Prólogo

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A noite rugia como um leão faminto enquanto a tempestade se tornava mais intensa. A desconhecida encapuzada adentrou na taberna mal iluminada, pendurando sua capa no gancho. A jovem sentou-se num banco em frente ao balcão e observou o lugar. Alguns homens bebiam ao canto, falando alto e gargalhando. O vento batia nas janelas e elas tremiam. O lugar cheirava a vodka barata e a porco assado com especiarias. Estava quase vazia, de fato, a chuva não deixaria ninguém chegar ali. Um homem corpudo e com a barba por fazer se aproximou:
– O que temos por aqui? - riu, o hálito forte - A senhorita vai querer alguma coisa? Talvez o prato do dia, o porco assado da minha esposa conquista qualquer um.
– Não, obrigado. Preciso de algo leve. - ela ponderou por um momento - Uma sopa de legumes, por favor. Ou uma rabanada acompanhada de um copo de leite quente.
– A senhora que sabe.
Ele foi até a janela que dava para a cozinha e gritou:
– Uma rabanada no capricho e um copo de leite quente!
– Certo! - uma voz feminina respondeu.
A jovem remexeu na bolsa. Tinha pouco dinheiro. Não iria durar muito. O homem a olhou, notando seu semblante preocupado.
– Senhorita. - limpou a garganta, se apoiando no balcão - Ninguém vem a essas bandas no meio de uma tempestade por causa do meu assado.
Ela fechou a bolsa e o encarou.
– Tem razão. Estou procurando emprego, mas pelo visto não acho nada.
O homem desviou o olhar e coçou a barba.
– Há um sclhoss, não muito longe daqui, pertencente a um homem muito rico. Está sempre a procura de criados, especialmente mulheres.
Os olhos dela brilharam de esperança. Ela se voltou para ele, endireitando a postura.
– O senhor sabe me dizer se eles ainda estão procurando criados? - perguntou.
– Ah, sim. - ele riu - o barão de Axford é bem exigente pelo que eu ouvi. Mas não recomendo que a senhorita vá trabalhar para ele.
– Por que não? - ela indagou.
O homem hesitou. Seus ombros ficaram tensos e coçava o cabelo.
– As jovens que vão trabalhar lá desaparecem misteriosamente e nunca mais são vistas. - declarou, trêmulo - Há boatos de o barão seja um vampiro.
A moça franziu as sobrancelhas e conteve um riso.
– Bem, mas eu realmente preciso de um emprego, ou não vou sobreviver por muito tempo.
Ele torceu as mãos.
– Certo, mas depois não diga que não foi alertada. Agora coma e depois discutiremos isso.
Ele empurrou o prato de rabanada e pôs um copo de leite em sua frente, e os olhos da moça brilharam.

Quando a chuva se fez mais amena, ela montou em seu cavalo e seguiu as instruções do taberneiro.
– Vá pelo caminho mais largo até avistar uma clareira. De lá, você verá um portão. Ele é a entrada para o terreno do sclhoss.
A moça assentiu, segurando as rédeas em uma mão e a lanterna em outra. Ela ergueu o capuz sobre a cabeça, sentindo a chuva aumentar.
– Muito obrigada pela ajuda. Diga a sua esposa que a comida dela é excepcional. - declarou, contendo o cavalo que estava agitado.
O homem balançou a cabeça.
– Tome cuidado com os lobos. A floresta é traiçoeira. E fuja de lá imediatamente se notar algo estranho.

A moça sorriu e o homem sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Logo, ela partiu a galope, desaparecendo na densa floresta enquanto a tempestade voltava a rugir. O uivo dos lobos era abafado pelos trovões e a noite era iluminada tão somente pelos relâmpagos.

– Que Deus te acompanhe moça. E que Ele te proteja do que quer que a espera naquele lugar.

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