único.

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Natália passou os últimos vinte e cinco anos morando no Canadá. Para a família, a mudança ocorreu devido a uma proposta irrecusável de emprego. Ninguém sabia que, na verdade, não havia emprego nenhum, muito pelo contrário, teve que batalhar muito para arranjar um trabalho que a sustentasse no país. O motivo pelo qual mudou-se era simples: o casamento de seu irmão.

Bruno era seu irmão gêmeo. Passaram a vida toda como verdadeiras almas gêmeas, até o momento que entraram no cursinho de inglês. Os colegas passaram a ser amigos, muito amigos, melhores amigos. O grupo reunia-se sempre com festas badaladas, que resultavam em loucuras de jovens bêbados.

Eram muito diferentes. Bruno era o típico garoto popular babaca, que fazia todas as meninas se apaixonarem, para então partir seus corações. Natália também era festeira e popular, mas sempre foi uma garota doce, sincera e de poucos amigos. Seus "amigos" sempre foram os amigos de Bruno. Até no próprio grupinho do curso de inglês, por mais que gostasse de todos, não os considerava seus amigos. Exceto por Carol. Carol era a menina mais quietinha do cursinho. Sentava na frente e usava óculos. Clássica nerd. De cara, despertou o interesse de Natália. Aproximaram-se durante as aulas e tornaram-se grandes amigas. Melhores amigas.

E foi por conta de Carol, que a parceria inabalável dos gêmeos foi abalada. Isso porque Carol apaixonou-se por Bruno. Tão típico. A nerd apaixonada pelo popular. No entanto, Bruno só queria se divertir. Já havia beijado todas as meninas do grupo, Carol era apenas mais uma delas. Não se importava se estava partindo seu coração. Mas Natália se importava. E muito. Foi a primeira vez que se deu conta que o irmão era realmente um babaca. Como ele poderia receber o amor de alguém como Carol e rejeitar? Como ele poderia partir o coração dela? Como ele poderia magoar a sua Carol? Era muito injusto.

Foi assim que percebeu que estava apaixonada pela melhor amiga.

E, obviamente, isso só aumentou a sua raiva. Ela estava bem ali, implorando pelo amor da garota, enquanto seu irmão tinha o coração dela e jogava fora.

Muitas brigas feias ocorreram entre eles. Tapas na cara de Bruno. Gritos de "louca", de "lésbica". "Tá apaixonada pela nerdzinha, é?" ele gritava. A irmandade acabou. Mal se falavam.

Talvez para atacá-la ou talvez por ter recebido um ultimato de seu pai dizendo que, para assumir a empresa, precisaria amadurecer e arrumar uma esposa, pouco tempo depois, Bruno pediu Carol em namoro. Talvez pelos dois motivos. Independente da razão, o mundo de Natália havia se despedaçado. Afastou-se, cada vez mais, de todos. Sentia seu coração ser dilacerado sempre que era obrigada a vê-los juntos.

Quando o anúncio do casamento veio, com menos de seis meses de namoro, precisou fugir imediatamente. E foi aí que entrou a história de emprego no Canadá. Um emprego que precisava dela imediatamente. Tão imediatamente que perderia o casamento. Todos ficaram chocados, mas muito felizes por ela. Seu pai prometeu ajudá-la com o aluguel por três meses até que ela conseguisse se estabelecer. E foi o tempo que custou para que arrumasse seu primeiro emprego como fotógrafa.

Foram vinte e cinco anos sem pisar no Brasil. Seus pais faleceram pouco tempo depois de sua viagem. Seu irmão, Pedro a visitava de vez em quando. Não tinha amigos no Brasil e não queria ver Carol e Bruno. Não havia motivos para voltar.

Nesses anos longe, amadureceu. Tornou-se chefe de fotografia de marcas importantes. Era conhecida no mundo da moda. Teve algumas paixões, nada que durasse. Nunca teve um amor. No fundo, sentia que ainda era aquela garota que chorou por dias ao ver as fotos do casamento do irmão. Havia jurado que não olharia para essas fotos. Iria magoá-la demais. É óbvio que não se aguentou. Perdeu a conta de quantas vezes foi dormir chorando enquanto olhava para Carol vestida de noiva, pensando o quanto sonhava em estar ali no lugar de Bruno. Passou todos esses anos acompanhando a amada de longe. Morria de orgulho ao ver que tinha se tornado uma professora universitária. Professora doutora. Combina mesmo com Carol.

As Canalhas | Narol Onde histórias criam vida. Descubra agora