Aquele que possui o vazio nas mãos

Capítulo 1

Nos subúrbios de uma cidade, onde muitos ficavam e muitos outros não. A luz de uma pequena luminária mostrava uma tela preta ligada, a luz viva do monitor queimava a escuridão do ambiente junto da pequena fonte de luz plugada nele.

Um computador se mostrava pelas frestas de luz que escapavam entre o monitor e um braço humano estendido, uma caneta estranha dançava entre seus dedos, passando de um lado para o outro de forma evasiva. A tela do monitor brilhava intensamente no escuro frio da noite, parecendo emitir calor próprio. Certamente iria cegar quem ficasse com a cara nele.

Na tela luminosa uma bela ilustração se mostrava a plena luz dos olhos. Apesar da contradição da metáfora utilizada com o cenário, não havia como discordar de que o ser criador dessa peça era extremamente habilidoso, mantendo conhecimento de anatomia, luz e sombra junto de composição. Todos esses três mais outros elementos combinaram para surgir esse magnífico desenho.

"Mais uma noite sem dormir, mas valeu a pena." Murmurou a figura esguia, sua coluna, a 50° para frente, se erguia de forma anormal, dobrando se como um camarão na posição contrária que geralmente é comprado em mercados. Não era nada saudável sua posição, apesar de saber disso, o ser continuava a fazer a mesma manobra para conseguir desenhar. "Amanhã irei dar os retoques e revisão final antes de enviar para o comprador." Resmungou a figura, guiando a mão pela tela até salvar a imagem, tanto como arquivo de foto como arquivo do programa que usou para desenhar.

"Valeu cada centavo juntado para comprar uma Huion, principalmente esse modelo, o Kamvas Pro 24." A figura parecia juntar as mãos em oração, os olhos fechados em agradecimento a algo além dele. "Só falta comprar um iPad, o ProCreate e testar esse programa que vem feito sucesso." Resmungou ele sorrindo animadamente. O sorriso morreu ao lembrar de um detalhe desagradável. "Mas a caneta é vendida separadamente. Tch! Apple..."

O ser foi se deitar na cama, prestes a ficar acordado a noite toda. A mesa de trabalho estava limpinha, exceto no canto onde havia algumas latas de energético e uma cafeteira. O sono estava completamente eliminado essa noite e o ser planejava continuar acordado, deitado confortável em sua cama.

Seu computador estava desligando, afinal, não iria deixá-lo ligado a noite toda. A tela azul do sistema operacional mostrava que ele estava desligando. O ser ia se deitar no conforto de sua cama quando a luz azul, que refletia em sua parede, piscou e mudou-se para algo colorido

Confuso, o ser se virou para o computador, indo desligar a máquina. Provavelmente um aviso do sistema operacional, identificando algo de urgência. Ele iria resolver isso e descansar com o celular na cara a noite toda. Estando na frente do computador, o ser notou uma tela totalmente branca, desejando boa sorte.

Confuso, ele moveu o mouse e pulou fora da cadeira quando uma roleta parecia saltar em seu rosto. "Porra..." resmungou o ser se levantando, sua coluna doendo junto do cotovelo esquerdo que bateu na madeira da cama. Erguendo a cadeira de rodas, ele se aproximou da tela, sua mão direita já no mouse.

"O que é isso? A merda do sono me atingiu tão forte junto de toda essa energia dada pelos energéticos e café que estou enlouquecendo?" analisou a pessoa, se lembrando, com vergonha, de como sua vida gritava não saudável. Ele comia bem, tinha refeições balanceadas e bem nutritivas mas não fazia nenhum exercício por pura preguiça e má vontade. Não só isso como os serviços extras que faz de noite puxa muito dele. "Por que eu comecei a aceitar comissões mesmo?" se perguntou o ser, cansaço na voz.

"Ah." Um tique de sobrancelha foi o lapso de memória que havia retornado com força total, quase o fazendo cambalear. "O emprego do dia não ajuda muito, então decidi fazer comissões de desenhos online." O cansaço e sono podiam ser facilmente notáveis na figura, junto de emoções negativas. "É uma ótima renda mas os dois trabalhos de custam muito."