Como se fosse um rato fugindo de uma vassourada, um menino magrelo corre nas vielas desviando de gambiarras ao chão entre as humildes casas de tijolos aparentes. Ele carrega uma mochila verde consigo e sem perder o ritmo dos passos largos e desajeitados, ele tira uma máscara desgastada dela. O menino a veste de qualquer jeito e solta o elástico que bate bruscamente na sua orelha causando uma ardência que o fez ver estrelas e tropeça. Bate em alguma desgraça de bloco de cimento que surgiu dos infernos, mantém-se de pé por pouco e desvia para um aparente terreno baldio. Entra pelo estreito buraco do muro e finalmente para pra tomar fôlego.
A iluminação é uma merda e ainda tá de noite pra terminar de foder com tudo. Não dá pra ver quase nada, mas ao sentir as gramas secas passando pelos seus pés, o garoto consegue se guiar e continua a adentrar o terreno que conhecia tão bem. A negligência com o terreno é gritante, o mato chega a bater no joelhos até dos mais altos que já pisaram ali. E o casarão do lugar já está caindo aos pedaços.
O garoto diminui a velocidade e ajusta a mochila nas costas, a qual pesava muito. Mas na hora da aflição ele mal se importou com esse detalhe. Ele não iria levar sermão de novo...
"IN-FEEER-NO!!!"
Simultaneamente um arrepio percorre pelo seu corpo ao ouvir o grito da voz que ele tanto temia. Ele veio do casarão e o tal foi tão alto que assim que escutou, o garoto deu um pulo e desatou a correr em direção aos fundos.
- Puta merda... - o garoto diz a si mesmo enquanto se aproxima do destino.
O casarão tem um aspecto gótico. Suas paredes, outrora vibrantes, agora apresentam a marca do tempo e do abandono. A pintura descascada revela a madeira apodrecida por baixo, enquanto telhas quebradas permitem que a chuva e o vento entrem livremente. A estrutura dela e o cercado em volta é feita de madeira.
O garoto dá a volta na casa passando por algumas janelas laterais. Empoeiradas e quebradas que permitem ver um pouco da iluminação fraca vinda de dentro da casa. Ele silenciosamente se dirige à porta dos fundos de madeira desbotada, que tem uma escadinha de cinco degraus improvisados. Ele pisa cuidadosamente no primeiro degrau e se sente aflito ao ouvir a conversa de dentro.
"EU MATO AQUELA PUTA!"
"Precisava quebrar a porra do celular fela da desgraça??"
"HAHA CORNO"
As vozes masculinas se misturam com gritos histéricos e o garoto toma coragem para bater na porta. A discussão se estabiliza.
"Entra aí Saruê"
O garoto abriu lentamente a porta e soltou a respiração.
- Eu trouxe a entrega ... - Saruê entra e fecha a porta tirando a mochila das costas.
E ali estão cada membro em um ponto do que era para ser uma sala de estar. A tormenta, um grupo de marginais que não tem o que fazer que almejam alcançar o patamar de grandes facções da cidade. Mas do jeito que está a situação...
- Bem na hora pivete - diz um rapaz alto e com um porte físico bom (apesar de ter um buchinho) que está encostado na parede próximo ao saruê. Pitbull. - Dê aqui. - o rapaz estende a mão ao chegar perto do magrelo.
Saruê entrega a mochila e olha para os demais. Coelho, um dos líderes da tormenta e irmão de Lebre, está quase arrancando os cabelos enquanto xingava e chutava que via pela frente. Até que chuta o sofá e quebra um dos pés do móvel.
- Wow caralho! Vai quebrar isso também? - diz outro rapaz mascarado, o Anjo.
Ele estava sentado no braço do sofá que precisou sair pois não queria ser acertado por um chute. Sentou-se no outro canto do sofá analisando se o celular tinha dado perda total ou então só lamentando.
- A entrega tá ok, vou subir. - Diz Pitbull se retirando com a mochila em mãos, subindo a escada lateral que fica no mesmo cômodo.
- O que está acontecendo? - Saruê pergunta e se encosta no sofá também.
- NÃO INTERESSA! PATIFE! - Coelho que estava de costas para o Anjo e Saruê se vira e grita sem a mínima paciência.
- Acalme-se Coelho tolo...Ele só perguntou e perguntar não ofende.
Finalmente sai dos cantos escuros da sala. O Lebre, irmão de coelho. O rapaz arruma sua máscara no rosto e bafora fumaça do cigarro que estava entre seus dedos calejados.
- Mandaram um vídeo da Rabbitte quicando no pau de outro. - Lebre solta um risinho no final da frase.
- TÁ RINDO POR QUE DESGRAÇAAAAA!? - Coelho chuta por impulso uma caixa em direção a seu irmão que desvia com um passo pro lado.
- É só carecar e já era mano. - Anjo se intromete com uma expressão desesperançosa e de saco cheio - Cara, você bem que podia ter me avisado antes de baixar o santo, eu podia ter ajudado ou,- Anjo resmunga - ter evitado quebrar o celular.
- E a ratinha ...? - Saruê questiona novamente, agora um pouco mais apreensivo.
- MATAR ELA TAMBÉM - Coelho se enfeza e sai do cômodo batendo os pés.
- Sobre ela não faço ideia... Se ela não estiver envolvida virará como sempre. Resolvemos isso amanhã. - Finaliza o Lebre falando como se tomasse cuidado com as palavras.
- Espero que não, ela não é como a prima.- Saruê estranha um pouco um tom de voz de Lebre mas permanece neutro.
- Assim espero. - Lebre se vira em direção oposta também se retirando indo as escadas, mas antes estala os dedos chamando o Anjo insinuando para que viesse junto - Está dispensado por hoje Saruê...
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Agentes do Caos
Dla nastolatkówEm um bairro marginalizado, um grupo de jovens marginais liderados por Coelho e Lebre se envolve em atividades ilícitas enquanto enfrenta conflitos internos e ameaças externas de outros grupos rivais. A tensão dos problemas já existentes se torna ai...