Entre luzes e a escuridão

Capítulo 2: Caminho Estreito.

   Meu coração batia forte, eu reconhecia aquele lugar, era o mesmo do meu sonho, isso significa que aquele "anjo" também está aqui. Mas diferentemente do sonho, Shin e Helena estavam aqui, eles acenaram para mim.

-Yan! Bem-vindo! Você tá bem?- Gritou Shin de longe. Eu acenei com a cabeça indicando sim, estava com as pernas tremendo e minhas mãos suando tanto que pingavam. Quando finalmente se aproximaram, com meus olhos arregalados, eu o agarrei pelo casaco e perguntei:

-Onde eu tô maluco?! Como você me trouxe aqui?!- Shin me deu um dos sorrisos mais honestos desta vida, e Helena que estava ao seu lado, estava com os olhos brilhantes, parecia dois ovos sendo estralados na frigideira...Shin respondeu:

-Você!- Exclamou ele apontando o dedo pra mim- Está no Caminho Estreito!!!- Não precisava berrar também né?! E isso não explica nada! Helena prosseguiu no que Shin estava dizendo:

- Escuta Yan, o Caminho Estreito é onde todos nós encontramos quando queremos aceitar Jesus ou nos reconciliamos, você parou bem aqui, no ponto  de descanso, " Vinde a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados" e agora que você já descarregou todos os seus problemas se reconciliando com ele, tudo vai ficar bem.- eu escutava atentamente, mas havia uma objeção que tinha de fazer:

- Helena...- eu me aproximei mais dela, ela ficou um pouquinho corada- Você diz que vai ficar tudo bem, mas não é isso que Jesus nos promete, sei que sabe disso, tome cuidado por favor- Uma pressão forte recai sobre meus ombros, tentei avisar Helena e Shin, mas de repente eu fui engolido por uma massa negra e tudo o que ouvi foi um "Yan!" Por parte de Helena, tudo o que eu via era um limbo vazio e escuro. Senti um toque leve nas minhas costas e logo dei um pulo me virando para o indivíduo que me tocou...era um esqueleto?

- Você não se cansa mesmo, não é? É só questão de tempo pra você cair de novo. É só olhar bem- Seu corpo ganhou mais massa e estava cheio de olhos.

- Eu...sou...o seu carrasco. Acha que pode realmente seguir esse caminho? Se acha digno de tanta beldade e bondade!? Você merece mais que o inferno, é realmente ridículo pensar que um cara tão ferrado na vida poderia encontrar paz! Não me faça rir!- Acabei dando um sorriso ao ouvir isso, já havia entendido que, embora eu estivesse me tremendo e suando frio, ele só estava tentando adiar o inevitável, eu ergui minhas mãos para cima como se eu fosse receber algo do céu, dei um sorriso e exclamei:

-O que você quer diabo?! Me tirar de um caminho de vergonha e dor?! Onde posso me encontrar no Vale da Sombra da Morte e ainda assim viver?! Eu voltei mais forte e se quer saber? É melhor você começar a correr, porque pensamentos intrusivos negativos não vão me afetar!- Uma aura pairou sobre mim, o espírito que me pressionava agora estava sendo pressionado. Eu cheguei mais perto, olhei no fundo dos olhos dele e falei:

- Nós somos iguais - Ele tentou me atacar e o campo de energia o fez cair no chão, estava sentado, se tremendo na minha frente, seus olhos estavam tremelicando de ódio misturado ao medo. Eu prossegui- Eu só queria te rejeitar, queria fingir que não entendi o que você falou, mas agora é diferente, vou matar você- O "carrasco" não tinha reação- E se você voltar, te mato de novo, pode tentar o que quiser, atingir minha saúde, minha vida financeira, meus relacionamentos, pode tentar tirar tudo de mim! Eu ainda vou te matar todos os dias, mas eu já entendi, eu sou só um instrumento que está sendo moldado para um propósito maior- Eu cheguei mais perto dele e me abaixei- talvez meus familiares não encontrem sentido no que eu fiz, no porque eu mudei, mas eu vou continuar lutando por vidas porque elas precisam de Cristo e vou fazer isso até enferrujar- Eu dei um soco que quebrou o chão- Sabe o por quê de tudo isso? Porque esse é meu papel nessa guerra- O antigo cenário voltou, eu estava coberto por uma de um tipo de piche, Shin e Helena vieram até mim e me abraçaram.

- Yan! Como você está? Sente-se bem?- perguntou Shin, confesso que me senti tão cansado quanto um jogador de futebol no final de um segundo tempo de prorrogação...

- Estou bem...só um pouco cansado. Você disse que temos que seguir essa estrada, certo?  Então vamos, não temos tempo a perder.

Durante a viagem falamos pouco, fiz apenas algumas perguntas de vez em quando, foi a primeira vez que eu pude apreciar o silêncio da vida, sem interrupções, sem pensamentos intrusivos sobre mortes e coisas parecidas. Eu olhei pra cima por um momento, o que parecia ser o sol era na verdade uma lâmpada, tinha um brilho muito forte e não conseguia manter o olhar, repentinamente um pombo branco como a neve saiu da lâmpada, eu me assustei por um momento e me preparei para um possível ataque, mas Shin me alertou de que era Huach HaKodesh. Ele ao se aproximar de nós nos saudou dizendo:

- Olá, viajantes! Como vocês já me conhecem, eu vim dar um pequeno conselho ao seu amigo- Ele tomou uma forma de silhueta humana, mas era brilhante como o ouro puro. - Senhor Yan, agora que voltou, permita-me apresentar de verdade...Eu sou Huach HaKodesh, seu Consolador, terapeuta, psicólogo e amigo fiel de longa data! Vim aqui a um mandado de Jeová para lhe entregar isto- Huach HaKodesh ergueu uma mão fechada e a abriu, dela saiu faíscas e um livro brotou do nada, Ele explicou:

- Esse aqui é o manual da vida eterna, siga o que está escrito nele se quiser chegar até o final. Outra coisa muito importante, haverá coisas no caminho que terão que enfrentar, tenha muito cuidado- Num piscar de olhos, Huach HaKodesh ficou frente a frente comigo, chegou nos meus ouvidos e sussurrou " O diabo anda em derredor ". Ele voltou para o mesmo lugar que estava antes e também me entregou uma pedra de afiar " vai precisar ele disse".

Só depois de andar mais uns quilômetros, eu percebi que a voz de Huach HaKodesh era um pouco aguda e rouca. Eu comecei a ler Manual da Vida, li um pouco de Gênesis e Êxodo, acabou que eu fiquei tão fissurado em aprender mais do que já sabia que não conseguia parar de ler, até mesmo os livros específicos de leis e de livros que falavam sobre genealogias enormes me interessavam, não entendia bem. Helena me explicou que isso era uma sede e fome de saber mais sobre Jeová.

7 meses depois...

Caminhando mais e mais, descobri que Helena tem um probleminha em relação ao pai e Shin com seu pai também, situações diferentes, mas que são preocupantes. Shin é missionário na China e foi pego pelo exército, ele tem um irmão mais novo também de 16 anos, Helena contou que seu pai não acredita em Deus, menospreza ela e até a humilha, fiquei um pouco irritado, mas me controlei, perguntei a ela por quê não metia o pé, foi então que descobri que seu pai é idoso demais para viver sozinho, ou seja, além de velho, é doente. Após mais alguns passos, vimos um grupo meio estranho na estrada... Tinha seis homens de terno e gravata, uma mulher e um homem que parece-me um professor. Shin me alertou de que eles são pessoas que distorcem o que diz o Manual da Vida, eu dei um sorriso sincero

- Deixa eles comigo- Falei, Helena segurou meu ombro e alertou:

- Alguns deles são mestres, só que adulteram o que está escrito, são muito poderosos Yan! Você não vai conseguir sozinho!- Eu teimei com ela, abracei-a e garanti:

- Vou ficar bem- e fui até eles, alguns deles já me olharam estranho e de forma desprezível...não abaixei a cabeça, um deles disse " finalmente alguém que possa debater conosco!" Outro disse "diga-me , como pode provar que Deus existe!? Mais uma outra me acusou de ser machista por seguir o Manual da Vida. Uma mesa e cadeiras se formou, nós nos sentamos, peguei o Manual da Vida e ficamos nos olhando por alguns minutos, comecei a analisar cada um, vi que um era adventista, outro católico, mais um outro professor de filosofia ateu, tinha também um pastor da testemunhas de Jeová e a moça que percebi ser uma feminista bem arrogante. Todos nós reunidos ali, parecia um tribunal, cada advogado defendendo seu réu, ou seja, seus pensamentos e crenças. Helena e Shin apenas observavam tudo, a tensão era o clima do ambiente de debate, um lugar vazio, apenas nós e Deus lá de cima nos olhando, estava começando a ficar um pouco nervoso, mas sabia quem estava comigo. Todos pegaram seus livros e papéis e o debate começou.