Pesar & Esperança

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Planejo postar de dois em dois capítulos. Confesso que foi um pouco difícil organizar as ideias quanto ao Sasuke, mas acredito que esse capítulo consegue oferecer aquele "gostinho" de como será a história.

Sem mais blá blá blá,

Boa leitura!

Wenduine, Bélgica.

1:47 PM



Os profundos orbes turmalínitos se abriram fracamente, ainda sobrecarregados pela sucessão de noites mal dormidas, as olheiras acentuavam a face abatida e a barba por fazer. A primeira sensação foi de incômodo pelos raios solares que adentravam o quarto entre as divisões dos estores. Na verdade, quase tudo estava sendo desagradável à sua maneira.

Um suspiro longo foi lançado, antes de proteger a visão com o antebraço esquerdo. O corpo dolorido, pensamentos incessantes, não conseguia cogitar se teve mais uma recordação de sua infância ou simplesmente um sonho. A melhor resposta que a mente exausta pôde dar era que se tratava de uma mistura de ambos. Um sonho lúcido.

Sem demora, levantou-se preguiçosamente, o pouco sono que tinha não viria se permanecesse deitado, a insônia ganhou mais uma vez e isso o enlouquecia pouco a pouco.

Não estava em seu modo habitual. O automático e frenético ritmo do estúdio com data de exposição marcada, eventualmente encarregado de sua interminável lista de atividades com a equipe e comunicação interna com a curadoria, era extremamente estressante.

Havia abandonado o estúdio — onde vivia e trabalhava — com todo o caos da vida urbana que tanto apreciava em Bruxelas por tempo indeterminado. A sua atual versão já desconhecia toda aquela vivência, parecia um passado distante para ele.

Poucos passos foram dados sobre o carpete frio, e o simples ato fez o homem contemplar o mar acinzentado da segunda semana de outono pela reclusa janela. Subitamente, lágrimas que não ousaram cair se acumularam, turvando sua visão e tirando ainda mais o brilho de seus olhos. Se completavam três meses sem Mikoto.

Era difícil para ele como um todo, e admitia que parte de si tinha partido com sua querida mãe. Tal como o mar ao término do verão, a vida de Sasuke Uchiha estava em escalas de cinza. E ele não sabia quando tudo aquilo acabaria ou se um dia acabaria. Estava à deriva no mar de incertezas.

A breve sensação do naufrágio era iminente, e veio junto da imagem da mala deixada no canto qualquer do cômodo, não recordava o dia em que foi feita, talvez durante a madrugada da noite passada ou quem sabe há duas semanas. Independente do dia, aquele mero objeto seguia como símbolo de sua decisão — mesmo que tardiamente — de um pedido irrecusável.

Restava fragmentos do seu orgulho, perante o ousado mergulho que estava prestes a fazer. Não existia escolha. O detalhe é que Sasuke nunca aprendeu a nadar e reconhecia qual seria o resultado de seu ato.

E por mais que preferisse o clássico preto e branco, sempre teve em vista admirar todas as cores — algo que Mikoto fez prometer aos quatorze anos —, após ser incentivado a participar de aulas extracurriculares de pintura e escultura.

A partir daquela vivência, descobriu a viciante sensação de liberdade no formato de pinceis e argilas, já que nunca foi bom com as palavras. Apesar disso, suas mãos nem sequer conseguiam tocar em uma tela branca ou em qualquer outro material. Isso também o dilacerava. Aquela dor que possuía, permanecia crescendo a cada minuto dentro de si.

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