꧁ঔৣ☬✞ - Você já leu O Pequeno Príncipe?
- porque?
perguntei a Juan.
O sol estava quente e meus braços já doíam.
- só me responda, você já leu O Pequeno Príncipe?
Insistiu Juan.
- Por que a curiosidade de saber se li ou não este livro?
Juan prolongou um silêncio; dando pequenos passos ao redor do poço, explicou ele.
- É para um projeto escolar. Estamos estudando este livro para fazer um resumo!
- Você está estudando este livro?
Parei de tirar água do poço por um tempo.
- Sim.
Respirei um pouco a luz do sol.
Fazia calor.
- Por que você quer saber se já li esse livro ou não?
Juan se apoiou na beira do poço e olhou a água lá no fundo.
- porque não entendi o livro.
- E o que você não entendeu?
Juan continuou olhando para o fundo do poço.
- Não entendi o meio, não entendi o começo e muito menos o fim. Eu não entendi nada.
- Quantas vezes você leu?
Eu perguntei.
- uma.
Juan respondeu.
-E sobre o que é a história?
Juan pensou por alguns segundos.
- fala de uma criança perdida no espaço, eu acho.
Tirei a água do poço novamente.
Continuei.
- bem, você não está errado. Mas não fala apenas sobre isso.
- Você já leu esse livro então?
Tirei outro balde cheio de água do poço sobre o sol escaldante.
- oitocentas vezes.
Eu respondi.
Juan riu em silêncio.
Eu continuei.
- Recebi de presente de uma amiga em outra época e em outro tempo.
- Amiga, senhor?
- Sim, amiga. Nós brigamos há muito tempo. Ela mudou, mas antes de mudar ela me deu este livro.
- O que aconteceu?
–Juan perguntou curioso.
Eu respondi.
-As pessoas mudam, Juan. As pessoas mudam.
Juan parecia perdido em seus pensamentos.
- O Pequeno Príncipe se trata de três coisas!
Juan voltou para terra. E me olhou como um cão esfomeado.
- quais?
Perguntou.
- Adultos com alma de criança, simbolismos e metáforas apaixonantes.
- metáforas apaixonantes?
- sim, metáforas apaixonantes.
Juan me ouviu com toda a atenção do mundo.
Peguei outro balde de água do poço.
- No livro há uma raposa, talvez representasse a metáfora do conselheiro, e a rosa representasse a amada abandonada. Metáforas. Todo mundo gosta de metáforas. Talvez seja por isso que lêem, as pessoas gostam de entender tudo sobre alguma coisa. Descubrir algo novo, algo que eles próprios descobriram primeiro que todo mundo e que podem chamar de seu. É sempre assim. Você sabe quem escreveu o livro, Juan?
- um homem com um nome estranho.
- Sim, era um homem com um nome estranho. O escritor mais misterioso do mundo e seu livro mais misterioso do mundo. O mistério é lindo. Lindo, Juan.
Coloquei o balde de lado novamente. Eu estava mais cansado do que imaginava.
Juan ainda prestava atenção fielmente em mim.
Por isso voltei a explicar.
- seu nome era Antoine de Saint-exupéry. Aviador, entregava cartas pelo correio e, além disso, era também escritor. Um bom escritor. Mas uma noite ele deixou uma base aérea para sabe se lá onde e nunca mais voltou. O mistério do piloto que partiu para nunca mais retornar permaneceu. Seu avião foi atingido em algum lugar. O corpo dele nunca foi encontrado. Seus livros posteriores, incluindo O Pequeno Príncipe, se tornaram populares. E então surgiram as teorias. As metáforas. Do misterioso piloto e de sua eterna alma de criança. Da rosa que ele encontraria novamente, mas que nunca pôde. O Pequeno Príncipe é um livro sobre a solidão e as inseguranças de um piloto que nunca deixou de ser criança. E graças a isso se faz justiça ao livro que tem a honra e o poder de cativar a todos que acabam por lê-lo uma vez ou outra. Para uma criança é mágico. Para um adulto solitário, consolo nas estrelas. Não é um livro onde você pode entendê-lo perfeitamente, mas vivê-lo. Leia novamente e você entenderá.
Tirei água do poço novamente.
Juan olhou para seu pequeno relógio amarelo.
Perguntando.
- E o que aconteceu com ele? O piloto? Ele realmente morreu?
Peguei outro balde de água.
- Em 2006, uma equipe que investigava o acidente ligou para um ex-motorista de Wiesbaden chamado Horst Rippert e explicou que procurava informações sobre Saint-Exupéry. Sem hesitar, Rippert respondeu: "Você pode parar de olhar. Eu derrubei Saint-Exupéry." Rippert, de 86 anos, explicou que dias depois de abater um P-38 de bandeira francesa perto de Marselha, soube do desaparecimento de Saint-exupéry. Ele estava convencido de que o havia abatido, embora só tenha confiado sua certeza a um jornal. Em 2003, suas suspeitas foram confirmadas ao saber que o avião de Saint-exupéry havia sido localizado. Mas ainda assim ele não declarou nada publicamente. Em suma, foi ele quem, na tarde de 31 de julho de 1944, por volta das 13 horas, disparou os tiros que abateram o caça de Antoine de Saint-Exupéry no Mar do Mediterrâneo. “Se eu soubesse que Saint-Exupéry estava naquele avião, nunca teria atirado nele”, foi o que ele disse.
Juan pareceu abatido.
E eu percebi. Talvez...
Era hora de ir para casa.
Juan era um bom garoto.
Perguntou-me.
- Você está feliz com este novo trabalho, Sr. Don Suárez?
Olhei para o balde em minha mão, para os calombos nos meus dedos, e senti o suor na testa.
Respondi.
- Sim, pequeno, muito. Temos que ser felizes onde quer que estejamos. Isso é o que papai sempre me dizia. Agora vá para casa pequenino, sua mamãe está esperando por você.
Juan se foi.
E retomei o trabalho. ✞☬ঔৣ꧂
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La rosa, el carrete, el corazón y la concha
عاطفيةEl modisto soñado y sus cuatro historias