➹ Prólogo ➹

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Elas estavam sempre juntas. Essa era a primeira e, talvez, a única regra. Jamais se separavam sem um plano ou ficavam sozinhas, mesmo que com outros garotos de rua. Não que eles fossem perigosos; a maioria não era, e um ou outro preferia o grupo delas à qualquer outro. Mas eles eram diferentes quando estavam em outros grupos, então, elas nunca andavam sozinhas.

Quando se separavam pela manhã, iam em duplas; não podiam chamar mais atenção, pois suas roupas já chamavam atenção suficiente. Maiores ou menores do que deveriam, nem sempre tão limpas quanto podiam ser. Sempre as mesmas peças de roupa, já conhecidas pela vizinhança.

Encontravam-se novamente pela hora do almoço; dividiam a comida. Era o jeito que tinham encontrado de não forçarem furtos que certamente dariam errado. A maioria das crianças era pega quando a fome cegava o seu bom senso.

Beatriz era a mais nova, com olhos negros como a noite. Apesar disso, Giulia era a menor, e mantinha o cabelo tão curto que parecia ser a mais nova. Andrea tinha as maiores bochechas, apesar da magreza proporcionada pela má alimentação. Suzana era a leitora do grupo, e estava sempre com uma história pra contar antes de dormir. Ariana tinha o cabelo tão liso que seria impossível dar um único nó nele, e tinha uma namorada, Mercie, que andava com o grupo há pouco tempo. Chegava a ser engraçado porque o cabelo de Mercie era justamente o oposto de Ariana, já suas peles eram quase do mesmo tom de pele negra. Zilá tinha o cabelo longo, em cachos carregados, e olhos castanhos escuros; ela era a segunda mais velha. Eram quase dez garotas, no total. A mais velha era Regina, também a mais bela do grupo, com a pele morena e olhos verdes que ninguém sabia entender; certamente alguém se apaixonaria por ela e a tiraria dali, a senhora da estalagem lhes falava.

Amélia dava às meninas os cobertores furados, roupas esquecidas pelos hóspedes, e até pedaços de pães que sobravam. A estalagem não era grande coisa, mas ainda assim Amélia achava um jeito de ajudar. Elas limpavam para a senhora, como agradecimento, apesar de Amélia não gostar.

- Sua coluna não é mais a mesma, Dona Amélia.

- Ficou em pé o dia inteiro!

A discussão era rotineira, e ter uma rotina as dava conforto.

Quando chovia, ou fazia muito frio, e sobrava um quarto (ou um banheiro), ela as acolhia.

Só tinham que chegar depois dos inquilinos, e sem fazer barulho; não podiam ser vistas. Algumas vezes eles tinham a ideia errada do que elas eram, e Amélia ficava muito brava enquanto explicava que não deixaria pedófilos dormirem na sua casa.

Andavam mais limpas que muitas das crianças de rua, por isso disfarçavam sujando as roupas de carvão quando iam novamente passar a noite na rua.

Elas eram as garotas da Rua Sete.

As Garotas da Rua SeteOnde histórias criam vida. Descubra agora