Capítulo 19

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— Ainda com dificuldades, Alane? Devia prestar mais atenção nas aulas.

— Devia passar deveres baseados nas matérias que estavam explicadas na lousa, senhora Bande, e não no que a senhora inventa em cima da hora.

Fernanda ergueu as sobrancelhas, sorrindo de lado. Estavam naquilo por alguns minutos, esse jogo de farpas estava ficando interessante. Fernanda estava vendo um lado de Alane que ela não pensou que veria alguma vez na vida, e sabia que teria que tomar muito cuidado com ela naquele estado.

— Mesmo fora da escola, sou a profissional designada para ajudá-la, então me deve respeito.

— E estou respeitando a senhora. Se não consegue fazer o mesmo e se comprometer com a sua profissão, o problema não é meu. Afinal, estamos aqui por causa da senhora.

— Muito cuidado como ala comigo, Alane. — ela se aproximou rápido por cima da mesa, a encarando de perto. — Sabe que não é mais minha protegida.

— Isso parece assusta-la mais do que assusta a mim, senhora Bande. — para sua surpresa, Alane se aproximou também, quase colando seu rosto ao dela. — Ou não estaria tão na defensiva assim.

Fernanda prendeu a respiração por alguns segundos, completamente embasbacada de Alane estar tão perto de si. Ela podia ver os olhos castanhos de perto, o brilho sagaz que os assumia quando ela falava assim. O hálito dela estava batendo em si, e levou tudo de si para não fechar os olhos e se inclinar mais. Ela deu graças a Deus quando sua mente perturbada criou a impressão de um barulho no corredor e ela se virou para olhar.

— A senhora pode me explicar como calcular o tempo aqui de novo?

A pergunta de Alane a fez se virar novamente para a mesa e encarar a menina, que estava olhando distraída para o caderno com capa rosa e flores vagas nas folhas. Ela batia o lápis em um ritmo uniforme enquanto encarava a questão.

— Eu já expliquei duas vezes.

— E pode me explicar a terceira? Essa matéria não foi passada.

Fernanda respirou fundo e se pôs a explicar para Alane novamente a questão, acompanhando por cima da mesa como ela estava sendo feita. Estava tentando se recompor e voltar a ser séria.

— Pode chegar mais perto? Preciso que observe se estou chegando no resultado de forma correta para não ter que apagar e refazer de novo.

Fernanda xingou absolutamente todos os antepassados de Alane naquele mesmíssimo momento. Xingou os pais, a irmã, suas estúpidas amigas, Yasmin, a escola, o zelador e até mesmo sua tia que nem mantinha mais contato. Mas respirando fundo, se levantou e foi sentar-se ao lado dela.

Fernanda posicionou a cadeira bem ao lado de Alane e se sentou, se inclinando para ver melhor. O perfume de baunilha imediatamente a invadiu e Fernanda se sentiu sufocada por um instante com a presença dominante de Alane. Ela não estava acostumada com isso, esse papel era dela.

— E então?

Ela perguntou baixinho. Fernanda abriu a boca para falar, tentou respirar fundo e por fim se afastou.

— Dessa forma está bom.

— Mas está certo?

— Está bom.

— Com todo respeito, senhora, mas não foi o que eu perguntei.

Fernanda respirou fundo, buscando a paciência que não tinha naquele momento e assentiu.

— Sim, Alane. Está certo.

Em resposta, a menina abriu um sorriso gengival que desconcertou Fernanda por um momento e começou a fazer as contas alegremente. Quando terminou, lhe entregou o caderno para correção. Honestamente, Fernanda não conseguiria nem se quisesse corrigir naquele momento, pois Alane estava inclinada, com aquele perfume intoxicante invadindo suas narinas, esperando ansiosamente a fala da professora.

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