Talvez tivesse que ser assim...

𝙿𝚊𝚛𝚝𝚎 𝙸

Nasci em uma cidade do interior de São Paulo, mas me mudei para a capital assim que completei 18 anos, em busca de fazer minha faculdade e arranjar um emprego. No entanto, meus planos mudaram assim que vi a realidade da cidade: a correria, a falta de tempo e a frieza das pessoas em relação a certos assuntos. Tudo isso me assustou no início, e minha vontade era de desistir, voltar para minha família, para o meu cantinho.

Mas prometi a mim mesma que, se fosse para voltar para lá, seria para buscar minha mãe e dar a ela a vida que sempre sonhou. Então persisti, tanto por mim quanto pela minha mãe.

A primeira coisa que fiz, além de arrumar um lugar para ficar, foi arranjar um emprego para me estabilizar financeiramente. Nessa busca implacável por um emprego, acabei encontrando o Dayanne Palace, um restaurante que não fazia muito tempo havia sido inaugurado. Era pequeno, mas sua comida tinha um sabor incrível. Não gostei deles apenas pela qualidade da comida, mas sim porque me acolheram quando eu mais precisei.

Nesse meio tempo em que estou junto à dona Celeste e ao seu Thomás, consegui arrumar uma casinha melhor para morar com a ajuda deles. Era pequena, mas estava em meu nome. Era minha. Foi uma felicidade enorme quando consegui. Era a primeira de várias outras conquistas.

Minha segunda conquista foi tirar a carteira de motorista, finalizei em seis meses. Quando finalizei, estava perto do meu aniversário, e como presente, dona Celeste e seu Thomás me deram uma moto. Eu não sabia como reagir. Só me lembro que chorei como nunca antes, mas também agradecia e agradeço até hoje a eles por esse presente.

Em quatro anos, o Dayanne Palace se tornou um sucesso em toda a Grande São Paulo, ao ponto de se tornar um dos restaurantes mais renomados da cidade. Houve um dia em que entrevistaram a dona Celeste e o seu Thomás e fizeram uma pergunta na qual eu nunca havia parado para pensar: "Qual a origem do nome Dayanne Palace?"

No momento em que o repórter perguntou a eles, também me questionei. Mas assim que eles responderam, tudo se esclareceu, e ao mesmo tempo senti a dor deles. O nome Dayanne Palace foi uma homenagem à única filha deles, que havia sido assassinada em um assalto. Ela era uma mulher animada e com o sonho de abrir um dia o seu próprio restaurante, mas infelizmente teve seu sonho roubado no dia em que faleceu. Então, eles tomaram esse sonho para si mesmos e abriram o restaurante em homenagem a ela.

Na hora em que ouvi isso, senti um aperto no peito, pois eu entendia como eles se sentiam. Perdi meu pai quando eu tinha 10 anos, ele foi assassinado na minha frente. Os bandidos eram membros de uma facção e confundiram meu pai com um homem que já estava jurado de morte. No mesmo momento em que me lembrei disso, senti lágrimas descerem pelo meu rosto, mas disfarcei rapidamente com receio de que me vissem assim.