Encontros e ressacas

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Hoje faz exatamente dois anos do dia em que eu te conheci.

Lembrar esse dia me faz pensar em como duas pessoas que vivem um mesmo momento podem ter percepções completamente diferentes sobre esse evento. Certa vez, em meio a uma conversa, você mencionou o dia em que te conheci e eu percebi que para você esse dia foi só mais um dia de ressaca pós festa.
E naquele instante eu quis te contar sobre como esse dia foi para mim.

Eu nunca esqueceria aquele primeiro de outubro, ficou marcado de tal forma que se fechar meus olhos consigo me lembrar da voz do Lipe me dizendo que a energia do laboratório de anatomia estava muito pesada pela quantidade de gente desesperada estudando para as primeiras provas do período.
Segundo ele, essa era a verdadeira justificativa para que nós não conseguíssemos nos concentrar no que Liz tentava nos explicar, disse que deveríamos sair de lá para tomar um ar longe de toda aquela negatividade. Não que ele precisasse de muito para nos convencer a dar uma pausa nos estudos.
Márcio, por exemplo, já estava com seu maço de cigarros em mãos, doido para ver gente diferente pelos corredores. Antes mesmo que nosso amigo pudesse terminar seu discurso, ele puxou Liz pelos ombros e praticamente a arrastou para fora dizendo que todos precisávamos de um tempo longe de todos aqueles papeis.
Fiquei para trás escutando as teorias de Lipe enquanto caminhávamos lentamente.

Chegando do lado de fora do laboratório, podemos ver Liz e Márcio, com seu cigarro já aceso, conversando animadamente com um grupo de pessoas que eu não conseguia reconhecer, fomos nos aproximando e tentei prestar mais atenção nas pessoas a minha frente. Então eu te vi.
Encostado em uma pilastra fumando um cigarro, aparentemente alheio ao assunto de seus amigos. Você vestia uma calça jeans puída, uma blusa branca meio amarrotada e seus cabelos estavam em um topete meio desalinhado, lembro de muitos detalhes sobre você naquele dia.

Lembro de uma menina loira te abraçando e contando para Márcio que vocês tinham acabado de voltar de uma festa, ela estava claramente bebada ainda, rindo muito. Enquanto você se mantinha em silencio, olhando dentro dos meus olhos de forma tão intensa.
Eu realmente me lembro de muitas coisas naquele dia, mas principalmente dos seus olhos, aquele tom de verde profundo que me fez perder a respiração por alguns segundos e me fez sentir extremamente atraída para você.
Não sei explicar, mas no momento em que nossos olhares se cruzaram eu comecei a acreditar em todo aquele papo de energias que meu amigo sempre dizia.
Me senti puxada na sua direção.

Lipe logo percebeu que algo estava errado comigo, cumprimentou brevemente os seus colegas e saiu me puxando de lá com alguma desculpa esfarrapada quem não consigo me lembrar agora.

- O que acabou de acontecer ali, Maya? - perguntou meu amigo curioso

- Do que você tá falando? - respondi tentando me fazer de desentendida

- Você sabe do que eu tô falando, responde logo

- Eu não sei o que te dizer - respondi honestamente

- Gostou dele? - insistiu meu amigo

- Na verdade não, foi algo mais estranho que isso. Eu... eu me senti atraída pelo olhar dele. - falei um pouco confusa e continuei - foi como se eu conhecesse ele de algum lugar, não sei explicar

Lipe não respondeu nada, só fez uma expressão enigmática e foi fazer nosso pedido, me deixando sozinha com a sensação mais estranha que já senti na minha vida.

Tentei tirar esses pensamentos confusos da minha cabeça.
Afinal, eu estava há uns meses na faculdade e nunca tinha te visto antes daquele estranho momento, então tentei me convencer que não veria mais o menino misterioso.
Mas nem eu acreditava em minhas palavras, de alguma forma, eu sabia que aquela não seria, nem de longe, a ultima vez que te veria.

Tudo  que eu nunca disse sobre nós Onde histórias criam vida. Descubra agora