Único

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Notas: A muitos e muitos anos passados, em fevereiro de 2024, eu comecei a escrever essa história mas nunca terminei. Aí eu comecei a mexer nas minhas fics inacabadas recentemente e resolvi dar uma polida nessa e apesar do tema ser igual à da última que eu postei, tá bem diferente no conteúdo. Tá bem curtinha, menos de 1k. Espero que gostem e boa leitura.

AO3 tags: introspecção, final aberto, Pov Amaury, Amaury centric.

***

O vídeo passou por sua timeline como qualquer outro. Quase rolou a tela, desinteressado a princípio. Era uma festa patrocinada qualquer ou um camarote qualquer. Mas o nome na legenda foi o que o fez voltar o feed e prestar atenção. Era ele mesmo. Devorando a boca de outro homem. 

Diego. 

Era verdade que ele não lhe devia fidelidade. Não tinham um envolvimento formal, e ele já tinha dito que praticava poliamor. Não era uma traição. Não era. Não era! 

Respirou fundo e desligou a tela do celular, colocando-o ao seu lado, na cama. Não conseguiu evitar o pensamento intrusivo: era pra ser ele, era pra ser a boca dele, era pra Diego estar com a cabeça inclinada para trás ou se erguendo na ponta dos pés para contornar os bons vinte centímetros de diferença entre a altura deles. Não era para ele estar em pé de igualdade naquele beijo. Não era para aquele beijo estar acontecendo. Não quando não era com Amaury. 

Mas mesmo se ele tivesse conseguido contornar seus compromissos de trabalho e viajado para São Paulo, não tinha garantia de que seria ele o homem que Diego seria flagrado beijando. Não quando havia tanta especulação em torno deles e não quando ambos estavam tão focados em suas carreiras. Deu uma risada sem humor ao pensar aquilo. Com certeza o comprometimento com o trabalho não estava impedindo Diego de fazer nada… 

Imediatamente sentiu-se mal pelo pensamento. Não era aquele tipo de pessoa: amargurada, ressentida. Sim, talvez não fosse a pessoa que Diego seria filmado beijando, mas pelo menos estariam juntos, rindo e conversando. E poderiam fazer bem mais que trocar beijos de língua quando tivessem privacidade. 

Pensar nas noites com Diego e em tudo que poderiam fazer naquele pós-festa, caso estivesse em São Paulo, o fez pensar no que ele poderia estar planejando fazer. O monstro do ciúme sussurrou e encheu seus ouvidos e colocou ideias em sua mente: imagens de Diego e aquele outro num quarto de hotel, o corpo que conhecia tão bem sendo tocado e beijado por outras mãos e outra boca… 

Levantou da cama, caminhando pelo quarto, de um lado para outro, como uma fera enjaulada. Não se considerava um homem inseguro em suas relações anteriores. Quando tinha algum problema, conversava com seus parceiros e tentava resolver. Se não fosse possível, se o término fosse inevitável, o encarava com dignidade, respeitando o espaço do outro, mesmo que aquele não fosse o seu desejo. 

Mas aquela era a natureza de todos os sentimentos conflitantes que envolviam Diego. Em todas as relações anteriores, Amaury sabia exatamente onde estava pisando, até onde podia ir, e, pelo menos até certo ponto, o que seu parceiro queria e se estava disposto a caminharem juntos. Mas Diego era diferente. Como um furacão, revirou sua vida, tirou tudo do lugar e trouxe um grande anseio por mais. 

E era esse o problema: ele queria mais: mais beijos, mais noites passadas ao telefone, quando viajavam a trabalho, mais noites passadas juntos, entre os lençóis, com suspiros, gemidos e os rangidos da cama como trilha sonora, mais comprometimento, a porra de um anel no dedo! E a maldita monogamia. Mas Diego não. Diego queria ser “livre”, não se sentir preso em uma relação. 

Amaury engoliu em seco. A última coisa que se sentia quando se apaixonava era preso, restringido, confinado. Pelo contrário, amar o tornava eufórico, intenso, disposto a tudo. Ou pelo menos, fora assim até amar Diego. Agora sentia-se impotente. Diego estava lá, beijando outras bocas enquanto ele se roía de ciúmes em outro estado, preso em um “talvez”, em um “quando a gente se encontrar de novo”. 

No fundo, sabia que a culpa era sua mesmo. O amigo nunca tinha lhe feito promessas nem deixado a situação entre eles vaga o suficiente para que ele pudesse criar ilusões. Aquela confusão de sentimentos, a expectativa, eram tudo coisas de sua cabeça. Diego vivia dizendo que ele criava realidades alternativas e passava a acreditar nelas baseado em nada. Talvez ele tivesse razão. Talvez não houvesse amor. A atração existia, mas sexo não fazia um relacionamento. Não o tipo de relacionamento que ele queria com Diego, pelo menos. 

O que lhe restava era aceitar e entender que Diego não queria as mesmas coisas que ele. Era a saída mais correta, mais justa pros dois. Sem a expectativa, Amaury poderia focar totalmente em seu trabalho: convites para levar seu monólogo a novas cidades estavam surgindo, além de filmes, uma nova novela (e dessa vez, seria o protagonista) e a participação no Dança dos Famosos. 

Podia ser só um bom amigo de Diego, ainda mais agora que viviam em estados diferentes. Podiam combinar de se verem (como amigos), podiam ter novos trabalhos juntos, mas tinha que se esforçar e deixar aquele sentimento de lado. Tinha que deixar a paixão por Diego morrer e o amor se tornar platônico. Podia fazer isso. Tinha que fazer. 

Mas sua determinação caiu por terra no segundo que viu Diego frente a frente novamente, no Sábado das Campeãs. Deixar o amor virar platônico? Deixar a paixão morrer? Como?! 

***

Notas finais: A verdade é que o final ficou aberto pq eu não senti que eu precisava fazê-los "terminar", principalmente pq eu não queria trazer o Diego pra história, queria focar só no Amaury, nos sentimentos/pensamentos dele e sei lá, acho que a última coisa que passaria na cabeça de alguém durante uma noite de desfile de escola de samba seria querer fazer DR. E nem era minha intenção ter DR aqui, nem sei qual era minha intenção com essa história, pra ser sincera. Mas tá aí pra quem quiser ler. 🙃🙃

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