☙ Capítulo IV ❧

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Everest

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Depois de ter a certeza de que Jade permaneceria dormindo, tomei uma dose extra de cuidado ao me desvencilhar dela e saí do quarto, deixando o abajur em meia-luz para que o ambiente não caísse em um breu profundo. Ela detesta escuro.

Voltei à cozinha, mas minha avó já havia terminado a louça e saído de lá. Eu cheguei a me virar para ir até o quarto da minha mãe vê-la, mas me retesei ao ouvir o sonzinho característico do videogame na sala de estar. Só havia um integrante dessa família que estaria jogando videogame à uma hora dessas.

— Oi, Res. — Lorenzo me olhou ligeiro assim que me aproximei. Na televisão, um jogo simulando uma partida de beisebol me causou um leve arquear de lábios.

Meu irmão é completamente apaixonado pelo esporte. É quase um fissurado. O dia mais feliz da sua vida foi quando descobriu que o Boston Red Sox inaugurou um centro esportivo filantrópico em Edgartown, há um ano. De lá para cá, Lorenzo se inscreveu no time infantil e comparecia religiosamente aos treinos, toda terça e quinta à tarde. Era o ponto alto da sua semana.

Ao passar pela pequena mesa ao lado da porta de entrada, abri uma gaveta e tirei o livro que, depois de embalado, escondi ali. Sabia que o certo seria entregar apenas no dia seguinte, mas não aguentaria esperar até lá para ver a reação do garotinho que, diferente da irmã caçula, era uma cópia escarrada minha. Do cabelo loiro cacheado aos olhos verdes, Lorenzo Wilder era a minha versão alguns anos mais e nova e um pouco mais rebelde.

— Como vai o melhor arremessador de todos os tempos? — perguntei, pulando o encosto do sofá e me jogando ao seu lado.

— Eu não sou o melhor arremessador do mundo — respondeu sem me olhar, vidrado no jogo. — É Walter Johnson.

— Mas vai ser um dia. O meu favorito já é.

Suas bochechas coraram.

— O que é isso aí na sua mão? — Desviou o assunto, claramente tentando esconder a vergonha por ser elogiado.

— Isso? — Olhei para o livro entremeado em minha mão direita, o virando algumas vezes. — Ah, é só um presente.

— Para quem?

— Walter Johnson.

Lorenzo me olhou sem entender nada.

— Você sabe que ele morreu há uns duzentos anos, né?

— Ele morreu há oitenta e oito anos.

— Tanto faz. Por que vai dar um presente para ele?

— Porque é um presente para o melhor arremessador do mundo inteiro, ué. — Dei de ombros, vendo um sorriso rasgar o rosto do meu irmãozinho. De pronto, ele largou o controle com o jogo sem pausar e voou em mim. Tão rápido quanto, ergui a mão e garanti que Lorenzo não alcançaria o embrulho. — Ei, se aquiete ou vou entregar o presente só amanhã, seu pestinha!

Ele parou com as mãozinhas ligeiras de um futuro pitcher e se endireitou no lugar. A expectativa flutuava no verde de seus olhos.

— Quem é o melhor arremessador de todos os tempos?

— Eu!

— E quem é o meu favorito?

— Eu! — repetiu, apertando a boca para tentar esconder o sorriso gigantesco.

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