CAPÍTULO TRÊS

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Cordélia observava em silêncio, os risos e conversas à sua volta parecendo distantes, abafados, como se ela estivesse assistindo tudo debaixo d'água

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Cordélia observava em silêncio, os risos e conversas à sua volta parecendo distantes, abafados, como se ela estivesse assistindo tudo debaixo d'água. O círculo de sorrisos, abraços e brindes se fechava cada vez mais ao redor de Melinda e Joseph. Eles eram o centro das atenções, como sempre, mas agora com um novo ingrediente para aumentar o brilho: o bebê que ainda nem havia chegado, mas já ocupava todo o espaço. Cordélia sentia uma pressão crescente em seu peito, uma sensação de isolamento que parecia se aprofundar a cada risada que ecoava pela sala. Ela tentou respirar fundo, mas a dor da solidão se instalava ali, firme, como uma sombra que a envolvia por completo.

"Talvez, quando o bebê nascer, eles se esqueçam de mim de vez", pensou, sentindo uma risada amarga subir por sua garganta. Mas a verdade era ainda mais cruel. Se agora eles não se importam, depois que o bebê chegar... eu vou desaparecer completamente. O pensamento deixou um gosto amargo na boca, e Cordélia levou o copo de refrigerante até os lábios, bebendo um longo gole para tentar afastar o nó que se formava em sua garganta.
Foi nesse momento que um som familiar chamou sua atenção. Um ding suave, quase imperceptível, mas que a tirou de seus devaneios sufocantes. Pegou o celular, escondendo-o sob a toalha de mesa para evitar olhares curiosos. Desbloqueou a tela e viu a mensagem de Dafney piscando na tela:

"Festa na casa do Chris. Tá a fim?"

Cordélia mordeu o lábio inferior, ponderando. Uma festa... A ideia era tentadora. Ela sabia que ninguém ali notaria sua ausência, e estar longe daquela sala cheia de expectativas seria um alívio. Sem hesitar muito, começou a digitar sua resposta:

"Claro, pode contar comigo."

Disfarçando, Cordélia se levantou da mesa, seus movimentos foram calculados para não atrair muita atenção. No entanto, ela sentiu o olhar penetrante de Melinda antes mesmo de ouvi-la falar. O cabelo ruivo da madrasta balançou quando ela virou a cabeça, com os olhos brilhando de um jeito quase falso.

— Onde você vai, querida? — Melinda perguntou com um sorriso doce, mas Cordélia podia sentir a cobrança oculta naquelas palavras. Não era uma pergunta, era uma exigência de explicação. Aquele "querida" soava como um ácido disfarçado de mel.

Cordélia respirou fundo antes de se virar, contendo a irritação. Querida, ela pensou com sarcasmo. Era isso que Melinda sempre fazia, usava termos carinhosos para disfarçar o controle que exercia sobre tudo e todos. — Vou ao banheiro, querida — devolveu, com um sorriso tão falso quanto o de Melinda. Se o sarcasmo foi notado, ninguém disse nada, e ela não ficou para descobrir.

Com o celular vibrando novamente no bolso, Cordélia caminhou lentamente pelo corredor, seus passos ecoando nas paredes da mansão. O som das risadas e da conversa se tornava mais distante, até que ela finalmente se viu sozinha, longe da festa. Ela leu a nova mensagem de Dafney:

"Estou aqui na frente."

Apressou o passo, desviando dos empregados que estavam ocupados com a cozinha, e saiu pela porta dos fundos. O ar da noite era fresco e revigorante, um contraste bem-vindo com a atmosfera sufocante dentro da casa. Contornou a mansão imponente e finalmente avistou o carro de Dafney. A amiga estava encostada no capô, os cabelos castanhos presos em uma trança lateral que descia até seu ombro. O prendedor de borboleta brilhava sob a luz da lua, dando a ela um ar despreocupado.

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⏰ Última atualização: Oct 16 ⏰

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