𝑻𝒐𝒕𝒂𝒍 𝒅𝒆 𝒗𝒊𝒅𝒂𝒔

𝐷𝑖𝑎́𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝐸𝑙𝑜𝑟𝑒𝑛

" Em minha segunda vida, eu fui uma menina.

Sim, uma menininha. E eu realmente não tenho muito o que dizer sobre Eloren, já que ela viveu tão pouco tempo.

Mas vou contar minha versão, a que eu me lembro.

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Em mil quatrocentos e vinte e dois, eu nasci. Não me lembro o dia, nem o mês.

É raro reencarnar num bebê que acabou de nascer, mas acontece. Não é impossível.

Eu me lembro de ver uma luz, e um frio. Depois eu fiz o que todos fazem, chorei.

Não sei se foi para enganar aqueles que não sabiam quem eu era, ou se era para não congelar naquele frio. Mas eu chorei.

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Mil quatrocentos e vinte e quatro foi um ano estranho. Minha mãe, Hallen, se separou do marido, um tal de Jurien.

Eles brigavam dia e noite, por algo totalmente sem noção.

Hallen brigava com Jurien, porque ele olhava demais para a babá, Angelyn.

Que por sinal, não tratava muito bem a Eloren, mas, veja bem, um bebê não sabe se expressar.

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Ainda nesse ano, depois da separação, a mãe de Eloren apareceu grávida, e ninguém soube quem era o pai do bebê.

Hallen também não contou, e fez bem.

Bem mal.

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Em mil quatrocentos e vinte e seis, eu tinha quatro anos.

Nesse ano, minha irmã tinha dois anos, seu nome era Elsie.

Ela era bonita. Tinha os olhos azuis, porém apesar de azuis, seus olhos tinham algo triste, algo que olhos de uma bebê não deviam ter.

Tinha os cabelos caramelos, como os que a babá fazia para mim.

Sem cachinhos. Mas o seu cabelo liso mostrava a inocência infantil.

Andava sempre com um vestido rosa desbotado, que era posse de Hallen quando bebê. Vez ou outra usava uma fralda de pano, ou um pedaço de tecido velho que nunca era lavado.

Nós éramos próximas. Andávamos juntas.

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Um certa tarde, Elsie e eu, andávamos numa praia, onde a Angelyn nos deixou para brincar enquanto vendia algo nas cabines do banheiro.

Elsie saltitava ao meu lado pedindo para entrar no mar, enquanto eu andava segurando a sua mão.

Eu segurava a sua mão. Me lembro claramente que segurava.

E então, um homem um pouco mas velho, se aproxima dela. Ele dizia que compraria doces, brinquedos e vestidos para ela.

Ele me fez acreditar. Fez ela acreditar.

Dizia que me levaria para a escola e que eu faria vários amigos.

E eu fiz aquilo.

Larguei sua mão.

E deixei ela livre. Deixei Elsie para a vida, deixei ela para o mar.

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À noite, eu estava sentada na água salgada, observando o mar, e segurando minha irmãzinha nos braços.

E o tal homem, fez maldades comigo e com Elsie naquele banheiro sujo, onde Angelyn vendia algo.

Angelyn nos vendeu.

Depois, assustada, Elsie correu para o mar, para tentar fugir. E se afogou.

Já Eloren, foi despejada sozinha na areia da praia, e foi procurar sua irmã sem forças para ao menos correr ou pedir ajuda.

Sozinha e suja, Eloren encontra Elsie.

Tão sozinha. Tão pequena. Tão triste.

Elsie deixou o mundo numa noite de sexta-feira em mil quatrocentos e vinte e seis.

A causa da morte foi afogamento. Mas mesmo se não tivesse entrado no mar naquela noite, Elsie teria se afogado nas lembranças ruins conforme o tempo.

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Mil quatrocentos e vinte e sete, no meu aniversário de cinco anos. Mamãe me devolveu meu pai de presente.

E eu reconheci ele.

Nunca tinha reparado em meu pai, pois quando ele deixou a casa, eu só tinha dois anos. Mas quando o vi.

Era ele. Quem matou minha irmã.

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No meu sétimo aniversário, meu pai acabou com minha segunda vida. Eu não me lembro bem.

Acredito que essa foi a que eu mais sofri. Hallen não gostava de mim, Elsie era muito pequena para me conhecer e me amar, Jurien foi uma péssima pessoa, Angelyn acabou com a vida de duas inocentes crianças. E Eloren não tinha ninguém.

Minha segunda vida não foi nada feliz. "

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