97.

51 6 4
                                    


LEONARDO

Semanas se passaram. Não foi do dia pra noite que paramos de citar o nome June nas nossas discussões. Ele ficou presente ainda por um tempo, explícito, enfático e dito principalmente pela Neena. Com ela as coisas se complicavam por detalhes pequenos e pra alguém ceder levava quase uma vida.

Até que numa tarde aleatória, enquanto eu acabava um trabalho, me dei conta de que tudo isso tinha de fato ficado pra trás. Mais uma fase chata passou e agora estou bem com todos os meus amigos. Claro que é questão de tempo pra que outra situação caótica aconteça, até porquê a vida em si se resume nisso.

Mas pelo menos até sair da escola com um boletim decente, pretendo me manter longe de problemas. Por mais fúteis que sejam, ainda são problemas e mexem com a cabeça de qualquer pessoa.

Hoje é sábado e eu tô na casa da minha namorada Liz. A mãe dela vai passar a noite fora e isso é uma boa notícia pra gente, óbvio. Segunda faremos a primeira das provas finais, pra assim terminarmos o ensino médio. Eu sei, eu mal me importei com o colégio e perdi as contas de quantas vezes já colei, então aprender as matérias na correria não tá sendo nada agradável — muito menos fácil.

Elizabeth não é uma boa professora.

— Eu tô quase ficando com dor de cabeça. — ela bate a cabeça nos livros.

— Já tá bom, né? — digo após um suspiro, tô tentando me manter mais calmo que ela.

— Ainda faltam três páginas pra chegar na última parte do resumo. — Liz reclama, levantando a cabeça.

Ela está sentada no chão, de frente pra mesinha de centro da sala. Nossos materiais espalhados pelo cômodo e eu largado no sofá.

— A gente termina amanhã.

— Você entendeu tudo que eu expliquei? — a garota me encara seriamente.

— "Tudo" é muita coisa, amor. — sorrio de canto, ela solta uma risada tensa e irônica.

— E "nada" também não se encaixa nesse caso, né? — franze a testa.

— Claro que não. Eu entendi algumas coisas, mas teria entendido mais se você fosse menos nervosa.

— Nervosa? Eu? — Liz tampa sua caneta e joga a mesma dentro do estojo.

— Não, minha vó. É você mesma. — retruco. — Pra quem quase nunca cola, a senhora tá muito preocupada. Estranho...

— Me erra, menino. — Liz começa à organizar sua parte e logo levanta pra ir até o quarto guardar tudo.

— Liz. Elizabeth. — chamo por ela, ainda no sofá. Olho pro Bob Marley deitado no tapete e o cachorro me encara de um jeito estranho. Claro que ele tá do lado da mãe dele. — Liz!

— Que foi? Tô aqui. — ela reaparece.

— Não vai contar mesmo o que te aborrece, dessa vez? — questiono, vendo a loira afastar meus materiais e posicionar o enfeite no centro da mesinha.

— ...Eu só tô com medo, Leo. Medo de ser adulta. — Liz desabafa, ainda de costas.

— Você é mais adulta que eu. — brinco, arrancando um riso dela. — Ei. — puxo-a pela mão, logo consigo trazê-la ao meu colo. — Não dê atenção à paranóias.

𝐄𝐑𝐑𝐀𝐃𝐎𝐒, leonardo dicaprioOnde histórias criam vida. Descubra agora