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Eu estava no meu escritório, a fumaça do meu cigarro preenchia o ar pesado com uma certa tranquilidade, como se fosse a última coisa que ainda mantinha um ritmo constante na minha vida. As coisas haviam saído do controle. O carregamento de armas havia sumido na semana passada, e meu império estava com o orgulho ferido.
Eu não aceitava falhas. Nunca. Isso não fazia parte de quem eu era, nem do legado que eu tinha construído. Mas o que mais me incomodava não era o roubo em si, e sim o silêncio que o cercava. Ninguém sabia de nada, ninguém havia visto nada. E o submundo de Nova York sempre tinha olhos em todos os lugares. Era estranho demais. Alguém estava jogando comigo.
Aproximei-me da janela, observando o brilho das luzes da cidade, que se refletia nas ruas molhadas pela chuva fina. Meu instinto dizia que eu estava perto de descobrir o que havia acontecido, mas algo em mim hesitava. Desde que assumi o comando, sempre soube que um dia as sombras do meu passado voltariam para me assombrar. Só não sabia que seria agora.
— Chefe, ele está aqui. — A voz de Luca ecoou pela sala, me tirando dos meus pensamentos.
Assenti com a cabeça e apaguei o cigarro no cinzeiro, pegando meu casaco de couro preto. O encontro estava marcado em um dos galpões no porto. Quem tinha as informações sobre o roubo era conhecido por ser discreto, mas caro. A última peça do quebra-cabeça estava nas mãos dele, e eu estava disposta a pagar o que fosse necessário.
No caminho, Luca dirigia em silêncio. Ele sabia que quando eu ficava assim, era melhor não me incomodar. Meus olhos estavam fixos na estrada, mas minha mente revivia os ecos do passado. O massacre da minha família. Aquele sangue espalhado pelas paredes da nossa casa, a forma como eles foram brutalmente mortos. Eu sobrevivi por pura sorte, ou talvez destino. Desde aquele dia, eu fiz um juramento: vingança. E um nome estava gravado a ferro e fogo na minha alma: Vittorio Morelli, o desgraçado que liderava a máfia rival e que havia orquestrado o massacre.
Quando chegamos ao galpão, algo no ar estava errado. Meus instintos gritavam perigo, mas era tarde demais para recuar. Eu entrei, meus passos ecoando pelo chão frio de concreto. Lá estava ele, o informante, suado e nervoso, como sempre.
— Fale logo. O que você descobriu? — Minha voz soou firme, mas a tensão no meu corpo era inegável.
Ele gaguejou antes de me entregar um envelope. Abri o papel amarelado, e ali estavam as evidências: nomes, datas e o mais importante, o mandante do roubo.
Morelli.
Meu sangue gelou. Era ele. Vittorio havia mexido com meu negócio. Mais uma vez, ele cruzava o meu caminho. Mas o que me atingiu como um soco no estômago foi a última informação: ele sabia quem eu era. Ele sabia que eu sobrevivi. E estava brincando comigo esse tempo todo, como um caçador que se diverte antes do golpe final.
Minha visão ficou turva por um momento, mas rapidamente recuperei o controle. Não podia fraquejar agora. Morelli não sabia com quem estava lidando. Se ele queria brincar, então eu faria questão de ser a última coisa que ele veria antes de cair.
— Você vai me levar até ele — sussurrei para o informante, enquanto guardava o envelope no bolso.
Luca olhou para mim com preocupação, mas sabia que discutir comigo não era uma opção. A vingança estava tão próxima que eu quase podia sentir o gosto. E desta vez, eu não pararia até ver o sangue dele manchar minhas mãos.
Morelli roubou minha família, minha paz, e agora, ele pagaria o preço por tudo.
