Parte 01

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Olívia olhava para o teto, observando as sombras dançarem conforme as luzes dos carros atravessavam sua janela.

O barulho de uma gota caindo em um copo cheio dentro da pia suja do café da manhã somava-se aos pingos que vinham do chuveiro. Aquilo era um verdadeiro inferno.

Bufou e levantou-se, vestiu um moletom qualquer e calçou seus tênis de corrida. Já que não conseguia dormir, ao menos correria até que conseguisse fugir de seus problemas.

E, se ela dependesse disso para parar, correria até a eternidade.

Olhou para o relógio da cozinha, que marcava 02:38 da manhã. Correr naquele horário parecia uma péssima ideia, mas ela estava a ponto de explodir e não podia dar-se ao luxo de deixar que seu psicológico interferisse na grande corrida, não quando faltavam apenas dois dias.

Perderia o patrocinador se, por qualquer razão, faltasse em outra competição. Seu agente garantiria o fim de sua carreira.

Saiu de seu apartamento tão rápido, que o porteiro mal teve tempo de estranhar sua presença. A rua estava vazia naquele horário e ela empregou toda sua força e fúria; correu como se sua vida dependesse disso.

Correu tão rápido que as luzes dos postes tornaram-se um borrão difuso. Ela gargalhou com aquela sensação e o vento gelado batendo em seu rosto a fazia sentir-se viva.

E então um baque surdo, uma espécie de estalo e uma queda violenta que a fez ralar o rosto.

- Mas que merda! - ela gritou furiosa, tateando o corpo em busca de algum ferimento mais grave.


Ali quase não havia luz vinda dos postes, era muito escuro e o céu estava pesado e denso como se fosse chover a qualquer minuto.

O ar tinha um cheiro estranho, metálico e ocre. Olívis tinha a sensação de que não devia estar ali.


Levantou-se, não reconhecia o lugar em que estava, talvez tivesse entrado em alguma rua que não conhecia.

O prédio que estava em sua frente parecia ser centenário e, ainda sim, era novo para ela. Todos os prédios ao redor pareciam seguir o mesmo padrão.


Balançou a cabeça. Talvez tivesse corrido tão rápido que chegou a algum bairro antigo e periférico que nunca havia estado.


Retrocedeu alguns passos para ver no que havia tropeçado e um arrepio percorreu suas costas e nuca.


Havia uma enorme, pesada e enferrujada armadilha para ursos ali, no meio da calçada.

Sua sorte foi estar correndo tão rápido que acionou a armadilha sem ficar presa a ela.

Corrida MortalOnde histórias criam vida. Descubra agora