Dia 25 de fevereiro, meu aniversário. Minha mãe está na cozinha fazendo minha comida favorita. Lasanha. Meu pai está tomando seu café preto, e comendo suas torradas cheias de manteiga. Me apronto para ir a escola, desço as escadas com uma cara de quem não se lembrou do próprio aniversário, minha mãe como é de costume, me abraça, me dá um beijo no rosto e diz que estou crescendo. Meu pai apenas pergunta se quero jogar basquete mais tarde.
16 anos, finalmente, agora sim. Posso dirigir, vou namorar muitas das garotas da minha escola. Bom, isso é o que eu pensava. Não tenho carro, não tenho namorada, e estou com espinhas no rosto aos montes.
No ponto de ônibus, percebo alguém me chamando. Era uma menina linda, de olhos castanhos, cabelos escuros e a pele muito branca e macia. Ashley era o nome dela, a menina mais gata da escola. Daria tudo só para sentar ao lado dela no almoço. Fico encarando - a com um sorriso nada suspeito. Até que alguém empurra o meu ombro, era Scott, líder dos jogados de futebol. Ela acenava para ele? Pensei. Então voltei para a realidade, Ashley não sabe que eu existo.
O ônibus chegou, eu embarquei. Subindo os degraus chego no corredor do ônibus, não tinha visto nenhum lugar vazio. Até que notei um braço erguido com uma mão morena e magrela acenando. Era o George, um amigo. Bom, quase isso. Eu apenas converso com ele. Sentei me ao seu lado, e ele já me deu os parabéns. Ele é uma boa pessoa, apesar de trazer todos os dias um sanduíche de atum fedorento dentro da mochila.
Chegando na escola, vou em direção a minha sala, queria ser um dos primeiros a entrar, não estudei para a prova de matemática, queria dar uma lida no conteúdo. Quando abri a porta vi uma menina no canto da sala, falando com o professor. Alice eu acho que era o nome dela, na verdade essa foi a primeira vez que a notei. Ela dentro da sala é tão quieta, e numa sala com mais de 50 alunos, é fácil se perder. Mas ela é linda, cabelos ruivos, olhos azuis, e sardas no rosto. Ela me vê por uma fresta de segundo, e eu tento desviar o olhar, mas não consigo. Envergonhada, ela toma o seu lugar do outro lado da sala. Passei o resto daquele dia admirando - a, como aqueles "nerdões" que fazem cara de bobo quando olham para peitos. Naquele caso não eram só os peitos, que eram sim bem admiráveis. Mas olhava também para o rosto. A maior parte do tempo era para o rosto.
Hora do almoço, não sinto muita fome, fui até a cafetería, peço um duplo. Quando viro a minha direita me deparo com ela, a menina dos cabelos ruivos que me enfeitiçou. Penso, vou falar com ela? Acho melhor não. Será? Tomo a decisão de ir, quando me viro bruscamente, o copo de chá pelando que estava na mão dela virou sobre minha calça. Ardeu muito, ela tentou pedir desculpas mas eu sai correndo aí vestiário para me limpar. Ainda bem que não foi eu que derrubei nela. Penso.
Passou se o dia, não a vi mais na escola. Vou até o pátio com esperanças de encontra lá. Eu estava certo, ela estava lá. Debaixo de uma árvore, com uma flor em suas mãos. Aquele momento me deixou com uma paz, me senti tão bem em vê-la. Ela olha de canto, quando vejo ela está vindo em minha direção, com o sorriso mais lindo e sincero que já vi em toda a minha vida. Ela deve ter visto como sou lindo, e veio falar comigo. Penso eu. Mas na verdade eu la notou minhas calças ainda marcadas por conta do chá. Ela finalmente irá falar comigo, começo a imaginar como seria beijar aqueles lábios avermelhados, e como seria tocar naquela pele macia.
-Oi, me desculpe, de verdade, eu não queria isso. Ela diz
Quase não consigo prestar atenção no que ela dizia, estava viajando por seus olhos, imaginando no que pensava.
-Não se preocupe, digo, que isso, não foi nada, acidentes acontecem.
Ela começou a rir. O que ela disse depois disso eu não me lembro. Fiquei olhando aqueles olhos, e aquele sorriso. Me senti triste quando ela disse que tinha de ir, pois estava tarde e não podia chegar tarde em casa. Quando meu ônibus chegou eu já estava bem melhor, tinha tido a primeira conversa com uma menina incrível. Estava apaixonado.Chegando em casa, ligo meu computador. Procuro por Alice em um grupo da minha sala. Achei. Alice Rachael Grambounvinsk. Pelo visto não sou o único com o sobrenome estranho. Vejo algumas fotos, abro o chat, ela estava online, me arrisco escrevendo um simples "Oi" mas, isso podia parecer desesperado demais. Apaguei.
No outro dia na escola, penso em reencontra lá. Mas ela não foi a aula. Fico pensando o porquê. O motivo dela não ir eu não sei, mas meu dia ficou cinza. Eu não conseguia tirar ela da cabeça. Quando passo na frente da sala dos professores, vejo um deles comentando sobre a Alice.
-Sim, sim, foi ela mesma, perdeu a avó hoje de manhã.
Nesse momento tudo fez mais sentido. Percebi o porque dela não ir. Penso em passar na casa dela depois das aulas, só tinha um problema, onde é a casa dela? Pergunto para mais de trinta pessoas que já vi conversando com ela. Nenhuma sabia a resposta. Vou até a biblioteca para esvaziar um pouco a cabeça. Lá encontro um caderno, era marrom, e enorme. Várias tentativas fracassadas de ler o que era aquele caderno. Quando chego mais perto percebo, era os registros de alunos. Lá com toda certeza estava o endereço dela. Tento tocar nele, mas sou interrompido pela bibliotecária, uma mulher velha, quase sem dente, e com a cara toda enrugada. Disse que não devia mexer onde não era autorizado. Desculpe senhora, vou ir contra o sistema, eu preciso daquele endereço! Penso. Passou se trinta e sete longos e dolorosos minutos naquela biblioteca, pensando em como ler aquele livro. Até que vi um microfone atraz de um armário do lado oposto da bibliotecária. Chego mais perto. Será que é o que eu estou pensando? Era sim, o microfone era utilizado para mandar recados, de alunos que deviam livros. Logo tive a idéia de engana-la.
-Senhora Jordana, favor comparecer a sala do diretor.
No momento que terminei de falar pensei no risco que estava passando. Mas era por uma boa causa. Quando ela saiu da sala, eu corri até o livro. Acertei, o endereço dela estava lá sim.
A caminho da casa da Alice, me passou pela cabeça, comprar flores, mas tinha um porém, eu não tinha levado dinheiro. Quando olho mais a frente. A minha salvação. Flores, muitas delas, as mesmas que ela segurava no outro dia. Pego o máximo que consigo carregar, e sigo em direção a casa dela.Toco a campainha, ela atende, estava com o rosto inchado de tanto chorar, mas ainda sim esbanjando beleza. Entrego as flores, ela observa, e volta a chorar.
-Como você sabia? Eram as preferidas dela.
Então ela me abraçou, encostou seu rosto em meus ombros. Eu estava pronto para acalma la. Ela confiou em mim. Depois do abraço demorado ela me convida para entrar. Estavam em casa ela e seu irmão mais novo. Seus pais tinham ido ao enterro. Ela me oferece um café, sentamos no sofá, e ela começou a contar sobre a avó dela. Sei que não era o certo. Eu prestava atenção no que ela dizia em frações de segundos. Depois me perdía na sua beleza. Quando ela acabou de falar, fiquei tenso, queria dizer alguma coisa, mas não sai absolutamente nada. Até que comecei a dizer, que a avó dela estava num lugar melhor, e esses clichés, que por sinal, ajudam e muito nessas horas.
-Sei como é, já perdi um gato uma vez. Disse
-Que horror, mas não é a mesma coisa. Ela respondeuFiquei pensando no que falar depois, ela era tão inteligente, usava palavras difíceis, que não faziam o menor sentido na minha mente.
-Eu te acho linda.
Meu Deus, o que eu disse? Quando percebi já tinham saído essas quatro palavras da minha boca. Fiquei imaginando no que pensara de mim agora. Até que ela diz.
-Obrigada, também te acho bonito.
Meu coração acelerou, nunca me senti tão feliz em toda minha vida. Aquelas palavras me alegraram tanto. Sai de sua casa e fui direto para a minha, estava tão feliz, talvez ela também goste de mim.
Passou se o final de semana e eu não conseguia tira la da cabeça. Aquela menina diferente, de cabelos ruivos, vindo até mim toda sorridente.