Batom

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Ah Aline, cadê a parte dois de "nas sombras"? Só Deus sabe kkkkkkkkkk. Um dia vai sair, eu prometo. Mas antes, vou deixar isso aqui antes que me esqueça.

Boa leitura!

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O reflexo no espelho mostrava uma vez mais sua rotina matinal metódica. Trajando o roupão confortável que lhe abraçava o corpo da melhor forma possível, Verônica se dedicava ao cuidar da pele de seu rosto com calma. O cabelo estava preso em um coque feito as pressas, apenas para retirar qualquer fio de seu caminho, se concentrando no que estava fazendo por completo. Era quarta-feira e ainda sim, em vista da redoma criada naquela casa, ela sentia como se fosse um bela manhã de domingo.

Anita Berlinger se distinguia de sua função como ninguém, se tornando outra pessoa quando seus pés pisavam fora do escritório de advocacia renomado que comandava. Era uma exímia comandante, sempre mantendo tudo e todos embaixo de seus pés, o que levava Verônica a pensar em que momento uma curva brusca fora feita para que estivessem juntas. Era no mínimo curioso pensar em como aquilo havia ocorrido, mas quando pensava no nível de relacionamento em que estavam, sua cabeça rodava um tanto mais. Era loucura.

Os olhos castanhos tão mais jovens brilhavam quando a via nos tribunais, como se a eloquência da mulher pudesse lhe dar respiros a mais de vida. Se apaixonara pela forma como ela atuava e só depois se perdera em amor carnal. Os saltos tilintavam de um modo especial a medida que ela caminhava, sempre gesticulando da maneira mais perfeita que conseguia, compondo seus argumentos de modo a não deixar pontas soltas. Ela era a melhor e Verônica queria o melhor, era assim que chegaria no topo, como Berlinger chegara.

Após terminar sua rotina matinal, sentindo o cheiro de hortelã suave exalar de seus lábios, a mulher saira com calma do banheiro, desatando propositalmente o nó do roupão que tinha as iniciais "A.B" bordadas em preto. Seus olhos a procuravam sempre que havia a mínima ou máxima possibilidade de vê-la, era viciante. Em meio a piscadas lentas, Torres caminhava pelo amplo quarto, desaguando seu olhar na figura em pé, logo em frente ao espelho. Uma corrente trazendo milhões de pensamentos perpassava sua mente, a fazendo suspirar a cada passo que fechava mais e mais a distância entre as duas.

Era uma mulher em seus vinte anos, tão cheia de vida, sonhos e aspirações que por vezes mudavam de forma. Como folha no vento. Porém, em um sopro, tudo era colocado a prova quando os olhos claros recaiam sobre seu corpo. Ela era dela, inegavelmente.

────Conseguiu dormir? Fiquei preocupada. ────A ponta dos dedos com unhas pintadas de vermelho delineavam o batom em seu lábio superior com maestria, fitando a outra mulher pelo reflexo. ────Já lhe disse, Verônica... Se atenha...

────...Aos fatos descritos, a relevância das provas... Não aos detalhes gráficos! É... Isso ecoou em minha mente desde o primeiro dia. ────O peito inflara com o respirar profundo, ao que ela soltara no momento em que suas mãos passavam a envolver a cintura bem marcada pela blusa social preta. ────Você gosta de saber que tem tantas de nós que quer ser exatamente como você? ────A mulher com semblante mais velho lhe sorria, arqueando a sobrancelha enquanto tocava gentilmente a língua entre seus dentes.

────Comece se distanciando do caso quando não estiver pisando no tribunal. ────Ela se virara com calma, fitando cada mísera parte do rosto de Verônica, olhando de cima visto a diferença ressaltada pelo Louboutin que usava. ────Você é tão nova... Tem tanto para aprender. ────As mãos temerosas lhe buscavam o rosto, ficando na ponta dos pés para aproximar os lábios que instintivamente sempre se procuravam. ────Emoções não tem uso algum para nós, a menos que possamos causa-las e usa-las a nosso favor. ────Berlinger dizia aquilo em tom baixo, como quem contava um segredo.

LASCÍVIA ▪︎ one shot. Onde histórias criam vida. Descubra agora