Capítulo um

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Millie’s pov.

Eu acho que nunca odiei tanto um despertador como o de Saks.

Sério, qual o sentido de acordar uma hora antes do horário previsto para se arrumar para correr? Sim, correr. Às vezes, até na chuva. Ficaremos molhadas e suadas de qualquer jeito. Não tem porque acordar cedo demais.

Minha colega de quarto — e melhor amiga —, Sakshi, decidiu que é uma ótima ideia colocar o celular para despertar em um volume altíssimo.

Dois coelhos numa cajadada só, eu e ela.

Se eu fosse uma duquesa, condessa, baronesa ou sei lá o que, eu, com toda certeza, pegaria esse Iphone Rose Gold e jogaria do outro lado do quarto. Entretanto, sou americana e não tenho a renda de nem mesmo o barão mais pobre de todas as partes da nobreza.

E, obviamente, estou mentindo. Nunca jogaria o iPhone de ninguém do outro lado do quarto. Mesmo que seja a coisa mais irritante do mundo e mesmo com todo dinheiro do mundo.

— Saks, pelo amor de Deus, coloca esse troço mais baixo. Diferentemente de você, tem gente aqui querendo aproveitar os poucos minutos de paz antes da corrida da morte.

Não é uma corrida da morte real. Mas é bem parecida.

Nos fazem correr em volta da escola — que é imensa, se quiser saber — todo dia, às seis da manhã. Chuva e cocô de ovelha, aparentemente, não são um problema para a diretoria do colégio.

— Deixa de ser preguiçosa, Millicent. — Minha amiga rebate, já em pé, aparentando estar completamente disposta para o dia. — No início das aulas você acordava até mais cedo.

— É diferente. — Tiro o travesseiro do meu rosto. — No começo, eu estava cheia de ansiedade e disposição. Agora, o peso dos estudos até tarde e de acordar cedo está me matando.

— Sabe do que você precisa? — Sakshi pergunta, se aproximando da minha cama. Seu pijama rosa brilhando com a luz forte de seu abajur.

— Dormir mais? — Minha amiga revira os olhos e puxa meu cobertor. Eu faço um barulho parecido com um rosnado de gato e me encolho.

— Passear. Ter uma palinha da vida na Escócia. Conhecer as coisas. Sentir o ar das terras altas. — Ela aponta para mim. — Isso, minha querida Millie, vai fazer você se animar. — Eu aceno com a cabeça, indicando que Sakshi, talvez, estivesse certa. Um sorrisinho de formando em meus lábios. — Agora, vambora. Levanta dessa cama.

O sorrisinho se fecha na hora.

Saks me obriga a me arrumar e, depois de muito tempo, descemos para fazer a corrida matinal. Por sorte, não está chovendo. Entretanto, isso não tira a horrível experiência que é correr em plenas seis da manhã.

Não sou uma odiadora de exercícios físicos, mas isso é ridículo.

— Acho que hoje eu morro. — Perry diz, ao meu lado. O senhor McGregor, o jardineiro, continua gritando com os outros adolescentes, então não se ligou que eu e meu amigo paramos de correr. — Eu te disse desde o começo. Querem nos matar. É um colégio assassino.

— Eu sei disso, Perry. — Respondo. O ruivo coloca a mão no peito e se apoia em uma árvore, sugando o ar com força. Quero imitá-lo, mas sei que não conseguiria mais me reerguer se fizesse isso. — Sempre concordei com você.

— O sedentarismo é algo horrível. — Sakshi aparece, repentinamente, atrás de mim, me dando um susto e me fazendo dar um gritinho fino. Ela nega com a cabeça, um sorriso divertido em seu rosto. — Continuem correndo. — Saks ordena. — O senhor McGregor está vindo pra cá.

A "Princesa" Também Pode Ser Salva Por Uma GarotaOnde histórias criam vida. Descubra agora