Parte 1: Sasuke
"O silêncio também é resposta."
Dizem que é a resposta para aquilo que não se tem!
Seja o que simplesmente deve ser ignorado,
mas vejo como resguardado.
E eu entendi isso desde cedo...
Era certo que naquele dia, na praia, não tivéssemos feito uma boa escolha. O intenso calor era verdadeiramente um incômodo. Apesar da brisa, minhas bochechas, que sempre eram pálidas, ardiam, e minha pele estava grudada pelo suor.
A areia fofa era forrada pela toalha listrada que compramos no início da tarde, toques sutis sobre as minhas sobrancelhas grossas tentavam me acalmar, mas era em vão. Segurava o choro, fortemente. O ar entrava pelos meus pulmões com força e saía com tanta fragilidade que doía.
Afastei a mão nervosamente. O aborrecimento não era por conta dos constantes olhares que recebíamos por sermos os únicos asiáticos ali, no auge do verão europeu. Muito menos pelo sorvete de duas bolas ter derretido antes de chegar a casquinha, mas pela ausência de Itachi.
Com sete anos recém completados, não entendia nada sobre despedidas, separações e processos judiciais. A vida de uma criança devia ser pacata, beirando a genuína simplicidade enquanto aprende sobre o mundo, mas esse não era o meu caso. Tão prematuro e carregava o desprezo do meu pai, mesmo sem conhecer o significado desta palavra naquele tempo, sentia fartamente sobre mim. Eu só queria o meu irmão, e mais nenhum deles.
A compreensão de que meu Itachi não retornaria para nossas vidas sucedeu anos depois, na minha conturbada adolescência.
Mas voltando para o tímido e franzino garoto, após algum tempo, consegui respirar um pouco melhor, e consequentemente, me acalmei. Inebriado por uma furtiva e avassaladora curiosidade — pertencente apenas a uma criança —, e mesmo com dificuldade, entre os feixes de luz, busquei o rosto da minha mãe, estava coberta de hematomas, mas acima de tudo sua beleza se destacava, mesmo protegida na sombra pelo chapéu de palha grande.
As lágrimas escorriam silenciosamente e pude enxergar nitidamente meu rosto refletido dolorosamente por suas íris. Os olhos eram tão similares aos meus, seja pelo formato e cor.
E mesmo assim, ela sorriu docemente, trazendo sossego para meu coração, ao tempo que a vergonha tomou conta de mim. Por ter recusado seu singelo ato de carinho, dosado aos mimos que adorava receber.
Entendi através daquele silêncio que não era o único entristecido pela falta de Itachi, minha mãe nunca tinha chorado na minha frente, e aquela foi a primeira e última vez.
Em meio ao agridoce provocado pelos gestos de meiguice e profundo sofrimento, me surpreendi com a sua voz, em volta da barulhenta multidão e seus mais variados idiomas.
Oh, mar
Oh, doce mar
Quando ela retornar a pisar na areia
Seus olhos carregados de luz trarão calmaria
Oh, mar
Oh, doce mar
A calmaria tão desejada pelas suas ondas rebeldes
E quando ela fizer o seu mergulho
Toda a dor carregada desaparecerá
E a esperança renascerá
Oh, mar
Oh, doce mar
Peço-lhe, não deixe de esperar pelo retorno da sua princesa
Oh, mar
Oh, doce mar
E cantarolou aquela velha canção de ninar — que sabia de cor e salteado —, momentaneamente as pessoas à nossa volta e as memórias azedas demais para um menino foram esquecidas. As palavras trouxeram conforto diante da saudade.
Naquela altura, me perdi na imensidão do mar azul-cobalto em minha frente, era uma paisagem única, e que tirou meu fôlego por breves segundos. Naquela mesma tarde ensolarada de agosto na Costa Amalfitana, repleta de banhistas, foi a primeira vez que me direcionei às ondas e me afoguei.
E aquilo tão pouco impediu que um novo sentimento até então desconhecido para mim surgisse, que não soube identificar, mas hoje diria que se tratava de esperança.
Pelo regresso do meu irmão.
Para vencer aquelas ondas.
E repleto dos mais ingênuos desejos e expectativas infantis, abracei a minha mãe fortemente e adormeci em seu colo.
༄
Bem, tentei fazer uma pegada diferente para a história, na verdade, senti essa necessidade!
Carmen💙
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Deságua
FanfictionA corporação Uchiha ascendeu há cento e cinquenta anos e até os dias atuais domina o mercado financeiro japonês, no entanto por trás da afortunada e reclusa família existe um passado obscuro. Sebastian Van Hove é um escultor de notoriedade por seus...