Quando decidimos nos juntar aos milhares de soldados que marcham para defender o nosso país, nos pedem para escrever uma carta de despedida para as pessoas que amamos...
Essa é a minha carta.
Quando decidimos nos juntar aos milhares de soldados que marcham para defender o nosso país, nos pedem para escrever uma carta de despedida para as pessoas que amamos. Essa carta fica guardada até o nosso regresso, quando ela volta para as nossas mãos. Se morrermos, ela é entregue ao seu destinatário.
Quando me alistei a primeira vez, aos dezoito anos, não havia alguém para endereçar tal carta. Bem, pelo menos não alguém que eu considerasse importante o suficiente para receber meu último adeus.
Eu poderia deixar para o meu irmão, Christopher, e dizer a ele o quanto foi importante tê-lo como irmão mais velho. No entanto, a última vez que havíamos nos visto foi quando ele decidiu ir embora de casa, aos dezessete anos, e se casar com sua namorada grávida.
Lembro dos gritos dele e do nosso pai. Lembro das palavras jogadas para causar dor. Lembro dele pendurando sua mochila surrada nos ombros, dizendo adeus e batendo a porta. Mas do que eu mais lembro é da vontade que eu tive de correr atrás dele e implorar para que ficasse. Do medo que senti quando o senhor August me encarou cheio de ódio e a dor da surra que levei naquele dia, mesmo sem ter dado um motivo.
Eu cresci convivendo com as sequelas que a guerra deixou no nosso coroa. As mesmas sequelas que fizeram a nossa mãe morrer de tristeza. O vi se destruir pouco a pouco, consumido pelo vício da bebida. E senti todos os dias a dor de suas mágoas.
Ser o saco de pancadas do meu pai só alimentou o meu ódio, dia após dia. Quando ele morreu, pouco depois do meu aniversário de dezoito anos, eu olhei em volta e percebi que não havia mais nada. Nada a se perder ou a se ganhar. Então, decidi seguir o seu legado e entrei para as forças armadas.
Passei uma hora segurando o papel e a caneta sem saber o que escrever, acabei guardando a folha em branco no envelope.
Hoje, uma hora não é suficiente para preencher todas essas linhas, e não há linhas suficientes para tudo o que eu preciso dizer. Sei que você sabe o que está escrito aqui, é a nossa história de amor, mas queria que soubesse a minha versão dos fatos.
Porque você me mostrou a luz. Você me ensinou o que é ser amado. Você é o motivo para eu rezar a Deus pedindo proteção, para que possa cumprir todas as promessas que fiz. A de voltar para você. A de te amar até a minha última respiração e até depois disso. A de te dar um lar alegre e a família grande que você sempre quis. A de ser o seu último boa noite e o seu primeiro bom dia.
Realmente espero que você nunca leia essas palavras. Espero poder falar cada uma delas pessoalmente, mas, caso isso não aconteça, eu preciso que você saiba que eu te amei incondicionalmente.
Eu amei cada detalhe seu, começando pelo sorriso de menina gentil e como franze o nariz sempre que fica com vergonha. A maneira como seus cachos castanhos dourados se misturam com o vento e sua voz fica suave quando tenta acalmar alguém. Seu cheiro doce de morango e o formato delicado dos seus lábios. Seu toque carinhoso e até as bochechas vermelhas quando fica brava. Eu amei a suas falhas e as suas perfeições. Eu amei cada segundo do nosso tempo juntos, mesmo sendo tão pouco. Eu amei como as coisas aconteceram rápido e você não se importou com o que os outros diziam. Amei te provar que você se apaixonaria por mim. Amei cantar para você todos os dias. Amei ser seu e te fazer minha.
Eu te amei à primeira vista...
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