Lighter | Luke Hemmings

Pilot

O que são 15.558 quilômetros? Para alguns, é a distância de espaço calculada entre dois pontos. Para outros, é uma passagem de avião. Para Amelia, é a razão pela qual sua vida mudou de cabeça para baixo.

Amelia sempre teve tudo sob o seu controle, ou praticamente tudo. Mas isso não significa que fosse o tipo de pessoa controladora e que nunca enfrenta negativas em seus anseios. Na verdade, toda essa estabilidade vinha do fato de que Amelia nunca se arriscava. Vivia uma vida confortavelmente segura. Tinha poucos amigos, que valiam por muitos. Uma boa relação com os pais, mesmo que eventualmente isso significasse sacrificar as suas convicções sobre determinados pontos da vida. Na área acadêmica e profissional, era esforçada o suficiente para alcançar os seus objetivos, mas lúcida na mesma medida, para se manter em metas realistas o suficiente.

Era como se tudo fosse planejado para não lhe gerar frustrações e desgastes emocionais. Simplesmente racional demais, calculista e, no fundo, até mesmo um pouco pessimista demais. Pensava que, uma vez que sempre considerasse possível as piores opções e resultados, nunca seria pega de surpresa pela vida. Ao menos não ao ponto de colapsar.

E sua teoria e modo de levar a vida funcionaram muito bem por longos vinte e um anos. Mas repentinamente, como se o universo provasse sua capacidade de mudar tudo de um segundo para o outro, apesar das tentativas de Amelia em construir barreiras emocionais ao seu redor, a garota deparou-se confrontada por emoções que teimava em evitar.

Sentiu-se em um naufrágio, navegando por águas misteriosas. E aquela que não era de sentir, de repente sentia demais. Porque doía demais, e não sabia curar. Como alguém que sempre se protegeu de frustrações, de emoções e do incerto aprende a lidar com um coração partido?

Porque o amor nos torna vulneráveis, e a vulnerabilidade é uma das mais fascinantes facetas do ser. Permitir-se sentir, sofrer e pulsar por um outro alguém é o que nos torna tão singelamente humanos. E, ao contrário do que se pensa, apenas aqueles verdadeiramente corajosos aventuram-se de vez na arte que é o amor.

E Amelia, apesar de amar, não se permitia entregar-se verdadeira e honestamente aos seus sentimentos. Amava mais do que demonstrava, e viva em uma corda bamba, tentando convencer a si mesma de que, se um dia acabasse, não se permitiria abalar. Em seus pensamentos, fingia que, apesar de estar confortável em seu relacionamento, e sentir amor por aquele outro ser humano, sua felicidade em nada dependia da presença dele em sua vida. Isso porque, na verdade, temia que acabasse, como de fato aconteceu. E mesmo inconscientemente, preparava a si mesma como um soldado se prepara para a batalha, vestindo camadas de armaduras e escudos.

Entretanto, quando sua mente lhe pregava peças e fazia a garota imaginar o início do fim, tudo era muito ensaiado. Uma traição, um desentendimento, choque de personalidades, uma briga. E em todos esses cenários, Amelia imaginava que sua raiva ou mágoa auxiliariam no processo de superar.

Mas não foi assim que aconteceu. Não houve traições, desconfianças ou grandes desentendimentos da parte contrária. Na verdade, o pivô da separação fora justamente as inseguranças mal curadas da garota, bem como toda a blindagem que tentava construir para não se deixar machucar.

Malditos 15.558 quilômetros, que traçam a distância calculada entre Sidney e Toronto.

— Apareceu a margarida! — Um homem exclamou, com o tom divertido. Ele falava alto por natureza, provavelmente herança de família, mas logo ao acordar o humor e a audição da caçula eram mais sensíveis a qualquer estímulo não desejado. E com estímulo não desejado pode-se incluir ter Ashton Irwin bem-humorado falando alto logo cedo.

Amelia parou no meio do seu caminho entre o quarto e o banheiro. Ela vestia um short de pijama que comprou quando ainda estava no ensino médio; a peça fazia parte de um conjunto e a blusa não lhe servia mais, mas aquele short era magicamente a roupa de dormir mais confortável do mundo. O tecido rosa com a estampa de pequenos morangos contrastava divertidamente com a camisa larga e surrada do Blink-182.