Você disse que eu tenho que confiar mais livremente

21 3 2
                                    


Imagens embaçadas inundaram a sua mente, novamente o atacando no sono e arrancando a paz que tanto almeja há um ano. Ruídos de tiros ao fundo, um cenário sombrio e vazio, causando arrepios para quem vê se longe ou de perto. Newt é esse alguém e como todas as vezes ele relembra novamente o pesadelo que mais o atormenta. Era como se ele fosse um fantasma ali, vendo ele próprio a sua frente, caído no chão e as mãos ensanguentadas pressionadas contra o abdômen de alguém, ele conseguia escutar a própria voz. Angustiada. De repente, ele não estava mais diante de si mesmo, mas agora retornou ao próprio corpo, olhando frente a frente ao homem que sangrava em seus braços e o rosto de Alby estava idêntico ao que se recordava ainda.

Alby estava com os olhos cansados e mesmo que estivesse sentindo dor, não estava demostrando de forma alguma no semblante, pelo contrário, ele parecia tranquilo. Newt sabia que Alby só não queria causar preocupar nele. Sempre foi assim, Alby era como um irmão mais velho que lhe tratava como um mais novo, não querendo o deixar preocupado com ele, mas o loiro sempre se preocupava, porque conhecia Alby tão bem quanto a si mesmo, ele era seu melhor amigo durante anos e como Alby também o considerava um irmão. O sangue escorria da boca do mais velho, descendo pela mandíbula e pescoço, Alby tossiu algumas vezes, cuspindo o sangue.

Está tudo bem, Newt – a voz no seu sonho, pesadelo, soou tão real que Newt achou que estava de volta ao passado de algum jeito.

Ou talvez, Newt realmente nunca tenha saído do passado. Ele estava preso na própria lembrança e isso estava o destruindo por dentro. E não estava tudo bem. Até hoje, mesmo após um ano, Newt se lembra perfeitamente como quis gritar com Alby e o chamar de mentiroso, pois não estava nada bem e o mais velho mais uma vez queria dar uma se durão e responsável da relação.

Aguenta firme, companheiro — disse, o loiro. Alby riu sem força, Newt se lembra como o amigo sempre brincava com o seu sotaque britânico e as gírias.

Companheiro, Newt? Você é tão britânico, cara. Ele conseguia ouvir perfeitamente Alby falar toda vez que o chamava de companheiro ou amigo, mas naquela vez isso não aconteceu. Ele ficou em silêncio, o silêncio mais angustiante e barulhento que o loiro temeu. Você deveria ter feito mais. Foi a sua culpa, se não tivesse quebrado o tornozelo, Alby estaria aqui ainda. Sua culpa, Newt. A voz da própria cabeça o insultou, pesando no coração e consciência, o fazendo acreditar naquilo. O quarto de Isaacs estava meio iluminado, a luz desligada mas a cortina da janela aberta, permitindo que as luzes dos portes iluminários da rua entrassem no cômodo, deixando pouco iluminado, mostrando a silhueta do homem loiro, alto e magro.

Inquieto durante o sono, se mexeu desconfortável e com a sensação ruim de reviver aquele trauma mais uma vez. A voz que o culpa grita de novo, de novo, e de novo dentro de sua mente, o acusando de algo que ele não consegue se livrar. Ouviu a voz de Alby, também o culpando por está morte e nem ter sido capaz de prender o assassino. Alby não diria essas coisas, ele jamais culparia Newt. Ele abriu os olhos, arregalados e cheios de terror e em um ação rápida, Newt levantou o tronco, sentando-se na bagunça de lençóis. A respiração estava pesada, suor frio descia da testa e uma expressão de horror contornava o seu rosto. Apertou os dedos no lençol, tentando regular a sua respiração ofegante.

Fechou os olhos com força, mas a imagem de Alby invadiu a sua cabeça, isso fez com que Newt abrisse os olhos assustados e o coração apertado. O silêncio no quarto incomodava o homem, de modo que o fizesse reviver a causa das suas noites mal dormidas. Olhou para o relógio digital na estante ao lado da cama, marcava três e quarenta da madrugada. Bem, era o seu aniversário. E, certamente, não seria diferente naquela madrugada. Com medo de voltar a dormir e ser forçado a passar por aquele momento mais uma vez. Após normalizar a respiração, no entanto não a mente conturbada, ele encostou as costas na cabeceira da cama e puxou as pernas para o peito, causando uma leve dormência na perna lesionada, a marca daquela noite que jamais o faria esquecer. O vislumbre na estante da cruz prateada que Alby o deu antes de morrer o alcançou, guardava ali outra lembrança e não ousava levar para nenhum lugar o colar.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 26 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A Grande Guerra - Newtmas Onde histórias criam vida. Descubra agora