Capítulo 11

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A cabeça de Andras, que parecia ter o rosto completamente branco e um chapéu índigo por cima, pertencia a um pássaro chamado "garça noturna". Ele tinha algumas penas brancas finas, estendendo-se desde a ponta, até um pouco abaixo das costas, de modo que parecia mais elegante do que casual.

(Ah, entendi, é uma garça)

Agora que pensava nisso, lembrava-se da garça na festa daquela noite. Embora, naquela ocasião, estivesse vestida com um terno azul-acinzentado com muitos enfeites espalhados por toda parte, então a impressão geral que teve dela foi a de alguém bastante elegante, mas com uma figura robusta e digna. A "tia rica" da família, pensou.

Quando foram levados para a sala, ela se sentou ao lado de sua mascote no assento em frente a Satanakia e Hideo, e começou a esticar suas enormes penas como se estivesse tentando se acomodar. A mascote tinha seus belos cabelos negros trançados para a frente e usava um vestido amarelo de gola. Sua pele era muito mais branca que a de Hideo e seus traços eram de ascendência caucasiana. À primeira vista, ele pensou que definitivamente era ocidental.

Embora estivesse usando uma coleira de veludo e uma fina corrente de ouro que chegava às mãos de sua dona, ela não parecia estar oprimida e na verdade, até ficou satisfeito por não estar sendo puxada para lá e para cá para ficar quieta. A condição de Satanakia para o encontro foi:"Durante a visita, os humanos devem usar a mesma mesa, a mesma cadeira, a mesma louça e comer a mesma comida."

Quando encontrou os olhos de Hideo, a garça semicerrou seus belos olhos azul-acinzentados e sorriu. Dando um gole no chá, começou a falar em linguagem demoníaca e disse:

"Conheci Lottie no mundo humano."

"No mundo humano!" Ele pensou. "Então, ela pode ir e vir entre o mundo humano e o mundo dos demônios à vontade?"

Satanakia olhou para ele. A curiosidade que ele sentia parecia tão evidente em sua linguagem corporal.

"Desculpe", disse Hideo, inclinando a cabeça em um gesto de desculpa ao perceber que havia se inclinado tanto em sua direção a ponto de encostar na mesa."Soa muito emocionante, por favor, continue."

"Naquele momento, Lottie foi traída pelo seu amante e estava terrivelmente perturbada. Invocou um demônio para se vingar do seu ex e acabei sendo eu quem apareceu."

"Vingança... Que terrível."

"Certamente."

A história continuou, então ele involuntariamente direcionou sua atenção para Lottie. Era provável que ela tivesse a mesma idade de Hideo, mas também parecia um pouco mais velha. Parecia delicada e bonita, e de qualquer forma, por momentos ele achou até um pouco complicado de entender. Quase como se estar rodeada de monstros o tempo todo tivesse lhe dado uma aparência que ele não conseguia decifrar. Mais endurecida.

András continuou falando:

"Meu trabalho era fácil, mas no último minuto aconteceu que ela não conseguiu matar seu ex-amante. Pensei que sua arrogância e estupidez eram adoráveis, então, como era de se esperar, reescrevi o contrato que ela me deu e a trouxe aqui comigo em vez de tirar-lhe a alma. No começo, ela estava debilitada e tremendo, mas quando vi que ficava mais bonita graças aos meus cuidados, não pude deixar de me sentir tão comovido a ponto de querer continuar."

"Entendo."

Hideo apenas assentiu. Afinal, ele não sabia como reagir de forma que não parecesse estar exagerando demais ou, pelo contrário, parecesse muito desinteressado com a situação. Além disso, achou que era o melhor a fazer, pois "matar" e "tomar uma alma" eram coisas completamente aterrorizantes e ele não queria se envolver muito nisso. Afinal, mesmo que parecesse alguém elegante, aquele lugar ainda era um mundo demoníaco e a criatura diante dele era um monstro que poderia usá-lo como sobremesa se assim desejasse. Levando a mão emplumada à bochecha, Andras suspirou:

Estou sendo amado por um monstro de outro mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora