2. Emotiva ou expressiva

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O emissor expressa emoções, sensações, sentimentos, estado de espirito.

Exemplo: Sei que não falo nem um "boa noite", mas não tenho culpa: estou atordoada.

Olívia uma vez me disse que há certos assuntos que são tabu para mim, e que um deles é Jungkook. Na hora, discordei, porque não fazia sentido para mim. Não é como se Jungkook fosse um ex-namorado ou algo assim.

Eu nem ao menos odeio Jeon Jungkook.

Só não vou com a cara dele. E não gosto de estar no mesmo recinto que ele. E não gosto de interagir com ele. E prefiro não trocar nenhuma palavra com ele.

E, se possível, não quero saber nada sobre sua vida.

Não que tivesse sido assim sempre.

A mãe de Jungkook, Ihna, é amiga da minha mãe há muito tempo. Elas estudaram juntas na faculdade, e Ihna foi sua madrinha de casamento. Elas têm milhares de fotos juntas e minha mãe chegou a estudar coreano por um tempo só porque achava muito legal (e porque elas queriam falar entre elas sem ninguém entender).

Ihna sempre foi casada com o pai de Jungkook, que é um daqueles coreanos tradicionais que se recusa a falar português, mesmo morando no Brasil há anos. Eu nunca realmente interagi com ele. Sei que eles têm mais um filho mais velho, Yoongi, que é médico cirurgião e deve lucrar por mês mais do que eu ganho em um ano.

Jungkook sempre pareceu estar ganhando de mim de alguma forma, mesmo antes de nascer. Ihna ficou grávida antes da minha mãe. Jungkook nasceu um mês antes de mim, em setembro. Ele aprendeu a andar e a falar antes. Ele roubava meus brinquedos e era mil vezes mais fofo do que eu nas fotos que minha mãe tem.

Segundo minha mãe, inclusive, nós éramos inseparáveis quando bebês. Ainda mais que, por conta da amizade, eu passava bastante tempo com Ihna, e vice-versa. Quando minha mãe precisava trabalhar até tarde, por exemplo, eu ficava na casa dos Jeon.

Eu não lembro muito bem dessa época, mas sei que um dia tudo isso meio que se acabou, porque quando Jungkook fez três anos, a família Jeon voltou para a Coreia do Sul.

Minha mãe nunca me contou o motivo e, na realidade, eu nunca me interessei. Provavelmente foi algo relacionado ao trabalho, ou porque o pai de Jungkook sempre foi extremamente conservador e parecia não gostar muito de morar aqui no Brasil. Minha mãe diz que ele só frequenta esses centros de comunidade coreana e coisas do tipo, mesmo que, bem, mesmo que ele more aqui há muito tempo.

Quando Jungkook se mudou, nunca mais ouvi falar dele. Minhas memórias daquela criança rechonchuda sumiram pouco a pouco, e só sabia que minha mãe tinha uma amiga na Coreia do Sul porque eventualmente chegavam presentes no correio pra gente. Eram sempre presentes legais, tipo coisas de papelaria e cadernos enfeitados que eu usava na escola e deixava todos com inveja.

(Meu irmão sempre ganhava aparelhos eletrônicos; uma vez ele ganhou um MP3 e eu vivia pegando escondido para ouvir RBD).

A família Jeon voltou quando Jungkook tinha dez anos.

Eu estava no quinto ano do ensino fundamental. Lembro que minha mãe ficou muito feliz. Na época, não entendia o porquê. Ela saía toda semana com Ihna, e Ihna vivia na nossa casa. Sempre a chamava de "tia", porque naquela época, achava que realmente tinham alguma relação familiar. Descobri que os presentes que chegavam eram dela quando ela me deu um diário rosa de aniversário.

Jungkook não sabia mais nada de português. Tudo que havia aprendido até seus três anos foi esquecido. Aparentemente, pelo que minha mãe me fofocou, o pai não deixava eles falarem português quando moravam lá. Ihna continuou praticando escondida por conta própria, mas os filhos não. Então ele foi para a minha escola, Jungkook não conseguia se comunicar com ninguém. Eu nem ao menos sabia como que ele estava acompanhando as aulas, sendo que nem nosso alfabeto direito ele sabia mais. Ele sempre estava olhando para frente com aquela cara de confuso, o cenho franzido. Era uma expressão comum que eu via todo dia.

Gramática Atualizada da Língua do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora