capítulo 1

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Coleciono insetos desde os meus onze anos de idade, foi o único jeito que eu encontrei para silenciar meus sussurros, sufocando eles em um pote os faziam calar a boca na hora. Era bem simples, é só eles fazerem barulho que já se tornam um alvo fácil. É só seguir seu som e capturá-los com um pote. Esse foi o jeito mais tradicional que eu encontrei.

Alguns insetos que eu capturava ficavam no mesmo pote em que foi pego, em caixinhas transparentes ou colava eles em uma folha, ficavam todos no meu quarto, nas paredes ou em alguns livros e cadernos em branco que eu utilizava para colocar os insetos mais estranhos e diferentes que eu já havia encontrado.

Os insetos não morreriam em vão, eu os usava para fazer mosaicos ou para aprender mais sobre a espécie. Eu também gosto de apreciar sua beleza e suas cores.

Na escola Wintchester foi dia de prova e eles liberaram os alunos mais cedo. Saindo da escola eu já estava pensando em procurar mais insetos no meu jardim. Em minha escrivaninha eu estava organizando os insetos. Em frente à janela. Estava sentindo a brisa, o ventinho frio que vinha lá de fora, com um cheirinho agradável das florzinhas que meu pai costumava cultivar, essas florzinhas coloridas atraíam um tipo de inseto que eu não consegui identificar muito bem o que era. O inseto se adaptava às cores das flores como uma forma de camuflagem, como um camaleão. 

Esvaziei o pote com aranhas brancas e fui capturar alguns desses insetos desconhecidos. Espetei eles em um alfinete, depois de mortos, bem no seu abdômen  com cuidado para não esmagar ele e nem quebrar suas patinhas. Fiquei a tarde inteira pesquisando e descobri que é uma espécie de aranha. Juntei um monte dos meus insetos que ainda estavam no pote, eu pretendia fazer uma coisa diferente com aqueles insetos com cores variadas.

Olhei para o relógio que ficava em uma mesinha ao lado da minha cama e vi que faltava somente uma hora para eu ir encontrar com meu pai na clínica, então saí correndo para me arrumas e conseguir chegar lá à tempo. Fomos para a pracinha e compramos um sorvete de morango com chocolate para tomar com Alison. É um ritual da família, fazemos isso desde sempre. Congelar meu cérebro e meu coração não são bem a minha praia, mas o papai pensava que ao me ver ali, com a mamãe, ele se sentia mais livre e mais à vontade, e eu gostava muito de acompanhar eles.

Que ótimo que eu consegui achar uma forma de me dar uma distraída desse mundo. Os insetos são a melhor forma de distração que alguém como eu conseguiria achar. Tudo começou quando, na escola, meus amigos começaram a me relacionar com Alice, de Alice no País das Maravilhas, diziam que nós nos parecíamos muito, apesar dela ser minha tataravó. Começavam a falar de coelho e chapeleiro maluco e que eu estava lá também, e eu realmente não gostava destes comentários. Comecei a me sentir estranha naquele momento, parei um segundo para pensar e não conseguia acreditar, Alison dizia que um dia aquilo iria acontecer, mas eu não me sentia preparada para isso. Então eu coloquei um moletom dos achados e perdidos na cintura e inventei que estava passando mal e fui pedir para ligarem para o meu pai ir me buscar na escola.

Enquanto eu esperava sentada no sofá da coordenação, comecei a escutar uma discussão, olhei pro lado e vi que uma flor com pétalas brancas em um pote cheio de água estava discutindo com uma abelha que estava voando em sua volta. Eu pensei estar ficando louca ou que estava escutando coisas por causa do tinha acabado de acontecer comigo, mas eu conseguia escutar tão bem quanto escutava os alunos indo de um lado pro outro no corredor bem ali fora da salinha.

Perdi a paciência. Peguei uma revista de moda qualquer que estava do meu lado em um montinho, enrolei, e dei um tapa naquela abelha que caiu no chão. Tirei a flor de dentro do pode de água, a coloquei dentro de um livro de química enorme que estava em cima da mesa e esmaguei aquelas pétalas falantes que se calaram na hora.

Quando cheguei em casa meu pai se ofereceu para fazer um mingau pra mim. Coitado, nem sabia o que realmente estava acontecendo. Cheguei no meu quarto, fechei a porta e dei a louca. Como eu pude escutar uma discussão entre uma flor e uma abelha? Meus hormônios dever ter dado a louca e eu vi coisas naquele momento. me convenci de que foi isso. Mas não deixei de perceber que eu estava enganando a mim mesma. Resolvi ir até a sala tentar explicar ao meu pai o que realmente aconteceu... Eu queria tanto ter uma mulher ali para me aconselhar sobre isso. Meu pai me olhou por cima do jornal que estava lendo e falou:

-Está melhor, Alyssa?

-Pai..... -Respondi sem graça- Preciso mais dessa coisa, eles só deram um de amostra para as meninas da sala.

Ele fechou o jornal e me olhou com uma cara de assustado dizendo:

-Ahh, então você não estava.....

-Não, pai!

Eu queria muito contar ao meu pai sobre as vozes em que eu havia escutado quando estava na escola, mas acho que nem eu nem ele estávamos prontos para isso. 

Me revirei na cama aquela noite, quando estava prestes a cair no sono tive um pesadelo com Alice, que vem me assombrando desde então.

Nele, eu estava rumo à toca do coelho, quando entrei na toca, cai metros e metros, diminuí de tamanho e entrei no famoso País das Maravilhas... Eu estava do tamanho de um grilo, o dente-de-leão era mil vezes maior do que eu e uma florzinha daquelas que tem no meu jardim parecia uma árvore enorme. As pessoas e criaturas em minha volta eram do meu tamanho, mas a vegetação parece que cresceu demais, eu estava no meio da grama imaginando ser uma floresta. Enquanto eu escutava o tic-tac do relógio do coelho saio correndo e vejo o exército de cartas, de uma hora para outra, correndo olhando tudo ao meu redor menos para frente, me entrelaço em uma camada de fumaça, me deu até calafrios quando vi aquele cogumelo gigante onde a lagarta costumava ficar e dar conselhos, tinha alguma coisa ali, enrolado em teias de aranha, ou talvez outra coisa, estava se mexendo, eu estava prestes a descobrir quem ou o que estava ali quando o sorriso do gato aparece dizendo que perdeu seu corpo. O exército de cartas aparece com a rainha de copas e eu caio ajoelhada no chão implorando pela vida. é inútil, cartas não têm ouvidos, e eu não tenho mais cabeça. 

AlyssaOnde histórias criam vida. Descubra agora