Ecos do Passado - Capitulo 26

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Josh respirou fundo, o peso das memórias pendendo sobre ele como uma nuvem de tempestade. Ao redor, o acampamento permanecia quieto, apenas o crepitar da fogueira quebrava o silêncio pesado. Elora, Leon, Anna e Thorin o observavam com atenção. Os olhos de Josh estavam perdidos, fixos nas chamas dançantes, mas sua mente estava a milhares de milhas dali, em um mundo muito diferente.

"Antes de tudo isso, antes de Artenach e das lutas, eu era apenas um jovem comum... um universitário tentando sobreviver em um mundo que já havia perdido o controle", ele começou, sua voz baixa, quase um sussurro.

Ele relembrou os dias em que cursava biologia, um dos poucos refúgios de normalidade em uma Terra devastada. A paixão dele era a biologia celular. A ciência o fascinava, o modo como cada célula se comunicava e formava as complexidades da vida. Mas, mesmo a ciência não conseguia acalmar o caos que se desenrolava ao redor dele.

O Caos na Terra

Era um mundo mergulhado no desespero, onde monstros que antes habitavam apenas pesadelos e telas de cinema agora caminhavam pelas ruas. Criaturas grotescas, surgidas sabe-se lá de onde, infestavam cidades, deixando um rastro de destruição. As forças armadas dos governos, antes poderosas, agora lutavam para manter a ordem em um planeta em guerra constante com horrores além da compreensão humana. Cada cidade era um forte, cercada por muralhas gigantescas, vigiada por drones e robôs que patrulhavam sem descanso, máquinas frias que mantinham a segurança a qualquer custo.

Dentro desses muros, a vida continuava, mas não como antes. Universidades haviam se transformado em centros de pesquisa para estudar as criaturas. Josh, então um estudante dedicado, passava seus dias dissecando cadáveres de monstros — tarefas que uma vez eram reservadas para aulas sobre animais comuns agora se dedicavam à compreensão desses seres grotescos. Ele se lembrava de um espécime em particular, uma criatura que lembrava um porco, mas que andava sobre duas patas e emitia sons que pareciam quase uma língua inteligível. A repulsa o dominava cada vez que era forçado a abrir o corpo inchado, o cheiro de putrefação impregnando suas roupas e sua mente.

"O que mais me assustava não eram os monstros, mas o que estávamos nos tornando para combatê-los", Josh disse, sua voz embargada. "Estávamos nos transformando em algo frio, mecânico... Desumanizados."

O Encontro Fatídico

Aquele dia parecia ser apenas mais um entre tantos outros. Josh saiu do laboratório, a luz artificial da cidade-forte refletindo nos prédios altos e nas barreiras de concreto. Era noite, e ele estava exausto, as luvas ainda manchadas com o sangue de uma criatura recém-dissecada. Tudo o que ele queria era voltar para casa, tomar um banho quente e tentar esquecer o que havia visto.

Mas então, enquanto caminhava por uma rua bloqueada por barricadas, algo no ar mudou. Era um instinto primitivo, um arrepio que lhe percorreu a espinha. Decidiu pegar um atalho por um beco estreito, um caminho que conhecia bem e que o levaria a uma rua mais próxima de seu apartamento. As sombras no beco se estendiam como garras, e cada som parecia amplificado — o gotejar de água, o som distante de passos, o zumbido das luzes fluorescentes que piscavam acima de sua cabeça. Quando emergiu na outra rua, sentiu um peso estranho no ar, uma tensão que o fez hesitar.

Dois homens surgiram do nada, altos e musculosos, com olhares que não prometiam nada de bom. Antes que pudesse reagir, eles estavam sobre ele, mãos fortes segurando seus braços e arrastando-o para perto de um caminhão estacionado. O medo explodiu no peito de Josh; ele tentou se soltar, mas os homens eram muito fortes.

"Vai ser você", um deles disse, a voz carregada com um tom de decisão gélida. Um frasco surgiu diante dos olhos de Josh, sua superfície refletindo a luz fraca das lâmpadas do beco. No frasco, um emblema negro em forma de dragão se destacava, quase como um brasão sombrio. Josh não teve tempo de entender o que aquilo significava; uma das mãos segurou sua mandíbula com força, enquanto o frasco era empurrado contra seus lábios, o líquido metálico escorrendo por sua garganta. O gosto era terrível, como sangue e ferro oxidado, queimando enquanto descia.

Os homens começaram a discutir em um frenesi súbito, os olhos arregalados. Algo havia dado errado. "Você pegou o frasco errado, seu idiota!", um deles gritou, a voz cheia de pânico. Josh não entendia o que estava acontecendo, mas o medo o dominava. Ele aproveitou o momento de distração e correu, os pulmões queimando enquanto ele ouvia os gritos dos homens se distanciando. Em meio à corrida, sirenes soaram, e policiais apareceram, suas armas apontadas para os agressores. Josh não parou para assistir ao que aconteceria; ele apenas continuou correndo, o coração disparado, até chegar à segurança de seu apartamento.

A Mudança Inesperada

Josh entrou em casa quase como um rato, se esgueirando pelas sombras e trancando todas as portas e janelas. O apartamento estava silencioso, exatamente como ele havia deixado. Ele se arrastou até o banheiro, tentando lavar o gosto metálico que ainda impregnava sua boca. A água quente escorria por seu corpo, mas não levava embora o pavor que sentia. Quando saiu do banho, verificou o celular. Uma mensagem do campus informava que as aulas haviam sido canceladas; uma aluna havia sido atacada por um monstro e não havia sobrevivido.

Josh se ajoelhou, o peso do dia finalmente o esmagando. Ele orou pela alma da garota, uma prece rápida e desesperada, e então se jogou na cama, exausto demais para pensar. Mas o sono não trouxe descanso. Em vez disso, ele foi atormentado por sonhos de chamas, garras e gritos — um prelúdio sombrio do que estava por vir.

Ele acordou no meio da noite, o corpo suando e a respiração pesada. Algo estava errado, mais uma vez. Sentiu uma dor aguda percorrer sua espinha, como se seu corpo estivesse sendo dilacerado de dentro para fora. Ele cambaleou até o espelho do banheiro e viu seu reflexo distorcido pelas lágrimas e pelo medo. Sua pele estava diferente, estranha, como se algo tentasse se libertar. A mesma sensação de queimação retornou, e desta vez não era um sonho. Ele tentou gritar, mas sua voz falhou. Ele caiu no chão, contorcendo-se em agonia, enquanto seu corpo mudava de forma diante de seus próprios olhos.

E naquele momento, Josh soube. Ele havia se tornado algo além de um simples humano. Ele era agora um monstro, uma aberração, resultado de um experimento fracassado que o havia marcado para sempre.

De volta ao presente

Josh piscou, as chamas da fogueira refletindo em seus olhos. Ele olhou para os amigos ao seu redor, as expressões deles cheias de uma mistura de empatia e terror.

"Depois daquela noite, nada mais foi o mesmo. Eu fui forçado a fugir, a me esconder. Fui perseguido como um animal, até o dia em que fui arrastado para Artenach. E aqui estou, tentando encontrar um propósito... ou talvez uma redenção."

O grupo permaneceu em silêncio, cada um absorvendo as palavras de Josh. A história dele era um lembrete sombrio de que todos carregavam suas próprias batalhas e que, mesmo em um mundo de magia e monstros, os demônios pessoais eram os mais difíceis de enfrentar.

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