Pessoas Normais.
"É um dos segredos daquela mudança de estabilidade mental adequadamente nomeada transformação, que para muitos de nós nem céu nem terra trazem qualquer revelação, até que sejamos tocados por alguma pessoa com uma influência peculiar, subjugando-nos a receptividade. "
- George Eliot, Daniel DerondaFesta do líder, 3:15 da manhã.
Alane sentia sua respiração pesando demais dentro do peito onde se habitava um pulmão que queria destruir suas costelas. As mãos trêmulas pareciam não conseguir tocar o chão gelado que ela estava sentada, no escuro da lavanderia. Dias sentia que poderia morrer alí mesmo, vivendo seu sonho de estar no BBB escorrendo contra o ralo embaçado em sua visão de linha d'água marejada quando ela fitava a passagem entre o gramado e a piscina.
Crises de ansiedade eram comuns na vida cotidiana de Alane, mas não era para isso estar acontecendo no BBB. Ela se cobrava em estar feliz. Lágrimas escorriam lavando seu rosto maquiado especialmente para aquela festa. Os coques no topo da cabeça ainda intactos pareciam amassar seu cérebro com seu peso. Meticulosamente, tudo incomodava, a não ser sua boca que agora estava dormente enquanto seu dente estava afundado no lábio inferior.
Soltava ruídos que tentavam ser contidos como se suas mãos fincadas no chão e os ombros encolhidos a faria explodir. Estava prestes a arrancar a carne da boca quando escutou passos e podia jurar pela sua habilidade de distinguir os passos de suas amigas que aquele não era de nenhuma delas.
Ficou ainda mais nervosa, até que o mistério acabou quando a voz grave de Fernanda Bande soou baixa.
- Alane?
Ela então olhou para cima vendo a figura intimidadora de Fernanda a encarando intrigada. Assim que ela pareceu ver o rosto de Alane inchado e molhado ficou assustada com a situação.
Tudo tornava aquilo cada vez pior. Faziam longos dias da briga calorosa das duas mulheres na academia e então no gramado. O tempo pareceu curar as feridas e agora elas se suportavam. Sem trocar palavras ou bom dias. Assim as duas ficavam longe de farpas desnecessárias.
Ela estar ali parecia que o universo estava tirando sarro da cara de Alane. Fernanda engoliu seco sendo possível ver o nódulo de seu pescoço se movimentar aflito.
- Por que está aqui sozinha? T-tá tudo bem? - Ela perguntou meio aflita.
Alane não respondeu, não conseguia falar. A crise pareceu piorar naquele instante. A música abafada do lugar, parecia distante.
Fernanda pareceu perceber a crise de Alane. De seu lado, ela não entendia como aquilo aconteceu. Se sentia intrusa a aquele momento. Não queria estar ali, mas foi impossível não seguir os choros de desesperos vindo depois da piscina.
- Ei... - Se abaixou e tocou seu ombro - Você quer que eu chame alguém?
- N-não - disse entre soluços.
Por um instante olhou Fernanda e desejou que ela não fosse embora. Estava sozinha naquele momento e não queria estar, por um momento não queria ficar mais sozinha naquele lugar frio aos prantos.
- Quer que eu vá embora? - Fernanda não sabia o que fazer e estava apenas tentando resolver.
Então, como uma súplica de que ela não fosse, Alane chorando tocou a perna tornada de Fernanda negando com a cabeça. Fernanda asquieceu e se sentou ao seu lado.
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Pessoas Normais
RomancePessoas normais podem passar uma vida inteira sem sentir uma conexão tão profunda com alguém. Nem o ódio foi capaz de ir tão fundo na paixão sem implodir em palavras escapadas de como ela se sentia ao entrelaçar os dedos nos cabelos sem champinha mo...