Vendo todo aquele sangue sujando o chão, Carl tinha certeza que a qualquer momento iria vomitar. Pela primeira vez desde que o apocalipse começou, o garoto sentiu medo puro e genuíno, mas não do homem que cometeu aquele ato contra Glenn e Abraham, e sim de não poder fazer nada enquanto vê o sangue dos dois pintando as pequenas pedras.
Já fazia algumas horas que seu pai e Negan haviam saído, e Carl não sabia se ele tinha morrido ou se ainda estava respirando. Conforme as horas se seguiram, o pânico dentro de si aumentava, mesmo que do lado de fora estivesse parecendo uma casca vazia.
O trailer chegou fazendo barulho, sujo de sangue em algumas partes, causando murmúrios que se transformaram em choro compulsivo, mas Carl manteve sua face e boca fechada, ele tinha, não daria a Negan o gosto de seu medo como fez momentos antes, mesmo que quisesse muito fazer isso.
Quando a porta foi aberta e Rick foi jogado para fora, o silêncio prevaleceu, todos com medo de se mexer, falar e até mesmo de respirar perto de Negan quando o homem saiu do veículo com aquele sorriso idiota, causando embrulho no estômago de Carl, fazendo-o apenas pensar em formas de matar o outro.
— Aqui estamos! Eu vou te perguntar uma coisa, Rick. — Começou a caminhar no centro daquele círculo como se fosse o rei do mundo, olhando para cada um como se aparentassem ser apenas estrume de vaca com a única utilidade de fertilizar o solo e sujar suas botas. — Você sabe sobre o que foi essa volta?... Responda a pergunta.
Sua voz saiu em tom de aviso, causando arrepios em toda a extensão da coluna de Carl. Ver seu pai e amigos sendo humilhados por Negan apenas o fez ter mais vontade de matar, mas sabia que se fizesse algum movimento agora mais pessoas morreriam, e ele já havia visto sangue o suficiente deles nesta noite.
— Tá bom… tá bom — Rick não tinha forças para dizer mais nada além disso naquele momento, ofegante e com sangue manchando o rosto, fazendo Negan rir um pouco.
— Essa volta foi sobre o jeito que você olhava pra mim. Eu queria mudar isso, eu queria que você entendesse — Explicou, balançando Lucille perigosamente na frente do rosto de Rick, mantendo sua postura superior — Mas você ainda tá olhando pra mim do mesmo jeito! Como se eu tivesse cagado nos seus ovos mexidos e assim não vai dar! Então… Eu devo te dar outra chance?
— é.. Sim, sim.
— Tá bom, tudo bem, aqui está! O jogo do grande prêmio!
Carl sentiu todo seu corpo querer entrar em colapso vendo aquele diálogo. Seu pai que normalmente é forte, um líder, sendo tratado como um cachorro que fez algo de errado e está sendo punido por seu dono. Naquele momento, Carl apenas queria que mais ninguém morresse, cansado de tudo.
— O que você fizer agora, vai decidir se o seu dia de merda vai virar o último dia de merda de todos os seus amigos, ou apenas outro dia de merda! — Negan se virou e sinalizou para o resto de seu Bando que estava com ele — Apontem as armas para as nucas deles e nivele com os narizes.
Todas aquelas pessoas obedeceram suas ordens com bom humor. O jovem Grimes podia sentir a pessoa atrás de si, roçando o cano da arma bem perto, o fazendo fechar os olhos e se afastar por um momento. Engolindo em seco, ele voltou e manteve a compostura, encarando os olhos de Negan como se quisesse descobrir quais serão suas próximas ideias de tortura.
Entretanto, encarar o homem não parecia ter sido uma boa ideia logo em seguida, quando o olhar do outro também se fixou ao seu, ambos se encarando por um tempo razoavelmente longo. Os olhos de Negan olharam de cima a baixo do corpo de Carl lentamente, a mão no queixo e a língua umedecendo os lábios como de costume, mas Carl sentiu que havia algo diferente na forma como Negan olhava para ele, diferente da forma como olhava para seus amigos ou até as pessoas do seu bando, como um lobo, fazendo a respiração de Carl ficar presa na garganta por um tempo.

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Perdão [ Cegan ]
FanfictionCarl se sente culpado por não poder salvar sua família, culpado por não ser forte o suficiente para eles. Mas também, culpado ainda mais por toda vez que sentir o toque de Negan, desejar o homem cada vez mais. Mas claro, nenhum começo é Pacifico par...