CORDÉLIA ACORDOU COM UM SOBRESSALTO, o corpo todo tenso, como se estivesse prestes a cair de um penhasco, a respiração veio curta e irregular, o quarto girando levemente ao redor dela, por um momento, tudo estava borrado. O som do vento batendo contra a janela, o murmúrio distante de algum aparelho eletrônico. Mas, pouco a pouco, a realidade se firmou. Ela não estava mais no pesadelo, mas a sensação de perigo, de urgência, ainda pairava no ar, como um peso sobre o peito.Ela piscou várias vezes os olhos tentando se ajustar à penumbra. O quarto — o mesmo em que cresceu — parecia diferente agora. Não que algo tivesse mudado de verdade. As cortinas cor de vinho pendiam pesadas ao lado da janela, o espelho oval refletia apenas a escuridão, e o cheiro familiar de madeira antiga enchia o ar. Mas havia algo... deslocado. Talvez fosse o que o pesadelo havia deixado para trás, aquela sensação de que as coisas nunca estavam realmente seguras.
Cordélia jogou as pernas para fora da cama, os pés tocando o chão frio. Ela se inclinou para a frente, os cotovelos nos joelhos, as mãos segurando a cabeça por um instante, tentando afastar o pânico que ainda a assombrava. Fechou os olhos, respirou fundo. Mais uma vez. Dessa vez, a respiração saiu mais devagar, mas o medo... ele ainda estava lá.
Lembrava-se vagamente do sonho. Sombras. Figuras que a seguiam. O sorriso de alguém — ou algo. Torcido, como se estivesse rindo dela. Como se soubesse de algo que ela não sabia. Um arrepio percorreu sua espinha, mesmo agora, acordada. Não era apenas um sonho, ela sabia disso. Era um presságio, um aviso.
Levantou-se, o corpo ainda pesado de cansaço, mas a mente alerta, inquieta. O corredor fora de seu quarto estava envolto em escuridão, mas ela ouviu o leve rangido da casa, o som abafado de alguém se movendo no andar de baixo. Quem estaria acordado àquela hora? Cordélia espreitou pela porta entreaberta. Tudo parecia imóvel, mas o silêncio... não era exatamente silêncio. Era o tipo de quietude carregada, cheia de tensão.
Ela desceu as escadas com cuidado, os degraus rangendo sob seus pés descalços, cada ruído parecendo amplificado na casa adormecida. O coração dela batia rápido, como se soubesse que estava prestes a descobrir algo que talvez não quisesse.Cordélia alcançou o térreo e parou por um momento, olhando ao redor. A sala de estar estava mergulhada na escuridão, as cortinas pesadas bloqueando qualquer luz externa. Apenas a silhueta dos móveis era visível, sombras que pareciam estáticas, mas ela tinha certeza de que havia alguém ali. Ela sentia isso. Cordélia quase deixou o copo cair ao ver Joseph parado na porta da cozinha, a sombra dele projetando-se no chão iluminado pela luz fraca da lua. Ele a encarava com seus olhos sempre frios, a postura rígida e imponente, como se não fosse possível ser de outra maneira.
— Você me assustou — murmurou Cordélia, a voz hesitante.
Joseph a observou por um segundo que pareceu uma eternidade antes de soltar um suspiro curto e ríspido.— O que você está fazendo acordada a essa hora? — A pergunta saiu com a mesma impaciência de sempre, como se a presença dela fosse um incômodo.
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Sombras Da Noite
Vampire𝓢𝓞𝓑 𝓐 𝓝𝓔́𝓥𝓞𝓐 𝓔𝓣𝓔𝓡𝓝𝓐 𝓠𝓤𝓔 𝓒𝓞𝓑𝓡𝓔 𝓐𝓣𝓗𝓔𝓝𝓦𝓞𝓞𝓓, Cordélia Morrigan retorna à cidade onde vive sua mãe, uma escolha que a lança em um universo repleto de mistérios obscuros e segredos ancestrais. Entre as florestas densas e as...