2- Eu sou gay

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Resolvi que iria fazer os testes para a equipe de basquete, passei duas semanas treinando e fiz amizade com um dos caras do time que me auxiliou nos treinos, seu nome? Diego, e apesar de andar com Yuri, vive aconselhando o amigo a parar com aquelas falas para se aparecer e o mesmo não ouve. Hoje era dia de seleção, a seleção iria ocorrer às 17h antes do jantar, o jantar era às 19h, tínhamos tempo de sobra. Treinei alguns arremessos e logo o pessoal foi chegando. O treinador nos separou em times, as pessoas que mais se destacassem iriam entrar para o time da escola.
Yuri e eu não nos falamos desde que eu cheguei, ele praticamente finge que eu não existo e eu faço o mesmo, mas não pude deixar de notar seus olhares para mim como se quisesse conversar. De qualquer forma, acho que todos temos chance de mudar se quisermos ser melhor.
Na hora que a partida começou era equipe verde contra azul, na azul tinha a equipe principal e na verde da seleção. Acabou que joguei sozinho, pois os outros ao meu ver eram ruins nos passes e tive que instruir a passarem a bola. Ganhamos de 5 a 1 e só eu marquei a cesta, as vezes vinha 3 para me marcar, numa distância longa eu mirava e acertava. Yuri ficou me fitando ao lado do treinador, que atento analisava cada movimento meu. Por fim, foram aos resultados.
- Só tínhamos uma vaga no time titular, analisamos o jogo inteiro. Rodrigo Lacerda, você entrou pra equipe - Yuri anuncia e todos aplaudem - Quanto aos outros, tentem se esforçar da próxima vez.
- Obrigado, até que você não foi babaca dessa vez - Digo com ironia
- Parabéns, campeão, falei que você ia entrar - Diego me abraça sorrindo
- Aqui está a lista do uniforme que você vai precisar comprar e a taxa pra entrar no time e uma outra taxa dos custos de viagem para jogos inter estaduais contra outras escolas - O treinador me entrega - Bem vindo
Ao tudo 3,500 reais. Uma parte do dinheiro já ia só para os treinos, ia precisar trabalhar. Bom, fui para o vestiário tomar um banho e o pessoal do time me deu boas vindas. Tomei um banho e vesti uma roupa mais casual, bermuda bege, camiseta manga longa azul e sapatenis preto.
- Ei - Yuri aparece - Nós vamos numa pizzaria comemorar o início dos treinos, você vai?
- Depois de praticar transfobia com meu casal de amigos, ficar duas semanas sem falar comigo, você veio em pessoa me chamar para um evento do time? Qual é a emboscada da vez? - Pergunto incrédulo
- Quero ser seu amigo e não o contrário, mas isso só cabe a você. A gente pode entrar até às 23h na escola, o treinador pegou autorização pro time todo entrar meia noite, se quiser ir, vai - Ele me encara e sai.
Seria desconfortável para mim ir com ele para uma pizzaria depois da mancada dele com Guto, só que parei para refletir; e se ele estiver dizendo a verdade? Afinal, é evento do time, não tem nada demais nisso. Resolvi mandar mensagem para Sofia avisando o ocorrido, mas antes, fui atrás dele que já estava saindo do vestiário.
- Espera! Eu vou, só deixa eu colocar minhas coisas no armário do vestiário - Aviso
- Estamos te esperando no portão da escola, o guarda já sabe quem é do time e vai autorizar sua saída e entrada - Ele me olha e vira as costas novamente
Quando terminei de guardar as coisas, que era só o uniforme e o tênis de treino, fui atrás dele correndo e o alcancei. Fomos em silêncio até o pessoal que estavam escorados no portão da escola. Tinha uma pizzaria uns 10 minutos andando dali, Diego e eu fomos conversando e ele chamou Yuri para interagir, os outros rapazes do time me deram boas vindas e eu fiquei feliz com aquilo, eles eram legais até. Yuri era legal até, sabia puxar assunto, mas eu ainda tinha em mente o ocorrido de duas semanas atrás. Bom, chegamos na pizzaria e o treinador nos aguardava, pedimos 5 pizzas e 4 garrafas de 2 litros de coca cola. Foi uma noite legal, interagi com o pessoal e ao tempo todo Yuri e Diego puxavam assunto comigo.
Diego era um pouco mais baixo que eu, tinha cabelos castanhos e olhos castanhos e um bom porte físico, tinha um piercing na bochecha, ele era bonito até. Meu gaydar apitava com ele, mas não fiz nenhuma pergunta, e eu obviamente me sentia atraído por homens pelo o que vim analisando nas últimas semanas. Não sou bissexual, tô mais para gay mesmo. Minha irmã às vezes acho que é lésbica, mas nossos pais não nos aceitariam... Eu acho, meu pai é extremamente machista e homofobico, minha mãe é da igreja, aí já não sei.
Quando retornamos ao colégio, Diego foi comigo e Yuri até o corredor do nosso quarto já que ele era do corredor oposto ao nosso, me deu um abraço enquanto Yuri ia na frente.
- Amanhã você quer ir comigo no shopping assistir um filme depois da aula? - Ele pergunta meio tímido
- Claro. Bom, nos vemos amanhã, se quiser juntar junto com meus amigos amanhã no café...
- Combinado, até amanhã.
Ele sorriu e se retirou, fui para meu quarto e Guto estava dormindo, como o banheiro estava ocupado, troquei de roupa ali mesmo e vesti meu pijama do homem aranha, quando me viro, dou de cara com Yuri só de cueca. Ele tinha o abdômen trincado e estava sorrindo.
- O que você aprontou dessa vez? - Reviro os olhos
- Gostei de você.
- Devo esperar uma bomba nas minhas coisas ou algo assim depois dessa fala? - Debochei
- Amanhã converso com o Augusto. Vou dar trégua... Boa noite. - Ele deita na cama e se vira para a janela.
Resolvi dormir também, afinal, já estava tarde e o café da manhã se iniciava às 6h pois o horário havia mudado nas últimas semanas. O horário do intervalo também mudou, tínhamos 30 minutos de intervalo pois o horário diminuiu, agora estudavamos até às 14h para compensar com quem trabalhava e as aulas se iniciavam às 7h30, meia hora depois do café.
Bom, acordei às 5h30 com o despertador do quarto tocando, Yuri já havia levantado e estava fora do quarto, Guto estava se arrumando quando acordei.
- Bom dia - Ele sorriu
- Bom dia, Yuri falou com você? - Ele assentiu
- Me deu até pizza - Ele disse surpreso - Parabéns por ter entrado no time
- Obrigado. Vou tomar um banho e já vou lá tomar café.
Estava disposto a me assumir hoje, pelo menos para meus amigos. Seria importante, Iara era uma mulher trans, Tulio gay, Camila era lésbica e Babi bissexual (Bárbara), então creio que me aceitariam, o único hetero era Guto e minha irmã... Bom, eu acho. Tomei um banho rápido, vesti o uniforme e ajeitei o cabelo. Quando cheguei no refeitório, Sofia já tinha pego meu café; café preto e pães de queijo. Diego estava na mesa interagindo com eles, saímos de lá e fomos para nossa casa na árvore que ficava escondida no colégio e que só nós sabíamos onde era. Ela tinha TV com Netflix e alguns cobertores e um sofá de dois lugares. A mãe de Camila era dona do colégio e ela criou aquele espaço justamente para ela.
Assim que entramos, nos sentamos todos no chão e decidi me assumir após alguns minutos de conversa.
- Gente, decidi me abrir com vocês. Eu sou gay - Suspirei
- Já desconfiava - Camila sorri
- Eu estava conversando com a Iara esses dias e... Sou um homem trans - Sofia assume, mas para mim não foi surpresa, já para os outros...
- Como devemos te chamar? Não esperava por isso - Guto assume
- Alex - Minha irmã, ou melhor, irmão, disse
- Diego, não conta para o pessoal do time sobre a minha sexualidade - Suplico e ele sorri divertido
- Pode deixar, amigo.
Até que me senti aliviado e creio que Alex também. Foi bom ter aberto o jogo...

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