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M' MADALENA

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M' MADALENA.

Apertei a alça da minha mala com força, respirando fundo e afastando as lágrimas que ameaçavam molhar meu rosto. Forcei-me a acreditar que aquilo era um novo recomeço, longe das pessoas que eu não sabia que podia chamar de família já que não era mais bem-vinda; uma garotinha sendo apenas um incômodo na vida de seu próprio pai.

Balancei a cabeça em busca de novos pensamentos, de que essa nova vida seria bom para mim, que tudo agora seria melhor. Mas eu estava longe de acreditar em minhas próprias mentiras, meu desejo era desmoronar e chorar até meus olhos incharem, eu queria ser forte o suficiente para suportar o peso que crescia em meu peito, os pensamentos destrutivos, as crises de ansiedade e tudo que me rondava desde que minha mãe veio a óbito.

Morei com meu pai desde os meu quinze anos de idade, até semana passada eu ainda tive que suportar o mesmo e minha madrasta me lembrar o quanto eu era insuficiente e não era ninguém e que nunca seria. Eu apenas os ignorava, dando uma resposta sarcástica fingindo não dar o mínimo para o que falavam da minha pessoa, mas no fundo eu me importava e me destruía cada palavra destilada de ódio vindo de suas bocas.

Uma semana atrás, após mais uma discussão nossa, decidi que iria tomar uma decisão e faria o mais rápido possível. Então, telefonei minha melhor amiga, avisando que precisaria urgente de um apartamento para morar ou iria enlouquecer, que não era mentira. Eu estava à beira de um colapso e aquilo me fazia pensar se não deveria ter ido quando minha mãe se foi, uma adolescente não deveria passar por tanta coisa assim. Sei que é comum, faz parte do luto, a depressão, a necessidade de se drogar para esquecer o mundo lá fora mas, creio eu, que não seja normal você ser tratada como um animal dentro da sua própria casa e por sua própria família.

Cresci ouvindo que família era tudo que tínhamos em nossa vida, que eram as únicas pessoas que apoiariam verdadeiramente suas decisões independente de quais fossem. Mas aprendi na marra que não era verdade.

Segurei mais forte minha mala e caminhei até a recepção do apartamento em que Kim morava. As pessoas que conversavam uma com as outras no local me seguiam com o olhar até que eu entre no elevador e a porta feche automaticamente. Respirei fundo mais uma vez acalmando minhas mãos que tremiam e suavam descontroladamente.

Não sabia bem o motivo de estar tão nervosa, mas entendia que essa mudança de sair da minha antiga casa era nova, coisas novas me deixavam nervosa e ansiosa. Nunca sai da minha zona de conforto, e a a mudança repentina para a casa de Kim talvez me fizesse pensar demais. Uma novas fase, uma nova chance de ser tudo diferente, acreditei.

Não contei a Kim sobre meu trabalho, a fonte de renda que vai nos ajudar a manter o aluguel e as compras do mês, ela não precisava saber a forma suja que eu conseguia me manter. Sabia que ela era minha melhor amiga e que talvez não se importaria tanto, mas eu ainda queria manter essa visão para Kim, que eu era apenas uma garota amargurada que se mantinha com o dinheiro que minha mãe me deixou.

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⏰ Last updated: Sep 24 ⏰

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