Olívia olhava para o teto, observando as sombras dançarem conforme as luzes dos carros atravessavam sua janela.
O barulho de uma gota caindo em um copo cheio dentro da pia suja do café da manhã somava-se aos pingos que vinham do chuveiro. Aquilo era um verdadeiro inferno.
Bufou e levantou-se, vestiu um moletom qualquer e calçou seus tênis de corrida. Já que não conseguia dormir, ao menos correria até que conseguisse fugir de seus problemas.
E, se ela dependesse disso para parar, correria até a eternidade.
Olhou para o relógio da cozinha, que marcava 02:38 da manhã. Correr naquele horário parecia uma péssima ideia, mas ela estava a ponto de explodir e não podia dar-se ao luxo de deixar que seu psicológico interferisse na grande corrida, não quando faltavam apenas dois dias.
Perderia o patrocinador se, por qualquer razão, faltasse em outra competição. Seu agente garantiria o fim de sua carreira.
Saiu de seu apartamento tão rápido, que o porteiro mal teve tempo de estranhar sua presença. A rua estava vazia naquele horário e ela empregou toda sua força e fúria; correu como se sua vida dependesse disso.
Correu tão rápido que as luzes dos postes tornaram-se um borrão difuso. Ela gargalhou com aquela sensação e o vento gelado batendo em seu rosto a fazia sentir-se viva.
E então um baque surdo, uma espécie de estalo e uma queda violenta que a fez ralar o rosto.
- Mas que merda! - ela gritou furiosa, tateando o corpo em busca de algum ferimento mais grave.
Ali quase não havia luz vinda dos postes, era muito escuro e o céu estava pesado e denso como se fosse chover a qualquer minuto.O ar tinha um cheiro estranho, metálico e ocre. Olívis tinha a sensação de que não devia estar ali.
Levantou-se, não reconhecia o lugar em que estava, talvez tivesse entrado em alguma rua que não conhecia.O prédio que estava em sua frente parecia ser centenário e, ainda sim, era novo para ela. Todos os prédios ao redor pareciam seguir o mesmo padrão.
Balançou a cabeça. Talvez tivesse corrido tão rápido que chegou a algum bairro antigo e periférico que nunca havia estado.
Retrocedeu alguns passos para ver no que havia tropeçado e um arrepio percorreu suas costas e nuca.
Havia uma enorme, pesada e enferrujada armadilha para ursos ali, no meio da calçada.Sua sorte foi estar correndo tão rápido que acionou a armadilha sem ficar presa a ela.
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Corrida Mortal
NouvellesConto. Olívia é uma corredora experiente, porém encontra-se com dificuldades em sua jornada. Certa madrugada, quando resolve sair para treinar, Olívia descobre que há um mundo paralelo muito mais sombrio do que seus piores pesadelos. Ela precisará e...