GUY DE MAUPASSANT
(𝟣𝟪𝟧𝟢-𝟣𝟪𝟫𝟥)
𝒫𝒜𝑅𝒯𝐸-𝟢𝟣
Quando os homens do porto, do pequeno porto provençal de Garandou, ao fundo da Baía Pisca, entre Marselha e Toulon, divisaram a embarcação do padre Vilbois, que voltava da pesca, desceram à praia para ajudá-lo a puxar o barco.
O padre era o ocupante único e remava como verdadeiro marujo, com uma energia difícil de encontrar aos cinquenta anos. De mangas enroladas nos braços musculosos, a sotaina arregaçada e presa entre os joelhos, meio desabotoada no peito, o tricórnio no banco ao lado, na cabeça um chapéu coco de cortiça recoberta de tela branca, ele tinha a aparência de um robusto e extravagante sacerdote dos países tropicais, feito muito mais para correr aventuras do que para dizer missas.
De tempos a tempos, olhava para a retaguarda a fim de reconhecer o ancoradouro, depois recomeçava a remar, de modo ritmado, metódico e forte, para mostrar uma vez mais àqueles reles marinheiros do Meio-Dia como remam os homens do Norte.
Lançada a toda velocidade, a barca tocou a areia e escorregou sobre ela como se fosse trepar pela praia, nela enterrando a quilha; depois, parou de vez e os cinco homens que esperavam o cura aproximaram-se dele, amáveis, alegres, simpáticos, para com o padre.
—Eh ben! — disse um deles com seu forte sotaque de Provença. — Boa pesca, senhor cura?
O padre Vilbois recolheu os remos, tirou o chapéu de cortiça, que substituiu pelo tricórnio, desenrolou as mangas, tornou a abotoar a sotaina; em seguida, tendo retomado o hábito e a aparência de cura da aldeia, respondeu com orgulho:
— Sim, sim, muito boa: três lobos, duas moreias, e algumas girelas.
Os cinco pescadores se haviam aproximado da barca e, debruçados sobre o bordo, examinavam, com ar de entendidos, os peixes mortos, os gordos lobos, as moreias de cabeça chata, horrorosas serpentes marinhas, e as girelas roxas, estriadas em ziguezague de listras douradas como casca de laranja. Um deles disse:
— Vou levar isto para sua quinta, senhor cura.
Após despedir-se, o padre pôs-se a caminho, seguido por um homem e deixando os outros ocupados em cuidar de suas embarcações.
Caminhava a grandes passos vagarosos, com um ar de força e de dignidade. Como sentisse calor por ter remado tão vigorosamente, tirava por vezes o chapéu no passar sob a tênue sombra das oliveiras, para entregar ao ar da tarde — sempre morno, mas um pouco mais frasco por causa de uma vaga brisa do oceano — a fronte quadrada, coberta de cabelos brancos, estirados e cortados rente, mais uma fronte de oficial do que de padre. A aldeia aparecia numa eminência, em meio a um largo vale, que descia num declive suave em direção ao mar.
Era tarde de julho. O Sol deslumbrante, prestes a alcançar a crista dentada das colinas longínquas, alongava, em diagonal na estrada branca, enterrada sob um sudário de poeira, a sombra interminável do padre, cujo imenso chapéu enchia o campo vizinho de uma grande mancha escura, que parecia brincar, trepando com vivacidade, por todos os troncos de oliveiras encontrados, para recair na terra onde se arrastava entre as árvores.
Sob os pés do padre Vilbois, uma nuvem de poeira fina, dessa farinha implacável de que no verão se cobrem os caminhos provençais, eleva-se, fumegando em torno de sua sotaina, que velava e cobria na orla, com uma tinta cada vez mais clara. Já refrescado, ele continuava a andar com as mãos nos bolsos, no passo forte e lento de montanhões fazendo uma ascensão. Seus olhos calmos dominavam a aldeia — sua aldeia —, onde era o cura há vinte anos, aldeia escolhida por ele, obtida por grande favor, onde esperava morrer. A igreja — sua igreja — coroava o grande cone das casas amontoadas em torno dela, de suas duas torres de pedra escura, desiguais e quadradas, que elevavam nesse belo vale meridional sua silhueta antiga, mais semelhante a defesas de praça forte do que a campanários de monumento sacro.
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NO CAMPO DE OLIVEIRAS
HorrorBOM VOU RESUMIR,padre Vilbois, que voltava da pesca, desceram à praia para ajudá-lo a puxar o barco. O padre era o ocupante único e remava como verdadeiro marujo, com uma energia difícil de encontrar aos cinquenta anos.