— Você não vai encostar um dedo no meu filho!
E foi nesse momento que eu esqueci que minha mãe estava bem na minha frente usando apenas uma calcinha e uma camiseta extra grande e tentava impedir o traficante de drogas mais conhecido de Bay Creek de arrebentar a minha cara.
Agora que toda a adrenalina passou o único sentimento que me passeia pelo meu corpo é o medo, eu não acabei de quebrar o nariz de qualquer pessoa, eu acabei de quebrar a porra do nariz de Marco Frey.
— Olha o que esse merdinha fez com o meu nariz, eu vou matar você. — Ele diz completamente furioso e tenta mais uma vez partir para cima de mim, outra vez minha mãe o impede.
— Já disse que você não vai encostar nele, agora vai embora daqui.
Por um momento um silêncio reinou entre nós três, ainda sinto meu punho doer, mas vê-lo ali com a mão no nariz e com o rosto todo cheio de sangue é muito melhor. Mas o olhar dele encontrando o meu faz com que todo meu corpo se arrepie.
Acho que eu acabei de assinar o decreto da minha morte, posso sentir um ódio tomar conta dele quando ele passa pela porta ainda com a mão no nariz na tentativa de parar o sangramento. Sou surpreendido com um leve tapa na cabeça, minha mãe me olha furiosa.
— Ficou maluco? — ela diz cruzando os braços.
— Eu não acredito que você deixou esse cara entrar aqui e ainda... — Tento achar a palavra certa mas não consigo formular mais nenhuma frase, parece que estou anestesiado.
— Foram dois anos difíceis e durante esses dois anos eu precisei fazer coisas que não me orgulho pra que hoje a gente pudesse reerguer aquele maldito bar.
Sinto raiva em suas palavras, a mesma raiva de quando o meu pai falava pra ela sobre o bar quando ele era o dono, quando ele ainda estava... vivo. Ainda me lembro de quando ele chegou em casa dizendo ter uma supresa para gente, naquele momento eu jurei que iríamos morar em um lugar longe de Bay Creek que sempre foi o desejo de minha mãe e principalmente de minha avó. Mas ele nos surpreendeu realmente, mas de outra maneira, nos mostrando as chaves do novo estabelecimento que havia comprado e que iria reformar para transformar num bar.
O famoso Piper's Bar se tornou um verdadeiro refúgio para os moradores desta ilha. Aos poucos minha mãe foi se acostumando com essa ideia e quando meu pai se foi ela pensou muito se venderia ou daria continuidade, então optou por continuar com o bar.
É só ir acariciando aos poucos, no final ela sempre cede.
Era o que meu pai dizia sobre minha mãe, como ele se sentiria se a visse agora? Se visse Marco Frey em nossa casa e principalmente em sua cama com a sua mulher, minha mãe?! Juro que sinto algo subir por minha garganta, tenho vontade de vomitar.
— Preciso tomar um pouco de ar. — Digo depois de observá-la arrumando os cabelos bagunçados em sua penteadeira.
••••
Decido ir comer alguma coisa na lanchonete para esvaziar minha cabeça e tentar apagar aquele ocorrido da minha mente. Mas a maneira como minha mãe enfrentou o Marco me deixou surpreso, nenhuma outra pessoa deste lugar seria capaz de falar num tom de voz alto com ele, todas as pessoas tem medo dele por aqui, e eu sou uma dessas pessoas. Por mais que eu o odeio não só pela cena de hoje como também pelo que ele fez meu pai passar, eu não seria capaz de enfrentar ele da maneira como minha mãe o enfrentou.
Diana Piper mudou demais durante esses dois anos.
Assim que chego na lanchonete fico observando a entrada do local e puxo no fundo de minha mente os momentos que eu tive com o meu pai, a gente comendo nossa torta de banana favorita e o hambúrguer que sempre pedíamos com bastante cheddar. Também me lembro das vezes em que terminava de surfar e via comer aqui com meus amigos.

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Segredos No Paraíso
Teen FictionBem-vindos ao verdadeiro paraíso que é morar na pacata e litorânea Bay Creek, com seus poucos moradores, um famoso campeonato de surf que ocorre todo verão e agora o seu primeiro assassinato. Durante dois anos morando longe com sua avó careta tentan...