10 Eduardo

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A MUDANÇA PARA A CASA NOVA foi mais tranquila do que eu esperava. Não precisei levar nada além de minhas roupas e objetos pessoais ou artigos de decoração e arte. A casa estava equipada com tudo, então apenas passei a tarefa de vender meus móveis antigos para um corretor, que também cuidaria do aluguel.

Para Heloísa, por sua vez, foi ainda mais simples. Ela morava com os pais, então não tinha nada específico para levar além do pessoal, porém, isso foi o que eu soube por Kênia, porque não procurei conversar com ela depois que aterrizamos de volta ao resort.

A casa tinha quatro quartos e três suítes, mas apenas um quarto com varanda. Deixei a varanda para ela e me instalei no quarto mais afastado no corredor, mas parecido em espaço em comparação aos outros. Um quarto ficava embaixo, que estava mobiliado como escritório, mas havia um sofá-cama preparado para quem quisesse dormir ali, e os outros três quartos no andar de cima, com portas bem separadas porque o corredor não era propriamente um corredor estreito, mas um hall largo com cadeiras de apoio ao redor.

A privacidade dos quartos e da estrutura das paredes, que não deixavam o barulho de um quarto ser ouvido no outro, não me passou despercebido. Quanto mais afastado de Heloísa e mais silencioso fosse, melhor.

Depois da mudança, voltei a minha rotina das sete horas da manhã até às... Sem horário para voltar. Às vezes voltava meia-noite; outras vezes, dez horas. Às vezes ia para academia antes do trabalho; outras vezes, depois. Nunca chegava cedo, sempre saia cedo. Praticamente não via Heloísa.

Se eu não exagerasse, a via apenas em algumas manhãs quando entrava na cozinha e ela já estava lá, tomando café ou mexendo em seu notebook na bancada de mármore. Eu não sabia o que ela fazia ou se ela sequer trabalhava, apenas a via ali, pegava o que tivesse que pegar e saia. Às vezes a via na volta, quando ela ainda estava na sala e eu voltava para casa.

Se fosse sempre assim, seria bem fácil conviver com ela... Mas estávamos falando de Heloísa e quando que com ela algo era fácil ou simples?

No quarto ou quinto dia de "convivência" morando sob o mesmo tempo, cheguei meia-noite e antes que eu colocasse meus dois pés para dentro da casa, ela falou, da sala:

— Falei com Totó hoje... A margarida resolveu aparecer.

Se havia alguém que me tirava mais do sério do que Heloísa, era meu irmão.

Caminhei em direção à sala, a encontrando sentada no sofá, com as pernas cruzadas encarando uma televisão de plasma presa ao painel da parede, mas que estava desligada.

— Onde ele estava? — perguntei, parando ao lado do sofá, a encarando em seu baby-doll, que era mais um de seus vestidos curtos, deixando à mostra suas pernas e braços. — Ele ainda não falou nada comigo, esse...

— Ele se casou. — Dessa vez ela me olhou.

— O quê? — Alterei meu tom de voz. Que tipo de piada era aquela?

— O Babaca Junior se casou.

— Junior? Quem é o...? Esquece...

— Você, claro. Você é o Master e ele é o Junior. — Heloísa se levantou e bateu no meu peito, enfurecida. Pego desprevenido, dei um passo para trás, quase em falso pela força dela. — O idiota se casou!

— Eu também quero arrebentar a cara dele, mas preciso entender essa história — falei. — Que porra é essa? Como?

— Aparentemente ele saiu para uma despedida de solteiro, claro... E bebeu todas, claro... E casou com uma mulher... Ficou com medo de voltar para casa, casado e de ressaca, claro, e sumiu.

O Caminho Ao LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora