Os Preparativos

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- Vai correr tudo bem... - disse a Mãe dando-lhe uma palmadinha no ombro
- Mais de 50% das pessoas passam - disse o Pai, tentando reconfortar Laura
- E os outros 50%, ou morrem, ou ficam lá dentro a apodrecer! - disse Laura. Ela não estava a conseguir relaxar só de pensar que, dali a 10 minutos estaria dentro do Labirinto testando a vida ou a morte...
- Não penses assim filha - respondeu a mãe - Tu és inteligente... Vais passar!

Laura deu um suspiro e olhou á sua volta. Mais de 1000 pessoas estavam ali na estação dos comboios, para apoiar os seus filhos no derradeiro Labirinto. Chamavam-lhe "Labirinto da Morte" visto que muita gente tinha morrido lá, mas Laura não tinha escolha. Era tradição daquela escola, e tinha que ser cumprida. Laura já tinha questionado a muita gente que tinha passado no labirinto, para saber o que lhe esperava quando chegasse o Ano. Mas respondiam sempre o mesmo "Espera e vê". Os pais bem lhe tinham dito para abandonar a escola para não fazer o Labirinto da Morte, mas isso implicara mudar de cidade e abandonar os seus amigos. E a amizade foi mais além e por isso, decidiu fazer o Labirinto da Morte.
A cada 4 anos fazia-se essa tradição que assombrava todas as crianças daquela aldeia. Não importava a idade que tinhas, era obrigatório de cada 4 em 4 anos passares - ou tentares passar - o Labirinto da Morte.

- Pede se a todos os alunos que se dirijam á plataforma 4, apenas com a mala de viagem - exclamou uma voz vinda das colunas da parede.
Ouviu-se agora o choro de imensas crianças e gritos de terror. Era a hora de abandonar o recinto, e ir para a luta.
- Vai Laura, tens que ir! - disse a mãe dando-lhe um abraço... - Boa sorte!
Laura sentiu uma horrível dor de estomago, o que lhe impediu de dizer grandes falas. Apenas deu um forte abraço aos pais e disse muito baixinho "Adoro-vos". De seguida, agarrou na sua mala de viagem e foi a andar para a plataforma 4. Sentia-se tão mal, tão sozinha, que nem se apercebeu da rapidez que as pessoas da estação iam desaparecendo para a derradeira plataforma. Mesmo sabendo que todos os participantes eram seus amigos, sentia-se sozinha e perdida.
Quando chegou á plataforma 4 já não via nenhum pai dando boa sorte, ou outra mãe a chorar. Apenas via crianças, dos 6 aos 15 anos, agarradas umas às outras, ou sozinhas, chorando derradeiramente.
O ambiente era muito pesado.

- Bem-Vindos! - Uma mulher saiu por uma porta. Tinha o cabelo apanhado num coque e roupa de militar. A sua voz era grave e severa. Todas as crianças fizeram menos barulho e olharam para a mulher - Parem com as birrinhas, seus bebés! Estão tristinhos pela mamã e o papá não estarem cá para vos dar uma mantinha? Pois agora calem-se que eu tenho que fazer o discurso de entrada!
Toda a gente se calou, mas ainda se ouvia uns soluços. A mulher pegou num papel e começou a ler:
- Sou a general Márcia Caramelo e vou-vos apresentar o Labirinto da Morte. Como sabem, de 4 em 4 anos faz-se esta tradição, na escola de São Luís de Juntas. Depois de se equiparem, vão para dentro do derradeiro Labirinto da Morte - ela levanta a cabeça para os alunos - onde não há papá nem mamã para vos salvar. - Recomeçou a ler- As únicas regras são: 1- Não levar absolutamente nada para o Labirinto, apenas o vosso fato ou acessórios essenciais como óculos, aparelho e assim. 2- A todos os alunos que têm o cabelo cumprido, ou rapam-no ou atam com um totó - baixou o papel - Eu cá aconselho-vos a rapar pois há provas em o cabelo faz toda a diferença! - recomeçou a ler - 3- Não é permitido ficar mais de 30 minutos na mesma sala ou serão desqualificados e ninguém vos vai buscar! 4- Não é possível desistir. - guardou o papel - Agora entrem e oiçam o que a minha colega vos vai dizer! Toca a entrar seus bebés!
Devagar devagarinho, as crianças entraram pela porta. Laura ainda teve tempo de olhar para trás e ver o sítio onde, muito provavelmente, não iria voltar.

Laura era uma rapariga de cabelo ondulado, meio ruivo meio castanho, cumprido com uns olhos castanhos sempre com um brilhozinho de esperança. A sua vida tinha, até ali, sido uma vida muito boa. Nada lhe faltava a não ser se calhar umas notas um pouco melhores. Laura ia ter uma irmãzinha no final de Outubro, e sentia-se imensamente mal ao pensar que, quando a irmã crescesse, iria saber que teve uma irmã que morreu 4 meses antes...
Em relação ao Labirinto, Laura tinha quase a certeza absoluta que iria morrer lá dentro porque, pelo que tinha visto na biblioteca da escola, só alunos com notas a cima da média é que conseguiam chegar ao fim do Labirinto. "Tu vais conseguir, vai ser fácil!" diziam todos os seus apoiantes, o mais engraçado é que nenhum deles tinha passado por aquela experiencia.

O Labirinto da Morte - (BREVEMENTE)Onde histórias criam vida. Descubra agora