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ELEANOR HUGHES

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ELEANOR HUGHES

          No nosso mundo, nosso destino é traçado no nascimento. A filha de um fazendeiro vai se casar com o filho de outro fazendeiro. A filha de um comerciante vai casar com o filho de outro comerciante. A filha de um rei vai casar com o filho de outro rei. A vida segue dessa forma.

Certamente existe a possibilidade da filha de um fazendeiro se casar com o filho de um comerciante. Um acontecimento possível, ainda que extremamente raro. A grande maioria veria essa união como uma sorte grande ou como um amor que pode ultrapassar as barreiras sociais.

Bobagem.

Uma coisa que aprendi desde pequena como uma Hughes foi que somente poder pode causar uma mudança tão relevante. E ele existe de diversas formas. Poder social, monetário, político. Até mesmo a beleza é um poder. Combine dois deles e você pode chegar longe.

Foi assim que mamãe subiu um degrau na escadaria social aszrianesa. Um dote atraente e uma beleza estonteante foram mais que o suficiente para que pedidos de casamento se amontoassem em sua mesa. Homens ricos e homens desesperados por dinheiro. Todos se amontoavam ao seu redor para garantir uma dança com ela.

Em sua temporada ela roubou as atenções. Era o centro de cada baile, com seus cabelos dourados iluminados pela luz de velas, brilhando e capturando a atenção de todos sempre que um pretendente a fazia girar durante uma valsa. Seus sapatos de cristais ficaram marcados na história da moda.

A mulher mais bonita e encantadora que esse país já conheceu.

Uma imagem tão bem calculada que ninguém imaginaria que ela, sua mãe e seus dois irmãos estavam afundados em dívidas. Como poderiam acreditar em tais boatos ao verem a bela Sofia Hughes desfilar com vestidos finos, joias valiosas e um sorriso caloroso e despreocupado em seu rosto. Certamente não era como alguém afundado em dívidas deveria parecer.

Ainda assim, o casamento dela era a última esperança de sua família. Mamãe não conseguiu o título de nobreza que tanto desejava, mas os Blackwood eram uma família respeitada e extremamente rica. Quando papai surgiu, era como se suas preces fossem atendidas. Os Hughes deixaram de ser os fazendeiros pobres do oeste aszrianês e se viam no topo do nosso círculo social.

Essa era a história que mamãe me contava aos pedaços, quando reunia coragem após algumas taças de vinho. Juntei parte por parte com o passar do tempo até que fizessem sentido na minha cabeça.

E Tio Charles, o irmão mais velho da mamãe, tinha planos igualmente grandiosos para meu casamento. É impossível a filha de fazendeiros se tornar parte da alta nobreza, mas aos olhos de titio, não parecia impossível a filha de um comerciante rico, que vem de uma família tão antiga e tradicional, conseguir se casar com alguém com um título.

— Precisamos pensar no casamento de Eleanor. — titio disse, certo dia, durante uma de suas reuniões com mamãe para o chá.

Nunca consegui esquecer sua reação. A xícara ficou congelada em meio ao ar, os olhos azuis estudaram os arredores, garantindo que todos os criados estivessem distantes o suficiente de nossa mesa.

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