Charlotte desembarcava além do portal.
Seu corpo parecia exausto, embora não tivesse se empenhado em grandes esforços seus olhos ainda se abriam com dificuldade. Ela levantou a cabeça do móvel onde havia adormecido e se encontrou em uma cabana mágica adornada com folhas verdes e flores brancas. Charlotte envolvia-se no aroma adocicado que permeava o ar, ainda dentro da cabana, quando ouviu alguém chamá-la.
A voz ecoava distante, mas elevava a cada instante do lado de fora. Dessa forma, ela decidiu deixar para trás o encanto que ainda prendia sua visão para atender a moça que lhe gritava atenção. Ao deixar a assembleia de folhas e o aroma agradável, percebeu-se que a cabana era inteiramente construída de algodão e folhas de maracujá, de onde emanava o doce perfume; era como se a própria natureza a tivesse construído, em reverência ao seu título.
— Odete? — Indagou Charlotte.
— Finalmente a encontrei. Venha depressa, os Campões retornaram e seu pai está à sua procura.
— Mais já?
— Sim, venha. Asia está entre eles. — Falou, abrindo passagem entre os galhos e folhas enquanto segurava o braço da jovem de volta para a cidade.
Charlotte era conduzida por cada minúsculo espaço contra sua vontade. A beleza dos pássaros e das flores silvestres capturava sua atenção como se fosse a primeira vez. Elas se esgueiravam das pedras em cada pequeno espaço e, nos espaços abertos, repletos de árvores, caminhavam diligentemente. O sol que brilhava sobre suas cabeças banhava a pele da jovem com calor intenso, e enquanto aquecia a superfície de sua pele, ela encontrava consolo no brilho límpido do seu olhar.
— Me conte! O que o meu pai quer dessa vez? Eu não estou em Trajes Nupciais. — Reclamou.
— Não se apresse, Charlotte. Ele não me disse do que se tratava. Isaac também retornou e eu ainda não o vi.
— O que eu estava pensando quando disse que queria alguém como o Asia para me casar? Maldita hora... Maldita hora. — Lamentou. — Agora não consigo parar de pensar sobre isso e sobre o que meu pai está prestes a fazer.
— Estar apaixonada por ele faz com que seja natural querer a benção do seu pai, ainda quando ele é o Imperador.
— Eu não quero falar sobre isso com você! — murmurou ela, escondendo o rosto na medida que caminhava mais depressa entre as árvores.
— Por que não? É porque o Isaac e eu somos parentes?
— Porque eu sei o quanto você e todos têm tentado fazer com que eu me apaixone por ele.
— Não estamos tentando, Charlotte... Só consideramos que Isaac venha ser um homem melhor para você e, não Asia.
— Você não está se referindo ao sangue real, está?
— Não precisamos comentar sobre isso agora, estamos atrasadas. — Retrucou, recordando a voz do Imperador que a instava a se apressar.
O caminho encurtava a cada pequeno passo, mesmo que propositalmente Charlotte retardasse sua chegada, refreando seus passos para olhar as borboletas amarelas que dançavam em pares pela senda apertada. O hino dos campeões recém-chegados já ecoava à distância. O coração da jovem donzela inflamava-se à medida que ela se aproximava da cidade dourada; seus pés mal tocavam o chão e, embora desejasse ardentemente permanecer por mais algumas horas em sua cabana, ela era atraída para os olhos negros de Asia; como se tivesse enfeitiçado os seus.
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As cinzas da Grécia
RomanceO passeio de trem pela Europa torna-se assustadoramente a viagem dos sonhos, quando Charlotte, comemorando seu aniversário transforma-o em uma descoberta de novas emoções, desejos e ambições. Charlotte, arrumada com seu itinerário, segue com determi...