❝𝓘mperdoάvel❞ é uma narrativa intensa que desafia as expectativas do leitor. A história segue Miranda, uma estudante de literatura cuja vida é marcada por um ciclo de abuso e violência. Miles, por outro lado, é um homem consumido pela escuridão de...
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"Mas é tarde demais para voltar Posso ver a escuridão por entre as fendas A luz do dia esvaece, eu amaldiçoo o amanhecer, o dia se foi"
Noah Gundersen — Day Is Gone
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A NOITE CAÍA SOBRE Nova York, um manto denso que envolvia Soraia e seus pais em seu retorno ao hotel. O aroma de flores murchas, vestígios da despedida fúnebre, permeava o ar, trazendo consigo uma névoa de luto que se infiltrou nos cantos do quarto, tornando o ambiente carregado de pesar. O silêncio que dominava era tão intenso que parecia ter substância, e a cama, que outrora prometia repouso e conforto, agora se mostrava estranhamente rígida e fria, um lembrete inquietante da realidade que enfrentavam.
Alma, com os olhos marejados e a voz trêmula, encontrou-se à beira da cama, suas mãos trêmulas acariciando o lenço bordado que outrora pertencera a Miranda. O tecido, agora símbolo de memórias e perda, parecia oferecer um mínimo consolo. O orgulho que uma vez inflou seu peito há três anos atrás ao ver Miranda conquistar uma bolsa integral na Universidade de Columbia agora dava lugar a um sentimento de culpa dilacerante. Questionava-se incessantemente: como não percebera os sinais? Como deixara escapar a dor oculta por trás do seu sorriso radiante?
Ao lado de Alma, Giuseppe permanecia imerso em um silêncio sepulcral, cada um preso em sua própria esfera de dor. A perda da jovem que sempre fora o farol de orgulho e felicidade da família Sánchez, pesava sobre ele como uma âncora arrastada para as profundezas escuras do oceano. Os tios, outrora alegres pescadores das costas mexicanas, agora encaravam a mais sombria das realidades: A ausência de sua amada sobrinha, cuja existência fora interrompida de forma tão súbita e cruel, deixando em seu rastro apenas a dor lancinante da saudade e um vazio que desafiava toda explicação.
Miranda e Soraia, separadas por uma década, mas unidas por laços que transcendiam a mera consanguinidade, eram como irmãs em espírito e coração. O destino as havia colocado à prova com o trágico desaparecimento de seus pais nas águas impiedosas do mar, mas foi no refúgio oferecido pela casa dos tios que Miranda encontrou um porto seguro. Seus tios, com mãos marcadas pelo sal e pelo sol, entrelaçaram para as jovens uma rede robusta de segurança, amor e união. Na singeleza de seu lar, eles esculpiram o futuro das meninas, incutindo nelas o valor da educação e a esperança de um futuro mais promissor.
