MOTIVES - YIZHAN

VII

19h54min

Xiao Zhan estava ocupado demais, prestando atenção totalmente ao que fazia. Sua postura invejável continua ereta, e seus dedos eram ágeis e rápidos, parecendo pouco desinteressado ao que acontecia ao seu redor. Sabia que seu trabalho o exigiria tudo de si nos próximos dias, então ele aproveitaria os dias livres, não duraria muito. Tinha em mente absolutamente todas as suas responsabilidades, e não falharia. Talvez, não apenas como líder, como também como esposo. Queria se permitir deixar seu bloqueio um pouco aberto para Yibo, pois não queria constrangê-lo ou fazê-lo se sentir indesejado enquanto eles morassem juntos.

Xiao sentiu uma presença atrás de si, mas não parou o que estava fazendo, sendo uma sensação de estar sendo observado afundar seu coração e ele sentir-se estranho. Mas não olhou para trás, apenas perguntou em sua mente o que diabos Yibo estava fazendo ali parado, não parecendo ter outros movimentos. Xiao suspirou, e levantou sua cabeça.

"Você precisa de algo, Sargento Wang?" Perguntou, soando um tanto quanto formal e ríspido, ainda sem olhar. Quando não teve resposta imediata, ficou um pouco impaciente. "Tem algo que queira me dizer?" Questionou, e finalmente teve a impressão que o outro havia saído do lugar em que ficava. Se aproximando mais, dando passos curtos, um por um. E achou aquilo perturbador.

Xiao de repente parou, agarrou a faca que segurava com força, fazendo seus dedos doerem pela ação, e seus batimentos acelerarem pela adrenalina criada. Confessaria que ele estava com uma pulga atrás da orelha, desde que ouvia a porta principal ser aberta e, quem ele pensava ter sido o autor, não ir o cumprimentar. Contudo, decidiu deixar aquilo para trás e seguir sua tarefa, como se quisesse confortar a si mesmo com a ideia de estar sendo paranóico em demasiado. Não queria perder a cabeça, ou achar que todos que passavam por ali era um suspeito. Assim como não queria se sentir inseguro na própria casa, era o lugar que ele vivia, onde devia sentir confiança.

Tomou uma dose de coragem e olhou para trás - um pouco relutante - e quando o fez, sentiu-se tonto e cambaleou. Não havia ninguém lá, além dele mesmo. Ele bateu os cílios, e soltou o ar que prendia.

"Eu estou ficando louco?" Disse. "Não... eu senti alguém... não é possível..." Voltou a agarrar a faca firmemente. Quem quer que estivesse naquela casa, continuava ali. Ele não poderia estar sendo tão paranóico, não, sentiu a presença de outra pessoa naquela cozinha.

Com a raiva crescendo em seu peito, ele se virou e saiu daquela cozinha em passos rápidos, desviando de qualquer móvel em sua frente e com a faca sendo firmemente agarrada por sua mão direita. Seus batimentos estavam fora do normal, e ele podia sentir aquilo, já que o barulho era o único que ele conseguia ouvir diante da escuridão silenciosa. Ele começou a apontar o objeto para todas as direções que andava, conforme seu medo desaparecia gradualmente, firmando aquele objeto leve em suas mãos mais uma vez. Se tivesse que atacar ou se defender, ele o faria sem pensar duas vezes. Não poderia vacilar.

Sua sala, assim como toda a casa, estava escura e com sinais mínimos de luz. Xiao se sentia mais confortável daquela forma, por essa razão raramente ligava luzes desnecessárias. Bom, ou era assim antes de tudo começar, já que o fato de não conseguir enxergar direito o atrapalhava de uma forma indescritível.

Quando finalmente conseguiu controlar mais sua respiração, Xiao apertou os olhos e acalmou seu coração frágil, vendo como tudo restou em silêncio por vários minutos, enquanto ele permanecia ali, naquela mesma posição, até finalmente abaixar a faca. Caminhou até o sofá do centro e ali se sentou, levando a cabeça até suas mãos, que descansava em seus próprios joelhos.

[...]

Quando a porta se abriu, Yibo passou por ela e conforme entrava, ligava algumas luzes que encontrava. Tinha noção que Xiao não gostava tanto de claridade, e respeitava aquilo, porém era impossível enxergar algo já que não havia ao menos uma lâmpada acesa. Deixou as duas bolsas que carregava em cima de uma pequena mesa ali perto, se certificando de não deixá-las de qualquer forma, e quando se virou, notou alguém deitado no sofá, com as duas pernas para fora do mesmo.