III: tired

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Matthew despertou assustado, procurando por seu celular na intenção de checar as horas. Dez da manhã. Sussurrou um palavrão, sabendo que chegaria atrasado para o almoço, justamente quando havia garantido a Carl que estaria em casa às onze em ponto para ajudar. Passou as mãos pelo rosto e olhou para o lado, se dando conta de que estava sozinho. Não viu sequer as roupas de Ryan, que antes jaziam próximas à cama. Ele havia ido embora. Esfregou os olhos, formulando as desculpas que pediria aos amigos pelo atraso, então se levantou, indo diretamente para o banho.

Assim que se viu pronto, arrumou suas coisas e não perdeu tempo em partir. Foi impossível evitar o atraso e, quando chegou em frente à casa, ajeitou no rosto os óculos escuros que escondiam as olheiras e o cansaço. Abriu a porta e o cheiro agradável que tomava o lugar apenas o lembrou que estava faminto. Ouviu as vozes conhecidas vindas da sala e, assim que apareceu por lá, o misto de frases em reprovação foi tão grande que ele mal podia entender, já que Benny, Alex e Anika falavam ao mesmo tempo.

— Eu sei, eu sei, estou atrasado — disse, erguendo as mãos. — Me desculpem.

— A gente já esperava por isso — Benny replicou, voltando os olhos para o celular.

— Qual é? — Matt protestou. — Eu não ouvi o despertador.

— Sabemos que deve existir um ótimo motivo para seu sono pesado, gatinho. — Anika arqueou as sobrancelhas, ao passo que ele concordou. — E, por acaso, esse motivo se chama "noitada" outra vez?

Matt comprimiu os lábios, se entregando sem precisar dizer uma palavra sequer. Os três começaram a falar juntos novamente, dessa vez sobre a obviedade da situação. O loiro revirou os olhos, mesmo que eles não pudessem enxergar por trás das lentes escuras. Tentou desviar o assunto:

— Onde estão os outros?

— Na cozinha — Alex respondeu. — Estavam perguntando de você.

O rapaz assentiu, afirmando que estaria de volta assim que deixasse as bagagens no quarto e andou até as escadas, subindo até o andar superior. Parou no batente da porta antes de entrar, apenas para observar com atenção o lugar, afinal, passara algum tempo longe. Se sentou na cama por alguns minutos e tentou se lembrar do que havia feito na noite passada, mas as únicas recordações que possuía eram sobre antes de sua embriaguez. Estava certo de que havia dormido com Ryan, mas nem mesmo disso conseguia ter completa memória. Nada além de alguns momentos avulsos em sua mente.

Sabia que recorrer a Ryan não era a coisa certa a se fazer, mesmo quando era ele quem lhe procurava. Tinha deixado o rapaz entrar em sua vida de novo após muitas noites conturbadas, cedendo a ele o que mais desejava: sua atenção. Apesar de deixar claro suas intenções e reforçar que tudo era casual, Matthew se sentia ligeiramente culpado por usá-lo nos momentos solitários. Suspirou, deitando-se para descansar um pouco a mente, que rodopiava sem parar. Foi impossível parar de refletir sobre tudo. Estar na cidade tornava mais fácil mergulhar de cabeça em um passado que tanto queria esquecer.

Quatro anos e dois meses. Era o tempo desde que havia lido a carta de despedida de seu ex-namorado, antes que este partisse rumo a outro país. A partir do momento em que acabou de ler as palavras escritas por ele, Matthew já não era mais o mesmo e estava ciente disso; os amigos estavam cientes disso e todos que um dia conheceram a melhor versão dele, também estavam. A princípio, passou por longos dias de negação, tentando se convencer de que o término era apenas resultado da pressão de Bruce Takeda e que seu amado entraria em contato novamente. Afinal, como poderia ser aquele o fim do sentimento mais lindo que já teve por alguém? Depois, quando já havia relido a carta incontáveis vezes, se deu conta de que não receberia mais nenhum sinal e que restariam apenas recordações dos dias mais coloridos de sua vida.

I WANNA BE YOURS IIWhere stories live. Discover now