Cap 2- As Piores Recordações

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Zara.
Acordei muito atrasada para ir à escola. Era o meu primeiro dia de aula no 8°ano-eu não queria ir de jeito nenhum.-

Cheguei atrasada na terceira aula e como forma de punição, me puseram para limpar a sala depois da aula. Que saco! Sempre eu.
O sinal tocou, e a aula acabou. Tive que ficar até 15h limpando e enxugando a sala.

Quanto terminei, eu estava com muita fome, mas se eu voltasse para  casa, meus pais iriam me matar.

O segundo tempo dos alunos do 8° ano começou. A aula deles começa ás 15:30, então decidi que eu iria ficar assistindo escondido para não voltar para casa, e quem sabe, até pegaria alguns lanches no refeitório.

A aula era realmente muito chata, mas finalmente havia acabado. Fui ao meu armário para pegar meu casaco e esconder os lanches, quando avisto Simon Busuttil do 8°3 e um garoto desconhecido.

Ele me parecia familiar. Fiquei o encarando por um tempo para tentar resgatar lembranças, mas acho que foi só coisa da minha cabeça. -talvez ele tenha percebido eu o olhando horrores. Mas quem se importa?-

Cheguei em casa só a noite, e como era o esperado: Levei muita bronca dos meus pais.

É incrível como eu nunca consigo agrada-los. Eles tiraram tudo de mim novamente, do meu celular até o meu direito de dormir na minha própria cama, que na cabeça deles, a cama não é minha, pois foram eles que compraram.

Para falar a verdade, eu odeio o relacionamento com os meus pais. Mas eu os amo tanto... Eu queria mesmo que meu pai nunca tivesse contratado aquele cara como sósia dele.
Tudo seria diferente. Não, acho que não. A culpa sempre foi minha mesmo.

Minha vida sempre foi muito monótona. Eu não saía, não tinha amigos, não me divertia. Apenas estudava. Além de eu não me lembrar de nada do que eu vivi na minha infância.

Só lembro de um garoto. Ai sim, eu lembro muito bem de suas características. Seu nome era Luke. Ele possuía olhos amendoados cor-de-mel, cabelos castanhos claro e uma pele parda. Ele era bem alto, mesmo sendo apenas um ano mais velho que eu. Nunca mais o vi desde que me mudei de escola e nunca mais visitei o orfanato.

Eu não sei o por quê de seu rosto ser muito vivo em minha mente. Não lembro do que nós fazíamos, não me recordo se nós éramos amigos, e muito menos onde posso encontra-lo para tirar essas dúvidas.

Às vezes, eu só queria voltar no tempo para me lembrar de certas coisas. Às vezes, são as piores recordações que ficam guardadas para sempre. Talvez porque elas machucam mais, do que aquilo que nós sempre sonhamos em viver.

Quem sabe, ele, o Luke,não tem algo a ver com o fato de meu pai nunca mais me deixar voltar ao orfanato? Bom, eu me lembro de que eu não fazia muitas coisas boas por lá.

Mas acho que não eram nada de mais, afinal, eu era apenas uma criança. Por que colocavam tanta pressão em uma criança?... Talvez porque a criança fosse eu.

Enfim, se eu não lembro qual o papel que Luke exerceu em minha vida, quer dizer que foram lembranças boas, certo? Meu cérebro tem o mecanismo de só guardar as piores recordações. Infelizmente.

Ou isso pode só ser coisa da minha cabeça. As únicas coisas que eu lembro de minha infância, é que eu ia ao orfanato todos os dias, e que meu pai contratou um sósia para administrar o orfanato por enquanto que meus pais cuidavam de mim. Parece que esse sósia roubou todo o dinheiro e fugiu. Bom, isso eu não lembro, mas meu pai me contou.

Eu me lembro também de que a partir desse dia, meu relacionamento com meus pais nunca foi o mesmo. Não entendo por quê eles me culpam por causa de uma situação dessas. Eu era apenas uma criança!

Mas será que eles se culpam por confiar em alguém descarado, e só não querem assumir isso?o erro deles? Daí, eles descontam a culpa em mim.

De qualquer forma, eu também me culpo. Eu tenho uma parcela de culpa nessa história, porém, eu era apenas uma criança. Uma criança.
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Luke.
Era tarde da noite, quando eu estava voltando para minha casa e avisto a mesma garota de hoje à tarde. Aquela que havia me encarado na escola.

Ela parecia triste. Cabeça baixa, andava lentamente, e segurava um casaco cheio de doces enquanto os comia. Eu não sei ela, mas se fosse eu com aquele tanto de doces, iria pular de felicidade e sair saltitando na rua igual um louco. Garota estranha.

Voltei para casa. Jantei com meus pais. Depois, me arrumei para dormir e me joguei na cama.

Enquanto eu estava deitado fuçando meu celular, ouço fungos e choros no quintal dos vizinhos-ainda não estava ciente dos nomes deles.-Provavelmente era a filha deles, mas espera... Era a mesma garota que eu vi hoje mais cedo na escola e na rua quando estava voltando para casa.

Estranho que... Ela me lembra uma pessoa. Alguém que eu tive o azar de conhecer. Com certeza, é a pior das minhas recordações. A Zara.

Eu lembro de tudo o que ela fazia comigo. De todas as noites que eu chorei, e sempre que eu implorava para ela não me machucar. A pergunta é: por que? Afinal, ela era bem mais baixa que eu...

Eu jurei para mim mesmo que nunca mais iria falar com ela de novo. Mesmo sendo improvável de nós nos encontrarmos novamente. Eu ainda a odeio de todo o meu coração. E espero que ela tenha uma punição muito mais dolorosa do que as coisas que ela me fez passar.

Espero que com o tempo, eu supere esses traumas. Até por que já fazem alguns aninhos. Talvez 2? 4? Tanto faz. Ainda está muito bem projetado nas minhas piores recordações.
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Sinceramente, eu não estava conseguindo dormir com aquela garota choramingando no quintal. Não importa o que ela havia passado hoje, eu só queria dormir!

Decidi chamar a atenção dela para ela parar de chorar, então joguei um pedaço de papel nela. Acertou em cheio na sua cabeça. Ela se virou, e me olhou confusa.

"Ei! Para de chorar aí. Eu preciso dormir, garota!" gritei.

Ela balançou a cabeça e entrou em sua casa. Muito estranho, mas até seu jeito de andar me lembra Zara. Enfim, não existem possibilidades de ser ela mesmo, então posso dormir em paz.
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