ᑭᖇÓᒪOGO

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À medida que o sol se põe na Grécia, as ruas da cidade ganham uma nova vida. 

Os românticos gregos contam que, em noites de lua nova, quando apenas as estrelas adornam o céu, um canto melodioso ecoa das antigas ruínas antecedendo o surgimento de um portal para uma realidade alternativa. No entanto, esses eventos não foram reconhecidos como reais, pois houve quem dissesse que tais acontecimentos só ocorriam como um presságio, precedendo o aniversário daqueles que se deleitam ao buscar por novas aventuras em uma dessas ruas.

Esta rua é conhecida como Rua do Bordo, e é no centro desta via de pedras e poeira que Charlotte será lançada através de um portal mágico.

Na semana que precedia seu vigésimo quinto aniversário, Charlotte Blake se esquivava dos sentimentos que a mantinham presa a Asia, o CEO da empresa onde ela atuava como secretária pessoal. Essas férias haviam sido planejadas desde seus seis anos de idade e nada, nem ninguém, poderia impedir que elas acontecessem; nem mesmo a causa do seu colapso existencial.

O itinerário começava na França, seguia com um passeio de barco pela Suíça, rumo a Florença na Itália, e então, prosseguia de trem para a Grécia, o destino final. Em algum momento da infância, alguém havia escolhido com ela os meios de transporte para aquela viagem e revelado os mistérios do Castelo de Areia, onde ficariam hospedados durante a estadia na cidade. Contudo, o único resquício daquela memória era o itinerário e uma marca, ao qual acreditava com firmeza que se tratava de uma invenção.

A viagem de barco foi prazerosa em todas as maneiras possíveis de se descrever. Florença ainda era o melhor destino. Tudo naquela cidade havia despertado algo magnífico dentro dela, desafiando-a a almejar por muito mais. Cada pegada que ela deixava naquele lugar, mesmo que fosse eventualmente apagada pela chuva, dava-lhe a sensação de ter deixado sua impressão, o que a tornaria parte de cada rua, viela, restaurante e da própria cidade. 

"Os lugares que visitamos retém tudo sobre nós, Charlotte, mesmo que nunca mais o visitemos." Disse alguém certa vez, e como esperado, ela se manteve naquele pensamento. Mesmo mantendo-o como um conceito distante, ela acreditava em cada palavra dita inconscientemente.

O balanço no trem, que em tempos passados lhe causaria suspiros de indisposição, agora, diante das paisagens que se desdobravam além das amplas janelas, aqueciam seu coração com uma segurança que a arrancavam de sua zona de conforto, ainda presentes sobre seus domínios. Seu aniversário se aproximava e seu espírito ansiava pela magia do Castelo de Areia, um palácio que agora servia como uma encantadora pousada; levando-a de volta no tempo. Enquanto sua mente se concentrava no itinerário, seu coração vasculhava as memórias em busca do autor de cada detalhe daquela viagem. Asia não havia sido liberado para embarcar junto aos seus pensamentos; seu número de telefone até havia sido bloqueado como medida preventiva. Aquele homem havia, sem sombras de dúvidas, causado um certo dano em seu peito, e ela temia que qualquer contato com ele pudesse arruinar a viagem dos seus sonhos, mesmo que fosse apenas ouvindo o som da sua voz.

A solidão do vagão de trem foi eclipsada pela beleza lá fora. Pelas pessoas que compunham aquela cena e pelo seu desejo inabalável de ter a melhor experiência de aniversário através daquela jornada. Em algum momento, ela perceberia que muitas das cenas que veria após a travessia por aquele invisível portão mágico, já haviam sido gravadas dentro dela, como se a história tivesse sido escrita e perpetuada nas estrelas, testemunhas da inocência e da certeza daqueles futuros eventos.

Ao pisar finalmente em terras Gregas, Charlotte teve a certeza de que não retornaria para casa sendo a mesma pessoa. Ela havia jurado O Castelo de Areia, mas nada poderia prepará-la para as futuras possibilidades; para o encanto, a beleza e até mesmo o romance que a encontrariam além das Cinzas da Grécia. Naquela noite, ao repousar a cabeça no travesseiro perfumado de lavanda, ela percebeu, entre os lençóis brancos que o seu romance com Asia havia terminado. Pois algo diferente à sua posição a encontraria na manhã seguinte, em seu vigésimo quinto aniversário.

As cinzas da GréciaOnde histórias criam vida. Descubra agora