𝟐𝟑

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Catarina Sartori

O vento do final de setembro traz um cheirinho das arquibancadas e de troféu novinho pra estante do Botafogo. E eu estou aqui no Engenhão ao lado de Rafael e Mariane, aproveitando esse climinha de ser o melhor do Brasil atualmente. O céu já começa a tingir de laranja e vermelho, como se o próprio pôr do sol fosse parte da festa que estava prestes a acontecer.

O som das multidões, o grito dos torcedores, o eco dos cantos da torcida organizada. Tudo isso é música para os meus ouvidos.

Meu melhor amigo fala sem parar sobre como o Botafogo vai “humilhar o Flamengo” hoje, enquanto segura um copo de cerveja e balança a cabeça, convencido da vitória.

— Tá confiante, hein? — digo, rindo enquanto observo os jogadores se aquecerem lá embaixo.
— Claro! Seu namorado vai fechar o gol, e a gente vai embora campeão— responde ele, com um sorriso largo.

Reviro os olhos antes de responder:

— Sabe que tá longe do fim do campeonato né?

Rafa da de ombros, bebendo um gole de cerveja.

Lá embaixo, Lucas estava no aquecimento, se alongando e trocando passes com os outros jogadores. Quando ele nos viu, acenou e, com aquele sorriso, apontou na nossa direção.

— Olha lá, o querido tá focado. Você dá sorte pra ele, viu? — Mari comenta, me cutucando e me fazendo sorrir.

O jogo começa e, como esperado, a tensão no ar aumenta com cada lance. O Flamengo, como sempre, começa a pressionar, buscando o gol, mas Lucas está impecável. Ele se posiciona com precisão, afasta os cruzamentos com firmeza, e, cada vez que o adversário chega perto da área, ele responde com uma defesa impecável. Meu coração bate mais rápido a cada movimento. Ele é como uma muralha, uma presença que dá segurança a todos ao redor.

Rafael, como sempre, não para de falar.

— Esse cara é um monstro, cara! Você tem que admitir que o Botafogo tem um goleiro de seleção — ele exclama, puxando meu braço e me fazendo dar uma risada nervosa.

— Eu já falei que ele é incrível, Rafael, não precisa ficar repetindo — respondo, rindo.

O tom animado e exasperado de Rafael sempre me faz rir, não importa o jogo, ele sempre está empolgado, como se fosse a final em si.

O jogo está empatado, mas a pressão do Flamengo parece estar no auge. Eles têm mais posse de bola, mais chances de gol, e o estádio está cheio de gritos da torcida deles. O Botafogo resiste, como sempre.

A cada minuto, o relógio parece acelerar e a tensão aumentar. Acho que vou daqui direto pra uma UPA.

Mas Lucas parece intocado. Cada defesa que ele faz, o público aplaude com entusiasmo, e eu posso ver o brilho nos seus olhos, a tranquilidade de quem sabe que está fazendo seu trabalho com perfeição. Ele sempre teve essa calma imbatível, como se nada no mundo pudesse tirá-lo do centro da sua concentração. Eu nunca deixava de admirar isso nele.

No segundo tempo, a tensão no ar aumenta ainda mais. O Flamengo está avançando com tudo, e de repente, o atacante adversário está a poucos metros da nossa área, pronto para disparar um chute.

Ele que nem tente.

O estádio inteiro faz silêncio, como se todos estivessem segurando a respiração. Eu vi o movimento de Lucas, rápido, preciso, como sempre. Ele se estica, os dedos se estendem ao máximo, e faz uma defesa inacreditável, desviando a bola para escanteio.

A reação é imediata. Eu e Rafael gritamos ao mesmo tempo:

— PORRAAAAA!

A torcida explode. Literalmente sinto o estádio tremer. O Botafogo é enorme.

𝐄𝐔𝐃𝐀𝐈𝐌𝐎𝐍𝐈𝐀 - 𝐿𝑈𝐶𝐴𝑆 𝑃𝐸𝑅𝑅𝐼 | PAUSEDOnde histórias criam vida. Descubra agora