ꢝ1 - a volta dos que nunca foram.

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Sophia Guerra
speaking

"Você vai morar no Brasil com o seu pai!" - Essas foram as últimas palavras que escutei antes de bater à porta

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"Você vai morar no Brasil com o seu pai!" - Essas foram as últimas palavras que escutei antes de bater à porta. Minha mãe sempre me ameaça dessa maneira, então não é nenhuma novidade.

Aqui em Portugal são exatamente 22:00, horário perfeito para ir a um barzinho e distrair minha mente. Terminar outro "namoro" não é fácil; acho que estava começando a me apegar a ele, então, antes que me machucasse, era mais fácil sumir (como sempre faço).

Sentei um pouco no bar, tomei umas e espaireci a cabeça. Já estou pronta para enfrentar a fera chamada Helena Guerra. Sendo sincera, até consigo entender o porquê de minha mãe ser tão rude; eu não sou uma das melhores filhas do mundo. E ela se culpa até hoje por isso, diz que me mimou muito para eu não sentir falta do meu genitor, e eu penso que seria mais fácil se ele não tivesse fugido da responsabilidade paterna.

Do barzinho para minha casa, não demorei 10 minutos. Agora eram 00:23, mas a casa estava toda acesa; minha mãe ainda não havia dormido, ou seja, sermão pelo resto da madrugada.

Destranquei a porta com cuidado e a vi sentada com seu roupão, mas ao seu lado havia várias malas. Confesso que não entendi.

"Estamos de mudança e você não me avisou?" Perguntei, mas logo fui surpreendida com sua resposta.

"Eu não, você está de mudança, para o Brasil." Helena estava de graça com minha cara, não é possível.

"Para de graça, dona Helena", disse eu, sorrindo, mas logo ela cortou minha graça.

"O que é engraçado? Acho bom você se adiantar, seu voo é em uma hora, não quero atrasos."

Eu fui ao chão nesse momento. Ela realmente estava falando sério quando disse que eu me mudaria? Puta merda! Eu não acredito nem um pouco nisso.

"Já disse que vai se atrasar, é bom que se troque logo. E outra, se não quiser ir, a partir de hoje você dorme na rua, e TODOS os seus cartões estarão cancelados. Você está passando dos limites, Sophia!"

Eu tentei convencê-la de que aquilo era loucura, como eu moraria com uma pessoa que não sabe absolutamente nada da minha vida? Que faz de conta que não é meu pai, mas ela não mudou por nada.

Me disse que já havia ligado para ele e que ele estava de acordo, e que inclusive achou uma ideia ótima para se reaproximar de mim

Se reaproximar? Um homem que me abandonou quando eu tinha apenas 5 anos de idade e de lá para cá se me ligou 20 vezes foi muito? Eu não estava acreditando naquilo.

Não disse nada. Apenas me dirigi ao banheiro, tomei um banho rápido e troquei de roupa. Minha mãe havia acabado de me expulsar de casa e eu tinha as duas piores alternativas: morar com meu pai ou morar na rua. Confesso que em outros tempos, eu escolheria facilmente morar na rua, mas infelizmente continuo dependente do dinheiro deles, então não tive alternativa.

Minha mãe me levou até o aeroporto, beijou minha testa e disse que era tudo para minha melhora, e eu continuava incrédula.

Ela me disse que meu pai me esperaria, e eu não vi nenhuma daquelas cenas felizes de um reencontro, sabe? Só imaginei meu pai com a cara fechada, porque depois de 17 anos teria que assumir a responsabilidade paterna que havia abandonado, e isso não me deixava nem um pouco animada.

Tive pouco tempo para comer, comprei um Starbucks e embarquei em seguida, morrendo de medo e com uma pontada de ódio por estar passando por aquilo.

MENINA VENENO, Richard Rios.Onde histórias criam vida. Descubra agora