha que conseguiu com a ajuda dos cultivadores, ele libertou parcialmente a alma de seu pai. E ele esperava que You Qingshen continuasse com as pesquisas até o fim, mesmo depois de sua morte.

Ele confiaria uma última vez nesse seu forte humano fraco.

Um homem que chegou a amar tarde demais. Se ele fosse mais jovem, talvez pudesse ficar com ele até sua ascensão, mas era algo impossível.

Em setembro, o Último Lord Dragão retornou a terra, voltando a ser um só com a natureza que tanto lembrava seu humano fraco. Natureza que o consolou em seus momentos de solidão, assim como seu pai dava tapinhas em sua cabeça quando pequeno.

Quando ele ainda estava lá. Uma presença quente e sólida, livre para ser como quiser.

You Qingshen manteve sua promessa. Cale observou o homem de perto, notando sempre seu olhar vidrado para ele, como se visse mais do que uma espada.

Cale sabia em quem ele pensava. You Qingshen não era o mesmo desde que Raon se foi.

Mesmo não sendo casados, mesmo que nem mesmo um relacionamento tivesse sido estabelecido, You Qingshen manteve um luto contínuo.

Suas vestes simples e brancas, que foram usadas até o momento de ascensão, teve uma marca permanente no uniforme usado em cada um dos doze picos estabelecidos, assim como o preto.

O Pico Qiong Ding foi o mais marcado por You Qingshen. Sendo da primeira geração, o sistema de cores do pico foi escolhido por ele e então os vários tons de azul se tornou a cor de Qiong Ding. 

O azul mais vibrante, como os olhos de Raon, pertencia ao fundador e Líder da Seita da Montanha Cang Qiong, You Qingshen.

Assim que a primeira geração da Seita ascendeu, passando a tarefa de pesquisa para a atual geração Qing, Cale perdeu a noção do que era o tempo. 

Fechando-se para tudo, entorpecendo seus escassos sentidos, Cale sentiu-se afundar em si mesmo e ressoar com a energia abundante que saturava o ar da montanha.

Quando voltou a si, foi para a chuva de raios que caiu sobre o seu corpo de espada, atordoando-o. Raio após raio não lhe deu tempo para focar nos gritos ao redor, muito menos na sala em que estava. 

Ele apenas se concentrou, usando a mesma energia caloroso que o embalou em um sono profundo para revestir seu corpo, suportando o impacto dos raios.

Quando o nono e último raio caiu, Cale permaneceu alerta por um bom tempo. O teto da sala em que estava havia desabado totalmente e ele residia agora dentro de uma cratera.

Parecia que ele não estava mais no Salão Ancestral junto a tabuleta de You Qingshen e seu filho, mas em um Salão de Armas — se as presenças e sentimentos dos espíritos das armas, emitindo sinais de alerta e perigo, fossem algum indicativo.

Cale não se importou com eles, apenas consciente das consequências da chuva de raios. Seu selo agora era tão frágil quanto a casca de um ovo, apenas um empurrão e ele estaria livre para ir e vir como quiser.

No entanto...

O que ele faria? 

Se desvincular da espada não tinha mais sentido. Não havia nada para ele lá fora, apenas uma terra desconhecida. Pessoas que ele nem mesmo conhece, muito menos se importa.

O mundo já não era mais para ele.

Com esse último pensamento, Cale voltou a se concentrar no abraço quente de seu núcleo. Sem se importar com o aumento em seu cultivo involuntário, ele adormeceu.

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