Leonardo e eu estamos conversando há um tempão. Óbvio que o clima está estranho e em algum momento entraríamos no seguinte assunto:
— Por que você acha que ainda não transamos? — pergunto curiosamente, apoiada na escrivaninha do quarto dele e o vendo deitado em sua cama.
— Por sua causa. — o loiro dá de ombros, fuçando no botão de sua bermuda.
— Minha?! — questiono, impressionada.
— Sim, Elizabeth. — Leo me olha com obviedade. — A escolha é sua, depende de você.
— Depende de nós dois, isso sim. — corrijo.
— Não.
— Sim! — persisto. — O que um não quer, dois não fazem.
— Mas é isso o que eu tô dizendo. Por mim já teria rolado, mas eu tô respeitando o seu tempo.
— Você fala como se eu fosse virgem. — reviro os olhos.
— Tá agindo como uma. — ele retruca, grosseiro. Ogro. — E nem é só isso, também tem a falta de espaço. Sempre acontece algo pra interromper, atrapalhar. Algo não, alguém.
Imediatamente lembro de um dia desses, estávamos na minha casa e a minha mãe tinha saído. Mal começamos à tirar a roupa e ela chegou reclamando que seu compromisso tinha sido remarcado.
De fato, toda vez algo acontece. Mas agora nós estamos sozinhos e esse imbecil tá aí largado sem fazer nada. Pelo que Leonardo tá dizendo, ele acha que eu ainda não estou pronta pra transar com ele.
Por que homens são assim, meu Deus? Ou apressados demais, ou lerdos demais.
— Então tá. — quem dá de ombros agora sou eu. Se ele quer "respeitar o meu tempo", beleza. Vamos ver até onde isso vai, porque eu acabo de ter uma ótima ideia.
— Ficou brava? — as sobrancelhas dele se juntam.
— Claro que não. — sorrio sem mostrar os dentes, antes de dar as costas e começar à mexer nos itens da escrivaninha. — Fico feliz que me respeite tanto...
— ...Isso foi sarcasmo? — ouço o tom desconfiado dele.
— Dá pra parar de fazer perguntas? — peço, calma. — Não tô brava e muito menos sendo sarcástica.
— Aí é novidade pra mim. — Leo ri.
— ...A sua mãe não chega nunca? Já tem horas que estamos aqui e nada dela. — olho de canto pra ele.
— Só mais tarde, Liz.
— Você disse isso há séculos. Mais tarde, quando?
— Depois das dez. Satisfeita? — Leonardo levanta e vem até mim. Ele me abraça por trás e beija meu ombro. — Por que quer saber isso?
— Eu tô entediada. — minto.
— Hm. Entediada? — ele murmura perto do meu ouvido, minha pele se arrepia mas eu me contenho.
— Claro. Já que não existe a possibilidade de transarmos, porque eu não tô pronta ainda... — entro no personagem que ele criou.
— ...Tá falando sério? — Leonardo me larga e fala como se não tivesse insinuado isso minutos atrás.
— Tô. Então, meu querido, acho bom você continuar se masturbando. — eu me afasto e caminho pra fora do quarto.
— Elizabeth. — ele me chama enquanto me segue pela casa. — Liz!
Vou até a cozinha e abro a geladeira, pegando a tigela com cerejas que Irmelin disse ter comprado pra comermos quando eu estivesse aqui.
Me sento à mesa e coloco a primeira cereja na boca. Vejo Leonardo me encarar, esperando que eu diga algo, mas eu só consigo permanecer indiferente. Mordisco a fruta, desafixando-a do cabo. Faço isso olhando o garoto, que parece aborrecido.
— Estamos tendo um conflito de casal? — dou uma risadinha em provocação, ele se escora no armário de frente pra mim e cruza os braços.
— Não, né? Você tá tão calminha. — Leo debocha. — Só queria saber o que eu fiz de tão absurdo pra te deixar assim.
— Assim como? — a calda da cereja escorre um pouco pelo meu lábio inferior, eu lubrifico o mesmo e sinto o gosto forte e adocicado.
— Irritada, Elizabeth. Eu te conheço.
— Me conhece e não tem ideia do que possa ser?
— Elizabeth. — me repreende.
— Eu não vou repetir. — suspiro. — Dá pra esquecer essa sua desconfiança um pouco e me fazer companhia? Eu sou visita, caso não lembre.
— Tá bom, visita. — Leonardo assente após uma gargalhada e logo se senta junto à mim.
Comemos mais cerejas juntos e tempo depois, voltamos ao quarto dele. Antes que eu diga que estou entediada de novo, Leo dá sugestões e mostra várias coisas que ele tem pra passarmos o tempo, nos ocupando. Ele tentou me agarrar, mas eu o afastei e isso o aborreceu mais uma vez.
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